Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Tecnologias dispersivas


Chamo de tecnologias dispersivas a todos os aparelhos e recursos que cooptam nossa atenção, levando a que declinemos de obrigações, metas e compromissos, a fim de nos dedicarmos a eles.
Lógico, especialmente o Facebook, o What´s app e a Netflix – em que caiba acrescentar todas as nossas fugas pela internet e no smartphone.
Não é possível estudar ou concluir (quiçá começar) um texto dividindo a atenção com as tecnologias dispersivas.
Elas são feitas para dispersar nossa atenção, porque as notificações, as mensagens e os conteúdos se sobrepõem uns aos outros, chegam aos bandos e, no caso das séries, escravizam pela ansiedade do próximo episódio, do desfecho de coisas até mesmo já vistas.
Interessante é ver tudo isso e assistir ao crescente emprego da Ritalina entre as pessoas. Como se pode ter atenção e foco se fomos e somos estimulados a zapear em tudo?
Dose. Quem sabe estabelecer a dose, não se embriaga. Eis uma saída.
Em minha vida não há nenhuma perspectiva de grandes surpresas, coisas inadiáveis ou recados que vão mudar os rumos de meu destino. Desta forma, se não acho que as mensagens que virão, por qualquer meio, sejam elementos transformadores, posso determinar ver depois ou que horas ver/ler.
Isso ajuda a controlar à ansiedade. E também ajudam a focalizar o que realmente é importante para mim, entre a tecnologia dispersiva e o que quer que seja.
Fico dias sem Facebook, mas não fico sem consultar meu e-mail.
Gosto de sumir, também.
Há capítulos da minha vida que eu não discuto em lugar algum, há fotos que eu nunca publico, lugares a que fui e que não divulgo, gente e trabalhos que fiz e faço e que omito de todos...Isso me diz que tenho controle sobre aquilo que quero que apareça.
Isso também me diz o que esperar dos outros e que eu não devo perder tempo com a vida de gente que não me interessa, pois aí, sim, estarei dispersando minha atenção, voltando-a a eventos fúteis.
Diferente disso tudo é o uso lúdico e útil dos recursos tecnológicos: se eu estiver com sono, abro o Facebook e o sono passa, para eu voltar à atividade; se a leitura me enche, vou ao Facebook espairecer com bobagens, uso o videogame, faço algo assim e o mesmo se aplica a todo o resto.
Mas também me disperso. A vigilância ao fato é que me faz retroagir, me policiar e me corrigir.
Da mesma forma que eu não faço questão de joias, não faço questão de tecnologia de ponta: quero um telefone que me permita telefonar, que tenha recursos úteis e que dure. Pronto. Juro que não estou nem aí para o S11, se houvesse, ou para os modelos milionários. Na minha vida real, não me acrescentam nada, exceto parcelas a pagar.
Não tenho e não terei microondas. Para quê? Inútil em meu caso.
Decerto, não tenho condições de ter um carrão, mas não quero um que seja um problema pagar o IPVA, o seguro, as peças, a manutenção...E que me torne alvo preferido de ladrão. Como não posso, procuro a opção possível que atenda minhas necessidades.
Não sei viver sem telefone fixo. Acho uma pobreza absoluta, acho que é estar abaixo da linha senão da miséria, da avareza, você não ter: é que celular não serve para tudo, não tem créditos sempre e traz uma série de limitações que, na hora do vamos ver, deixam você na mão.
Ainda falando de tecnologia e inutilidades práticas, vi umas fotos de amigas minhas, cuja imagem estava perfeita demais. Outras dessas imagens, estavam bem artificiais: a moça ficou parecendo um palhacinho plastificado; em outra foto, estava uma bonequinha...E estranhei  que no Facebook, de repente, todas estivessem maquiadas do mesmo modo. Ninguém confessa a tecnologia.
Por acaso, mexendo no smartphone, vi e baixei o IsntaBeauty: este foi o segredo da duvidosa beleza do povo do Facebook.
Experimentei: uma tragédia. O recurso é bom, sim, é um photoshop poderoso e setorizado...Mas os resultados são bem artificiais.
Bem, este texto também é uma forma de dispersão, porque acabei há pouco o meu trabalho, que me cobra muita atenção...E quis espairecer, porque vou precisar criar um texto científico daqui a pouco, para um evento.
Aos que se interessam pela minha semana, eis o boletim: mandei o crush de Seabra se catar; mandei o ex-Grande Amor da Minha Vida se emendar, não quero mais flertes bestas (ele já fez a escolha dele e eu não gosto mesmo dele...então, vamos deixar de complicação). Isso também é uma forma de dispersão: pulverizar a atenção afetiva e libidinal entre os flertes, para não se dar a ninguém, em especial. Cancelei o flerte com Vinícius e quem ainda não recebeu meu bilhete azul foi por conta de eu respeitar o momento das pessoas ou estar mesmo com pena. E o resto é pura poesia no corpo, nestas noites frias do sertão em quem habito – como não sou hipócrita, ratifico: “quando bate, fica”. Ficou. Não tenho vergonha de gostar de sexo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário