Há
uma razão simples para que todo mundo tenha segredo: o senso de autopreservação,
seja ele moral, psíquico ou da individualidade.
Se
não é caso de preservação é da reserva mesmo, porque todos nós temos o direito
de escolher quais de nossas experiências precisam, podem ou devem ser
compartilhadas.
Somente
hoje me dei conta da ocultação de um segredo meu frente a um grande amigo. Ora,
dois outros amigos meus, igualmente grandes e confidentes, estavam comigo na
ocasião geradora do segredo. Meus amigos também têm segredos, porque todo mundo
tem mesmo.
Um,
quando começou um namoro com um aluno, ocultou de mim. Não fossem as bandeiras,
próprias aos apaixonados, eu nunca ficaria sabendo por declaração dele que,
aliás, só veio a declarar em 2014/15, quando já havia acabado o romance.
Meu
amigo da citada questão, o que compactuou comigo, ocultou de mim o fim do
relacionamento dele, com um cara que eu adoro. Ah, sim, falando nos meus
amigos, é isso mesmo: todo mundo gay. As exceções não passam de quatro.
Então,
todo mundo tem segredo mesmo. Não significa que a gente matou alguém, roubou,
fez misérias...Segredo é segredo. Hoje eu pedi ao amigo para levar para o
túmulo o meu segredo. Sei que assim será.
Vou
fazer uma advertência aqui: se você tem segredos e precisa do silêncio alheio,
não o divida com ninguém, não escreva, não deixe pista. No máximo, confie a um
analista. Nem padre, nem pastor, nem amigos.
Amigo
confidente, somente aquele que vive de boca calada. Se a pessoa já e contou
segredos de outrem, ela passará o seu adiante também.
E
mais: se for amiga, a chance de ela vir a se tornar ex-amiga é muito grande,
quando há alguns indícios. Isso indica que não se deve compartilhar segredos
com tal pessoa. Desabafe com Jesus, ore, ou coloque uma cadeira vazia à sua
frente e simule um interlocutor e conte tudo a esse ser inexistente e
imaginário, mas não conte a ninguém. São indícios de que você poderá se dar
mal:
a)
Amizade
que teve idas e vindas, desavenças e reconciliações muito recorrentes;
b)
Compartilhamento
de segredos alheios com você;
c)
Ocultação,
dissimulação ou mentira sobre dados que essa pessoa tenha vindo a cometer e que
você percebeu;
d)
Instabilidade
emocional ou psíquica por parte do amigo ou amiga;
e)
Recorrência
de situações de conflito, em que o amigo ou amiga usa fatos de sua vida para
lhe subestimar, magoar, diminuir;
f)
Julgamento
constante de seus atos e pouca indulgência;
g)
Imposição
do próprio ponto de vista do amigo ou amiga, como sendo o certo, o modelo, o
exemplo;
h)
Hipocrisia
visível ou perceptível;
i)
Competitividade
com você, seja ela explícita ou disfarçada, pois, neste caso, seus segredos
serão usados para proveito próprio do amigo ou amiga, para se sobrepor ou
parecer superior.
Lembre-se que nem a
gente da família se deve confiar segredos de certo teor e importância.
Entretanto, os segredos da família devem permanecer na família.
Tenho pessoas de
confiança. Pessoas que têm minhas senhas, acesso à minha casa, aos meus outros
segredos e sempre as terei, porque essas formam um time.
Guardo um segredo de
uma amiga muito especial, que é trágico e lindo. É a encarnação real da
história de Hamlet. Adoraria compartilhar, devido ao conteúdo fantástico. Não o
faço. Prometi. Essa mesma amiga me confiou um segredo de vida íntima. Não
conto. Ela sabe. Nunca contaria.
Meu orientador de
mestrado, até dois meses atrás, não sabia do parentesco de um colega de
trabalho dele, com um outro professor poeta sobre o qual eu escrevi. Nenhum dos
dois sabiam o segredo que sei sobre um suicídio de um dos parentes dele. Nem
era segredo. Mas preferi calar. Só falei agora, dez anos depois, para
esclarecer umas coisas.
Não tenho segredo por
eu ser a pior pessoa do mundo.
Na minha dissertação,
não agradeci a Deus na página de agradecimentos: era a Deus que eu queria
agradecer, não exibir socialmente gratidões. Isso seria feio. Mas uma idiota desconhecida,
da plateia, reclamou de minha postura. Tenho segredos de meu contato com Deus,
porque é coisa minha e dele.
Há coisas lindas que
escondo, para não parecer exibida, Não vou, contar vantagens, felicidades que
podem incomodar, coisas que parecerão megalomania...Conto, claro, coisas
de amor que me surpreendem, espantos de
narrativas amorosas... E neste ponto, estou tranquila. Gosto do meu fofinho,
gosto do que se constrói.
Até minha atividade
profissional eu não atualizo no Lattes: nem sempre precisam saber em que temos
trabalhado, Há momentos em que certas informações não cabem.
Estando, pois,
felizes, dá vontade de colocar o outdoor e contar tudo, mas a felicidade silenciosa
dura mais e sabe qual é o segredo? Ter segredos.
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