Louquética

Incontinência verbal

sábado, 26 de setembro de 2015

Deixe o amor passar


Ela, tão experiente e inteligente, ainda não entendeu que o amor é uma instância psicológica. Fica lá, besta, dando indiretas ao ser amado que a rejeitou, indicando que está tão bem, que está tão feliz sem ele, como se isso convencesse a alguém. Quando o amor passa, nem necessidade de indireta há, a indiferença se torna verdadeira.
Eu sempre duvidei de Drummond, com aquele verso "amar se aprende amando". Defendo que amar não se aprende nunca. Cada amor é um aprendizado novo, cujo conhecimento anterior na causa jamais serve, Olha lá, ela, experiente, com vários amores sólidos no currículo, reduzida a uma infantilidade indescritível. Ela, que passou por maus bocados em casamento, namoros...Deveria ser expert no assunto...mas não é: é frágil como uma criança e pouco suporta o peso esmagador que ele, o ser amado, exerce sobre seu ego.
Eu também passei por isso. Eu também insisti no que não dava, sofri, sonhei, fiquei sem entender...e eu não procurei, foi ele quem começou o flerte nunca concretizado, numa dessas minhas histórias assumidamente reais.
Ela se sente humilhada por amar um cafajeste, alguém que não sacrificou um pouco sequer dos seus impulsos de infidelidade para ficar com ela. Não, ele era sincero. Ele viveu as aventuras do troféu da novidade sexual que ela representava, depois deixou claro que não havia nada nela de especial ante as outras de que ele não iria abdicar.
Nesse caso, não adianta a distância, nem as  aventuras em outras paisagens:  ele está ali, na instância mental dela...onde quer que se vá. Ajuda muito ter iniciativa, ter vida própria, ter outras metas...Mas o tempo e a iniciativa de desviar o pensamento, cortar os hábitos, parar de concorrer com o cara, na ânsia de lhe provar o quanto se está bem, ou seja, deixá-lo na desimportância, são atitudes que aceleram o fim do sentimento.
Desconstruir na mente significa mudar os próprios hábitos:  parar de visitar a página dele, de incluir o contato diário na rotina, deixar de stalkear e de fazer perguntas sobre ele a outras pessoas ou, mesmo, abstrair se as informações aparecem de graça e, acima de tudo, apostar no tempo, aí sim, não garante resolver mas contribui demais para o esquecimento.
Mudar a si mesma, adotar outros modos de agir e , literalmente, não querer mais saber do ser amado, só isso, já representa,  no meu particular modo de ver, 75% de chances de esquecer o amado.
Enquanto há sentimentos, há insistência. Porém, quando passa e vem a sobriedade, a pessoa sempre se pergunta como foi capaz de amar aquela outra pessoa.
Nos amores correspondidos, uma vez estabelecida a relação, todo sacrifício é pouco para desfrutar da presença de quem se ama; os defeitos são detalhes interessantes; a feiura nem existe, é puro charme, tudo parece eterno...Aí o tempo transforma tudo em chateação, mal amparada pela necessidade de não estar só, vai se empurrando anos a fio a relação que já não satisfaz...Tudo passa! Vem a preguiça de ir ver a pessoa e a ausência dessa pessoa, ao invés de trazer saudades, traz alívio...E ainda assim, dificilmente alguém toma a iniciativa do término - eis o ser humano, É aí que se mede a coragem e é aí também que a pessoa nota que amores passam mesmo...se o saldo for bom, ficará a amizade; se a covardia for grande, fica-se para sempre com quem já não satisfaz, instaura-se o cansaço que somente os episódios de traição conseguem dar algum alívio. Nada disso nunca foi fácil. E tende a se repetir, porque sorte no amor é coisa difícil e se assim não fosse, é do ser humano o tédio...é o preço da ilusão de segurança e estabilidade.
Mas amor se alimenta de sonhos - os meus duram o quanto podem me fazer sonhar. Amor e pés no chão nunca formaram par...Já amor e pé na bunda, formam uma dupla inseparável.
Saia do caminho:  deixe o amor passar.
   

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