Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 29 de março de 2010

Viva la vida loca!


Olha, quem quiser fique aí fingindo que não tem uns acessos de perplexidade diante do encolhimento do número de heterossexuais. Eu, pela falta que sinto desta espécie em extinção, admito que o mundo parece é heterofóbico, isso sim.
O que me dá mais desconforto é lembrar de um certo homossexual de meu convívio, que ficava apontando quem, dentre os outros próximos, era gay. Rapaz, esse cara já morreu, e ele era língua maldita, mas não errou um diagnóstico, um prognóstico sequer.
E a gente ficava lá, achando que ele (o finado) é que queria taxar todo mundo, enquadrar todo mundo. Que nada! era o reconhecimento dos seus pares.
Aí, hoje, vou eu abrir a internet e dou de cara com a notícia de que Rick Martin saiu do armário. Ah, caramba! Oh, Viva la vida loca!
O mauricinho foi meu ídolo de infância, cara! o tempo todo eu desejei, heterossexualmente falando, uma biba. Bibíssima, purpurina pura! E o finado já havia falado isso! Ah, que droga!Não fosse o vexame de admitir que eu gostava dos Menudos - eu comprava figurinhas, caramba! - agora me vem essa boiolice toda. Ah, caramba!!!
E veja que este filho da mãe cantava Não se reprima. Olha só: "Não segure muito seus instintos/porque isso não é natural" e o miserável lá , enganando meu desejos, cantava outro trecho: "...Não controle, não domine,/não modere,/tudo isso faz muito mal,/Deixe que a mente se relaxe,/Faça o que mandar o coração".
Quantas décadas enganando a mulherada!
Onde há fumaça... há uma rosca queimando, pode crer. A dele, carbonizou!
Não é a diversidade sexual que causa o choque, pelo menos em mim: é a venda de uma imagem sexual totalmente mentirosa.
Acho o Rick Martin um artista incrível. Fisicamente, ele é um homem lindo! Mas, poxa, que embromation!
E agora, vem declara que é "um gay privilegiado". Blablablá!
Ah, eu tô retada porque não posso nem mais sonhar com ele! Até porque, seria lesbianismo.
Tudo bem que se ele fosse heterossexual, não iria me dar bola mesmo. Mas, agora, ele jogou areia nos meus sonhos. Como é que eu vou ficar tendo desejos por alguém que é gay? Isso aqui não é música do Hanói-hanói, não, baby: "...Namora sempre com gay/que nexo faz?/tão sexy e gay"! poxa, meu irmão, isso me desarmou.
Eu me sinto uma criança enganada!
E tanta gente por aí, dentre os meus amigos, enfrentando crises de identidade sexual, se encerrando em igreja evangélica, indo para o seminário, sonhando com cirurgia de redesignação sexual ou mostrando-se um ego-distônico sem a menor noção de si mesmo, pirando o juízo para tentar esconder ou frear a paixão por outros homens...
Não é nada fácil e tudo isso gera um transtorno de desordem de identidade - algo que escapa ao meramente sexual.
Apesar de tudo, ainda bem que o boyzinho saiu do armário.
Se para ele, que tem carreira consolidada, grana, influência e beleza, não é fácil se expor, imagine para os cristãos comuns, filhos de Deus - que aliás, são convencidos pelos verdadeiramente preconceituosos que não são filhos de Deus coisa nenhuma!
Ah, tá bom, Rick, Vie la vida loca también, maricón!

Meus grandes amores


Faltei à aula hoje à tarde, depois de um dia cansativo em que acordei às 06h45min, tentando ir à aula de Latim, mas desistindo lá mesmo na universidade.
Aí, hoje à tarde, fiquei em casa com os meus bichos. Alternava A República, de Platão, assunto da aula de amanhã lá na UFBA, com a atenção que os meus gatos pediam.
Fico abobalhada, içando um ratinho de pelúcia, para meus gatos ficarem brincando.
Gosto muito deles.
Pela primeira vez, minhas três gatas (únicas adultas do grupo) tiveram uma gestação, com intervalo, entre as mamãe-gato, de uma semana ou 10 dias entre elas.
Assim que os filhotes de todas haviam nascido, era uma confusão: elas sabiam quais os filhos delas, mas não se furtavam às aglomerações da amamentação. Resultado? 07 filhotes lindos, saudáveis, travessos...
Não entendo, ainda a atração deles pelos fios do home-teather, nem pelos porta-retratos de vidros, mas eles têm noção de que se eles causam barulho forte, vai pintar bronca minha. Espertos, se escondem.
O senso comum diz que há os que preferem os bichos porque têm medo de seres humanos.
A psicologia mostra, porém, que quem não é capaz de criar um bicho está evitando relacionamentos, isto é tem medo de qualquer espécie de relacionamento.E de relacionamentos com seres de qualquer espécie.
Tenho gatos, cachorros e galinhas: não é metáfora. E amo a cada um deles.
Para minha sorte, Raquel, minha vizinha, também gosta de bichos. Então, a gente se reveza no cuidado de muitos outros bichinhos deixados na porta da gente, enjeitados por aqueles donos escrotos que gostam do bicho enquanto eles estão sadios, ou enquanto são filhotes. Assim foi com Raika, que hoje tem um pêlo lindo, é saudável, amada e muito carinhosa.
Os bichinhos da foto são adotivos, isto é, eram meus mas foram morar com o pai deles - a partilha que acontece quando a gente desmancha os namoros. O cachorro é Belic, e eu tive que deixá-lo ir porque ele atacava minhas galinhas (elas são para existir, não para comer)e Lincoln, porque eu fiquei com toda a família de gatos, era justo que ao pai coubesse pelo menos um. O jacaré de brinquedo é o chamego de todos, mas também dei na partilha, para a casa do pai deles.
Se me perguntarem de verdade, eu direi que me encho com eles, que os latidos me irritam e me acordam, que miados demais me torra a paciência, que eu acho que o galo aqui de casa está desregulado (cantando fora da hora) e que eles me dão uma despesa monstro...mas perto do que eles me dão, não tem preço! a vantagem é toda minha.
Amo os meus bichos.
Dou graças a Deus por ter uma área de 727 metros quadrados para viver com eles. Todo mundo tem alojamento, tem lugar para correr, árvores para subir e minha rinite fica a salvo do convívio constante com os pelos, porque eles não dormem em minha casa, mas na casa deles.
Aprendo sobre convívio com eles. Aprendo muito.
Eles convivem com as diferenças deles: os cachorros convivem com os gatos e estes, com as galinhas...bem, sobra para as lagartixas e passarinhos, que são alvo de todos eles.
Então, beijos para Bruno, Raika, Andrezinho, Silvinha, Juninho, Ana tereza, Tereza Letícia, Lise, Mal educada, Gremlim I, Gremlim II, Frajoly, Renatinho, Panterinha e Dinny - meus amados bichos.
Tenho um amor infantil, tatibitate por meus bichos!

sábado, 27 de março de 2010

A gente pede festa


Meio indecisa, optei por ir ao último ensaio do Jau, na Garage - casa de shows daqui de Feira de Santana.
Para minha surpresa, a noite feirense estava bombando, e olha que era só uma sexta-feira: tinha festa no Massapê, no Megafest e em mais duas casas perto da Garage; fora os animadíssimos ensaios de São João lá no Kabana's, minha casa preferida para dançar.
Realmente, adoro festas. Mas festas para dançar, não gosto de eventos contemplativos.
E foi uma festa maravilhosa: Jau tem um repertório incrível, é um músico fantástico e sabe comandar a noite.
Onde, nesta vida, eu iria a uma festa para poder dançar Extra, do Gilberto Gil? reaggae maravilhoso!
E a música do Jau, que eu adoro, então? Sandália de couro:
"Não tem sapato que lhe calce, ela só gosta de sandália de couro, de sandália de couro, de sandália de couro...
De tênis, não vai;
De scarpin, não sai;
Descalço, machuca o pé;
O salto, lhe trai;
Tamanco, ela cai;
Sapato, lhe dá chulé..."

Eu amo esta música. E ainda me derreti de dançar ouvindo outras tantas que eu amo. estas, sim, a música baiana que me seduz - Vixe mainha e músicas do Ylê, passando por vários ritmos, como pop e MPB. O cara é show!
Eu tinha ido para o camarote. Como sempre, uma opção questionável, porque este apartheid nas festas dá a entender que é a gente quem quer se diferenciar.
Para quem compra lugar no camarote, espera, na verdade, ter mais espeço e conforto para dançar, mas, no caso do Garage, não foi assim: estava entupido de gente, o povo se acotovelava para garantir um lugar na sacada e sempre tem os povos que eu mais odeio sobre a Terra: os fumantes. Yes, eu odeio fumantes. Pena de morte para os fumantes!
Não faço discursos moralistas, não defendo idiotices super-saudáveis, mas o fumante nos obriga a compartilhar de um vício que é dele. Os incomodados são os que MUDAM, porque eu não quero ter que ME MUDAR por conta de gente que não contém seu vício em favor do convívio coletivo.
Desci do camarote e fiquei com a plebe, na segunda parte da festa.
Fui sozinha à festa, claro, mas não senti falta de ninguém. Logo, presume-se que eu saí para dançar... e dancei. Dancei até doerem os meus pés e eu escolher meu momento de ir embora - só lá fora é que eu ouvi Jau encerrando o show.
Como sempre tem alguém interessado em saber do contingente masculino, advirto que não, não tinha homem bonito - só uma ou duas crianças meio Jonas Brothers, que não me interessaram; uns Zé, classe operária e pé rachado, mulheres desesperadas, garotinhas de shopping, universitários donzelos, Mané Cannabis (maconheiros), Zè Roela, Periguetes, Encalhetes, Loiretes fashions, Bombadinhos de sexualidade questionável e gente normal (sim, eu sei: onde é que eu me enquadro?).
Outra coisa surpreendente: a Casa Mortuária Pax Cristo Rei patrocina a festa.
De ouvir isso, ali, ao vivo, comecei a rir feito uma idiota. Como é que pode a funerária patrocinar a festa?
Fica, dentro de mim, a impressão de que o patrocinador torce por uma briga sangrenta que resulte em homicídio, par angariar os lucros do funeral.
De outro modo, como seria? a gente vai à festa, ouve o nome do patrocinador e decide que, no momento de enterrar alguém, o melhor é contratar aqueles serviços da Pax cristo Rei, que eu me lembro de ter ouvido a propaganda numa festa a que eu fui.
Festa e funeral, só em Feira de Santana (bem existe um livro de João José Reis cujo título é A morte é uma festa, mas se refere aos ritos fúnebres e a disputa por lugares no atual cemitério do Campo Santo, em Salvador; também o autor com o qual trabalhei no mestrado tem um livro de poesias que se chama Festa e Funeral)
Coisa boa é ter lazer! Não aquele lazer idiota que faz você sair tirando fotografias para depois provar a si mesmo que se divertiu; nem outros falsos lazeres inventados, regados a muito sofrimento e dívidas posteriores. Esses, não.
Bom lazer é este de desligar tudo e ficar em paz, em casa. Ou, quem sabe, sair e dançar, ficar de "varejeira" no Rio Vermelho, sobrevoando o Largo de Santana, pousando no Desabafo e no Bondcanto - é no Bondcanto que eu quero comemorar meu aniversário. Como não abre na segunda (que dia para fazer aniversário, hein?), vou lá na terça, depois da aula. Sozinha, claro!a menos que o meu coleguinha de doutorado queira me acompanhar. Como eu não sei se ele é homem do sexo masculino, ele poderá ser minha nova melhor amiga ou meu mais recente interessado...não tenho muito a perder, não é?
Ainda estou sentindo o impacto do sono perdido ontem à noite, vou ficar quietinha em casa hoje, cuidando dos textos da aula de terça, que são um castigo - e pior, castigo em inglês, que tenho que ler.
Mesmo que eu me decepcionasse com a festa, teria valido a pena minha iniciativa de sair.
Como é bom ter liberdade e ter inciativa.
"Deixa eu dançar, para o meu corpo ficar Odara!"

sexta-feira, 26 de março de 2010

Das escolhas e das renúncias


Eu já parei para pensar, como dizem alguns, sobre as coisas que eu deixei de fazer e também tive medo de me arrepender por ter deixado de fazer algo que eu queria, mas que meu superego, minha prudência, meu moralismo, meus censores interiores falaram mais alto e me impediram de seguir.
Outro dia tive a prova de que me arrependeria de ceder às minhas carências ou de desafiar o bom senso: um aluno meu havia me ligado alta madrugada, supostamente cheio de álcool.
Não preciso ir longe para constatar que se trata de uma pessoa covarde.
a minha vida inteira eu fui cercada por homens covardes: meu pai sempre foi covarde, incapaz de enfrentar algum assunto familiar ou afetivo cara a cara; Marcelo era extremamente covarde, incapaz de assumir opiniões ou de tomar atitudes; D. é covarde, teme as trocas afetivas, mas sente muito a cada decréscimo de meus sentimentos por ele...aí vou e encontro um aluno covarde que se enquadra na mesma regra.
Bem, se passaram quase dois meses entre o telefonema inconveniente do sujeito e o seu pedido de desculpas.
Volto à mesma tecla: não namoro os meus alunos. Eu não ficaria confortável, não toleraria o contexto, não dá. Mas, enquanto ser humano, também acho meus alunos bonitos, atraentes, interessantes...claro, isso é raridade.
Só penso no processo fantasioso que povoou a cabeça dele, encontrando paridades entre nós, imaginado situações impossíveis, ultrapassando os limites da nossa relação: ele, a quem eu nunca toquei e a quem eu nunca abri um precedente para esses desvios.
Então ele me chamou de cretina, por tabela, é claro, pois reconheço que eu comecei, eu xinguei primeiro, educadamente, num contexto que dissimulou a agressividade, mas eu falei, não me contive; e ele me acusando de ter um bando de namorados.
Ah, meu Deus, como eu queria ter um bando de namorados.
Ah, como se ele não tivesse, por seu turno, seu compromisso - atenuado e disfarçado pela distância que ele impôs, porque é covarde o suficiente para não assumir a falência do relacionamento.
Não, meu amigo, eu não tenho ninguém.
Eu tenho é medo!
Eu tenho é preconceito, porque um colega de doutorado se mostrou todo interessado, mas eu não sei se é em mim ou se é pelos meus sapatos. Como cursar Letras e não questinar a masculinidade dos colegas? como é que vou saber se ele é homem do sexo masculino? eu tenho é medo!
Eu tenho tanto medo que nem fui ver meu loiro, nesta terça-feira. Fiquei na minha.
Passei então a ver duas coisas: a primeira é esta impressão que as pessoas formam sobre a minha vida.
Sim, minha vida tem muitos personagens masculinos: nenhum está comigo, são só histórias. Eu durmo só. Janis Joplin disse isso de si, não foi? "Passo a noite com muita gente, com a platéia, mas durmo só". Eu estou só.
Gosto das tensões sexuais, das coisas que nunca passarão de imaginação, não tenho vontade de realizar nada: a neurose da espera é bem melhor do que a decepção. Vide os casos Alexandre e J. P., após 04 anos de espera por cada um deles.
A segunda coisa é a seguinte: Minha amiga, minha melhor amiga, amiga-irmã, falou para mim, em tom de aquiescência e cumplicidade: "...Do jeito que você é vingativa!"
Poxa, uma coisa sou eu me dizendo vingativa. Outra coisa é minha grande amiga dizendo isso.
É, eu sou.
Mas minha vingança é revestida de justiça, não é gratuita.
Sei separar as coisas, mas gosto que me paguem exatamente aquilo que me devem.
E percebo que eu só tenho ciúmes de quem é importante para mim.
Isso me leva para um outro extremo, de coisas que eu observo: faz um bom tempo que tenho um outro amigo meu próximo, mas não íntimo.
Eu não via isso.
Eu não lia este direito que as pessoas têm de escolher em quem confiar e com quem compartilhar segredos. Assim, meu amigo próximo não é meu amigo íntimo. Isso mexeu comigo, muito.
Pelo menos, nada disso me magoa, mas me alerta: vou me transformando, me fechando, fechando minha boca, escondendo opiniões, aprendendo a ser como os outros são.
A sinceridade que pratico é interior, não é mais ostensiva: finjo não ver o que todo mundo sabe; finjo não ouvir o que todo mundo percebe; aprendo a construir segredos onde antes havia um infantil livro aberto.
Ando ocupada comigo mesmo, aprendendo a cuidar melhor de mim, a me priorizar.
Não quero estar na foto dos sorrisos falsos, das proximidades dos que se suportam por educação, no jogo besta das conveniências.
Eu não me arrependo do que não aconteceu: eu dou graças a Deus por não ter trilhado caminhos que me trouxessem dores de cabeça e ressaca moral.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Era uma vez...


Pois é, os tempos estão tão cavernosos que até princesas andam vendendo copos de cristal para a Revista Caras...imagine para mim, que já nasci plebéia.
Então Tati me diz que a gente tem que tentar o concurso do IFBA, porque os tempos não estão bons e a maré não está para peixe...
Ando em círculos, pensando nestas coisas materiais, fazendo cálculos, revendo faturas e gastos, no maior temor sobre esticar o dinheiro, com a cabeça quente porque não posso depender de ninguém e, para ser exata, nem teria de quem depender.
Devido às pressões externas, troquei o Meu querido canibal, de Antônio Torres, por As naus, de António Lobo Antunes, na pequisa de doutorado. Nesta troca de um Antônio por outro, estes dois Toinhos me dão o maior trabalho.
Inferno astral, babado e confusão em ter que ler as quase 600 páginas de um livro que a orientadora me emprestou, em ter que conhecer de verdade a Revolução do Cravos, a História de Portugal e as guerras de Angola pela Independência.
Infinitos documentários para ver, resumos para fazer, coisas a lamentar.
Como se fosse pouco, desorientou tudo que eu propunha antes e minha pesquisa voltou ao quase ponto zero - salvando-se as coisas da outra obra, que eu já tinha dado passos (Terra Papagalli)...
Terça tenho aulas - e só não lamento porque pelo menos vejo o meu Príncipe, eu que não sou princesa nem bateria de escola de samba... sem a menor majestade, de todo modo - e aí minhas aulas na UEFS começarão na segunda-feira próxima.
Putz, como é que eu posso manter um mínimo de sobriedade? sou aluna de graduação às segundas e quartas, de doutorado nas terças, sou professora de quinta a sábado e me sobra mesmo o que?
Ah, me sobram as pessoas me perguntando sobre a novela que eu não vejo, me sobra o meu mais recente ex-namorado que ainda não percebeu que acabou e que eu parti para outra faz duas semanas...
Pensando bem, eu acho que desta vez eu esqueci de terminar.
Nosssssssa: eu esqueci de terminar. Terminar formalmente. Ih, pensei que tivesse formalizado...
Ele manteve contato há pouco, estranhando o "meu sumiço"! Ora, até O sumiço da santa, de Jorge Amado, tem explicações...aí eu não explico o meu sumiço, deduzindo que ele sabia que já era carta fora do baralho.
Isso já me causou cada rolo: era uma vez,há muitos anos, num tempo em que eu namorava um rapaz em Salvador. Aí parei de vir de Feira para vê-lo e isso levou meses. Claro estava o abandono de "cargo", não era necessário dizer que acabou - olha só, o povo sai para comprar cigarro e passa uns 10 anos fora, uma vida longe de casa. Ninguém diz nada e entende tudo.
No meu caso, eu paro de aparecer e presumo que a "suspensão" do contato diga tudo. De repente eu vou encontrar o meu namorado seguinte, ou seja, o sucessor daquele namorado lá. Fui eu, fofa e elegante ao quartel da Mouraria, esperar meu amado da vez resolver uns problemas.
Quando eu estava com a cara para cima, esperando a volta do atual daquele momento, me surge meu ex, todo sorridente, achando que eu estava ali para um encontro supresa. Ui, que mico! que pepino! que saia justa!
Puxei o meu carro e larguei a confusão por lá - na boa, morri de pena do meu ex-zinho. Pobrezinho, crente a abafando que eu estava li por ele...eu, que sumi por meses e apareço nos braços (e beiços) de outro.
Ah, claro, a porcaria do acaso, porque eu não sabia que ele tinha se tornado militar...coincidências que ferram minha reputação.
Vou até suspender essa narrativa porque tem certos amigos (de la oncita, por supuesto) que vivem cartografando meus namoros, como se eu tivesse sido feliz em cada canto de Salvador... o tempo todo eram os mesmos dois (na verdade, três) namorados que eu tive por lá e que se mudavam.
Os amigos pensam, porém, que eram vários namorados, um em cada canto de Salvador... que absurdo!
Bem, dei um embromation no meu mais recente -ex. Ele não sabe que virou sapo nos meus conceitos e que agora o Príncipe é outro ( para minha sorte, loiro, alto, de olhos azuis e sotaque paulistano)...ah, falo assim, mas a gente está só se conhecendo.
O caso é que era uma vez meu relacionamento anterior. Era uma vez...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Acasos


Lá vou eu no deleite dos homens que eu amo, como Millan Kundera, por exemplo. Mas ele, para mim, é como aquelas bandas de um hit só: só fez A insustentável leveza do ser. O resto, nem perca seu tempo, pode dispensar que não estará perdendo nada.
Aí vem um dos pontos do romance que me deixa apaixonada, claro por identificação:
"Só o acaso pode ser interpretado como uma mensagem. Aquilo que acontece por necessidade, aquilo que é esperado e que se repete todos os dias, não é senão uma coisa muda. Somente o acaso tem voz. Tentamos interpretar o acaso como as ciganas lêem no fundo de uma xícara o desenho deixado pela borra do café.
(...) O acaso tem suas mágicas, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se juntem desde o primeiro instante, como os passarinhos sobre os ombros de São Francisco de Assis". (pp.54-55).
Este é um trecho que descreve todos os acasos que uniram Tomas e Tereza.
Por acaso, eu acredito no acaso.
Foi assim que eu conheci ele: por acaso eu precisei estar em Salvador num dia extraordinário, situação fora da minha rotina.
Por acaso eu estava no Iguatemi. Por acaso a gente se encontrou - entre aqueles tantos milhões de gente - ok, ele trabalha lá...e por acaso a gente estava indo para o mesmo lugar.
Numa sequência de acasos ainda maior, ele faz um curso em Lauro de Freitas, onde tem outro ponto de ligação comigo; por acaso somos paulistas...por acaso ele puxou assunto e a gente foi descobrindo um monte de paridades.
Não levei o acaso a sério e me supreendi ontem, quando passei novamente pelo Iguatemi, sem pensar em forçar o acaso e ele lembrou o meu nome, repetiu o tímido beijo de saudação da primeira vez, isto é de uma semana atrás.
Por acaso, ele acerta os meus gostos, mas não por acaso eu suspendi todas as perguntas possíveis, com medo de que a sorte passe.
Ele cursou Biologia e esta foi uma das primeiras coisas que disse a ele: "blablablá, você tem cara de Biólogo". Ele disse que, de fato, cursou Biologia.
Cá para nós, eu não conheço ninguém que tenha cara de biólogo. Nem sei de onde saiu isso, mas o engraçado é que eu acertei.
Ah, se ele soubesse que eu digo que dois pontinhos pretos no microscópio são um PRETOzoário e uma BLACKtéria. Ele me mataria pelo trocadilho bobo. Tomara que ele demore a descobrir que sou bobas, que sou louca.
E quando ele, olhando para os meus livros, me perguntou do meu curso, pratiquei o auto-preconceito e disse: "Já estou muito velha para cursar a universidade regular, sou aluna de doutorado"... e esse foi o fio da conversa que puxou o encantamento dele comigo ou por mim, sei lá, era recíproco.
Fiz igual à Conceição, da Missa do galo (de Machado de Assis): Disse que estava velha, ao tempo em que dizia: eu sei a idade que tenho. Veja a idade que tenho e compare à sua. E isso foi na primeira vez em que a gente se viu.
Por força da ocasião ele havia olhando muito minha identidade, a foto, não os dados - e me perguntou afirmando (!) se aquela foto era do tempo em que eu cursava História. Acertou, e a gente riu dos velhos estereótipos (não consigo segurar a lucidez por muito tempo e ainda falei: "É, acertou. Mas eu nunca fumei nada fora da lei, não.")
Ah, para ser bem sincera eu me divirto demais com os estereótipos (estou reproduzindo os estereótipos correntes, de autoria desconhecida):
História: Curso de maconheiro e sapatão; perfil: delírios marxistas e gente que se acha politizada.
Geografia: Curso de doidões viajantes: fazem viagem de campo, viajam na maconha e aprendem a chamar pedra de rocha;
Matemática: Curso de nerd frustrado.
Letras: Curso de gays e mulheres fúteis, velhas e fracassadas. Perfil: todo mundo é poeta e todos sabem tudo sobre gramática e Língua Portuguesa.
Engenharia Civil: Curso de rapazes comedores, lascadores e congêneres. Perfil: grandes promotores de festas, feijoadas e exímios jogadores de dominó. O curso teria, inclusive, as disciplinas: Introdução do Dominó; Fundamentos do Dominó I e II; Estudos Avançados do Dominó e Dominó e outras linguagens.
Física: Curso da evasão. Quem entra, nunca conclui.
Pedagogia: Curso ginecocrácico, majoritaritamente formado por mulheres loucas para casar, além de bibas e homossexuais ego-distônicos que só vão descobrir que são homossexuais após os 30 anos; curso cheio de ludicidade duvidosa. Perfil: Adoradores de Paulo Freire e sabem tudo sobre educação e psicomotricidade.
Biologia: Prefiro não comentar. Vai que por acaso ele acha o meu blog!mas, sendo biólogo você pode fumar canabis sativa e sair bem na foto, porque o que conta é o nome científico. Paro por aqui!
Enfim, em meus medos e na alegria do encontro dos acasos, retomo Kundera:
"Nossa vida quotidiana é bombardeada de acasos, mais exatamente encontros fortuitos entre as pessoas e os acontecimentos - aquilo que chamamos de coincidências. Existe co-incidência quando dois acontecimentos inesperados acontecem ao mesmo tempo, quando eles se encontram (...)
(...)O romance não pode, portanto, ser censurado por seu fascínio pelos encontros misteriosos dos acasos (como o encontro de Vronsky, de Ana, da estação e da morte, ou o encontro de Beethoven, de Tomas, de Tereza e do copo de conhaque), mas podemos, com razão, censurar o homem por ser cego a esses acasos da vida quotidiana, privando assim a vida da sua dimensão de beleza." (pp.57-58)

sexta-feira, 12 de março de 2010

E Deus fez a mulher


"Benditos teu pai e tua mãe; benditos os que te amaram e os que te maltrataram; bendito o artista que te adorou e te possuiu; e o pintor que te pintou nua, e o bêbado da rua que te assustou, e o mendigo que te disse uma palavra obscena; bendita a amiga que te salvou e bendita a amiga que te traiu; e o amigo do teu pai que te fitava com concupiscência quando ainda eras menina; e a corrente de mar que ia te arrastando; e o cão que uivava a noite inteira e não te deixava dormir; e o pássaro que amanheceu cantando em tua janela, e a insensata atriz inglesa que de repente te beijou na boca; e o desconhecido que passou em um trem e te acenou um adeus; e teu medo e teu remorso a primeira vez em que traíste alguém; e a volúpia com que o fizeste; e a firme determinação, e o cinismo tranquilo, e o tédio; e a mulher anônima que te vociferou insultos pelo telefone; e a conquista de ti por ti mesma, para ti mesma; e os intrigantes do bairro que tentam te envolver em suas teias escuras; e a porta que se abriu de repente sobre o mar; e a velhinha de preto que ao te ver passar disse: "moça linda..."; bendita a chuva que tombou de súbito em teu caminho, e bendito o raio que fez saltar teu cavalo, e o mormaço que te fez inquieta e aborrecida, e a lua que te surpreendeu nos braços de um homem escuro entre as grandes árvores azuis. Bendito todo o teu passado, porque ele te fez como tu és..."

Deixo aqui este fragmento de Rubem Braga, de"A mulher e seu passado", em tardia homenagem pelo Dia Internacional da Mulher, especialmente para minhas amigas que nem sabem que tenho blog, porque os afetos podem ser assim, anônimos;
Ofereço, ainda, esta homenagem às mulheres que já passaram por muitos casamentos, por vários homens ruins, por vários homens bons a quem elas não quiseram, às que nunca assumiram seus sentimentos, às que amam seus cunhados, às que têm pensamentos impuros ou impróprios, às que não quiseram ser mães, às mães cujos filhos são manipulados pelos pais para atingí-la, às mulheres comuns, às fora dos padrões de beleza, às que arriscam, às loucas, louquéticas, neuróricas, histéricas, às superprotetoras, às medrosas, às solitárias, às celibatárias, às puritanas, e ao meu passado, ao passado de todas nós, a cada dia vivido, a cada experiência que, por fim, nos tornaram o que somos.

sábado, 6 de março de 2010

TPM: Tudo parece mal


Desde que o Mar Morto estava doente eu vejo que uma mulher na TPM é um risco à humanidade. Claro que estou falando de mim mesma e daquela minha falta de paciência que só faz ficar ainda mais aguçada neste período.
Ah, aí a casa caí, o castelo desaba, tudo fica triste, tudo fica irritante e eu, que odeio estupidez gratuita, fico agressiva e um pouco mais chata do que o habitual. Oh, que sorte morar sozinha, porque costumo explodir com quem estiver por perto. E não precisa motivo claro, basta apenas que a pessoa respire perto de mim.
Além desse mau humor e de um dor de cabeça leve, chata e persistente, aparecem as ocupações que me dão dores de cabeça simbólica. Dores de cabeças reais, somadas a estas viram um coquetel fatal.
Sou uma trabalhadora desempregada. Não entendeu? Funciona assim: não consto em Folha de Pagamento do Estado porque meu contrato não foi renovado. Entretanto, sigo dando aulas, orientando gente tão desorientada quanto eu, me preocupando em compor módulos e selecionar os materiais das disciplinas e etc., mas meu Poderoso Chefão subestima minhas preocupações. Ah, my friends, ele diz: "Não se preocupe!
Aí minha TPM gira em alta velocidade e eu fico preocupada e desesperada porque terei contas a pagar, gatos, cachorros e galinhas para sustentar, viagens a fazer, e minha existência material não está custando pouco. Piro geral!
Sempre pensei que PIROMANÍACO era o sujeito que tinha a mania de pirar. Também pensava que ANTIPIRÉTICO era um analgésico para evitar as pirações, mas posso dizer acertadamente que, no momento, não tem remédio que não me faça enlouquecer de preocupação.
Quem aí tiver um pouco mais de juízo, sabe que as pessoas tendem a desautorizar a fala e o pensamento das outras, chamando-lhes de loucas. Só quero saber como não enloquecer com o impacto orçamentário de ficar março e abril (no mínimo) sem salário.
Mas, claro que eu tinha que ouvir uma das coisas mais irritantes de ouvir, hoje: "Palavra é força!". Ô, cacete! Até quando eu vou ouvir isso?
Reforço: odeio ouvir isso, até porque, o bem é altamente burocrático. Palavra é força só para as coisas ruins.
Aí tem sempre um idiota para dizer que você não deve falar coisas ruins, palavras negativas, porque atrairá todas elas para si.
Experimente falar as coisas boas. Não vem é nada! Eu que não quero tropeçar na pedra e dar Glória a Deus - eu, né, que sou de carne e osso e sou um ser humano comum. Mas tem esse povo aí que é "palmatória do mundo", esse povo superior, que diz que pode ser assim!
As coisas boas, o Bem, é chatésimo: você tem que orar, que acender velas, tem que negociar com Santos e Orixás o "toma lá dá cá" do bem que se pretende...ah, o Bem custa caro, cobra demais, exige demais, é neurótico, faz o nosso Superego se tornar exigente e imperativo...O Bem é um saco, é hipócrita, gera culpas, porque para alcançá-lo você tem que sublimar o ódio e fazer de conta que perdoou aquela pessoa de quem você quer quebrar o pescoço... essas e outras falsidades que a sociedade controladora quer forçar a gente a acreditar.
A coisa mais chata e pegajosa desse mundo é ouvir isso. Mas hoje eu vou concordar, tudo bem: PALAVRA É FORÇA, principalmente se for a palavra escrita num cheque de alto valor!
E seguindo a equação de que PALAVRA É FORÇA e de que UMA IMAGEM FALA MAIS DO QUE MIL PALAVRAS, segue a imagem do castelo que eu mereço, ilustrando este texto (Ah, sim, estou gritando: Castelo, castelo, castelo! quem sabe, atrai, não é? Ih, sou tão impaciente com essas baboseiras todas!deve ser a TPM.)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Cada cabeça uma sentença


Está bem: aproveitemos a imagem acima para adiantar o conteúdo abaixo.
Eu já assumi o meu preconceito linguístico e sou das pessoas que assinam embaixo da sentença segundo a qual, "Quem tem pobrema tem dois problemas". Contudo, que mundo é esse, minha gente? é tanta futilidade, é tanto apego aos modelos escravistas de relação, que as pessoas das classes hegemônicas e as aspirantes a tal, dão crises de orgulho ferido por qualquer coisa.
Quem já não sofreu discriminação étnico racial, de gênero, de sexualidadde, de classe social, que atire a segunda pedra! Ora, motivos para chiliques é a gente quem tem.
Lembro de quando fui buscar meu diploma de Metre, na UEFS: nas inumeráveis vezes em que fui lá, solicitar, ver se estava pronto e etc., teve sempre uma funcionária para me perguntar repetidas vezes se era MEU mesmo, se era de MESTRE mesmo e etc.
Sei que pareço fútil. E vou dizer, odeio gente fútil de verdade: aquelas figuras que estão masi é preocupadas com a cor das unhas, com a camisa do bloco, com a superficialidade de tudo.
Há também os fúteis desleixados, com aquelas caras de quem parou no Festival de Woodstock, com sua roupinha de mercado de arte, com seu cabelo trançado para se fingir de descolado/descolada, com sua camiseta de Guevara, para parecer que se interessa por política; com seus apegos aos baseados para se socializar, para os que vão a todos os Congressos do mundo, só para conhecer os lugares em que são realizados.
Há os fúteis acadêmicos: aqueles que mediante extremo exercício de puxar o saco e através de alguns favores sexuais chegaram à pós-graduação, em seus vários níveis, mas são presença morta, nunca lêem nada, não sabem nada e nos fazem duvidar da validade dos títulos conquistados.
Mas, vejamos abaixo o que é que esta sentença nos incita a pensar.



Processo n° 2005.002.003424-4
S E N T E N Ç A
Cuidam-se os autos de ação de obrigação de fazer manejada por ANTONIO X. X. X contra o CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO LUÍZA VILLAGE e JEANETTE GRANATO, alegando o autor fatos precedentes ocorridos no interior do prédio que o levaram a pedir que fosse tratado formalmente de 'senhor'. Disse o requerente que sofreu danos, e que esperava a procedência do pedido inicial para dar a ele autor e suas visitas o tratamento de 'Doutor', senhor' 'Doutora', 'senhora', sob pena de multa diária a ser fixada judicialmente, bem como requereu a condenação dos réus em dano moral não inferior a 100 salários mínimos. (...)
DECIDO. 'O problema do fundamento de um direito apresenta-se diferentemente conforme se trate de buscar o fundamento de um direito que se tem ou de um direito que se gostaria de ter.' (Noberto Bobbio, in 'A Era dos Direitos', Editora Campus, pg. 15). Trata-se o autor de Juiz digno, merecendo todo o respeito deste sentenciante e de todas as demais pessoas da sociedade, não se justificando tamanha publicidade que tomou este processo. Agiu o requerente como jurisdicionado, na crença de seu direito. Plausível sua conduta, na medida em que atribuiu ao Estado a solução do conflito.
Não deseja o ilustre Juiz tola bajulice, nem esta ação pode ter conotação de incompreensível futilidade. O
cerne do inconformismo é de cunho eminentemente subjetivo, e ninguém, a não ser o próprio autor, sente tal dor, e este sentenciante bem compreende o que tanto incomoda o probo Requerente. Está claro que não quer, nem nunca quis o autor, impor medo de autoridade, ou que lhe dediquem cumprimento laudatório, posto que é homem de notada grandeza e virtude. Entretanto, entendo que não lhe assiste razão jurídica na pretensão deduzida. 'Doutor' não é forma de tratamento, e sim título acadêmico utilizado apenas quando se apresenta tese a uma banca e esta a julga merecedora de um doutoramento. Emprega-se apenas às pessoas que tenham tal grau, e mesmo assim no meio universitário. Constitui-se mera tradição referir-se a outras pessoas de 'doutor', sem o ser, e fora do meio acadêmico.
Daí a expressão doutor honoris causa - para a honra -, que se trata de título conferido por uma universidade à guisa de homenagem a determinada pessoa, sem submetê-la a exame. Por outro lado, vale lembrar que 'professor' e 'mestre' são títulos exclusivos dos que se dedicam ao magistério, após concluído o curso de mestrado. Embora a expressão 'senhor' confira a desejada formalidade às comunicações - não é pronome -, e possa até o autor aspirar distanciamento em relação a qualquer pessoa, afastando intimidades, não existe regra legal que imponha obrigação ao empregado do condomínio a ele assim se referir.
O empregado que se refere ao autor por 'você', pode estar sendo cortês, posto que 'você' não é pronome depreciativo. Isso é formalidade, decorrente do estilo de fala, sem quebra de hierarquia ou incidência de insubordinação. Fala-se segundo sua classe social.
O brasileiro tem tendência na variedade coloquial relaxada, em especial a classe 'semi-culta', que sequer se importa com isso.
Na verdade 'você' é variante - contração da alocução - do tratamento respeitoso 'Vossa Mercê'. A professora de linguística Eliana Pitombo Teixeira ensina que os textos literários que apresentam altas freqüências do pronome 'você', devem ser classificados como formais. Em qualquer lugar desse país, é usual as pessoas serem chamadas de 'seu' ou 'dona', e isso é tratamento formal.
Em recente pesquisa universitária, constatou-se que o simples uso do nome da pessoa substitui o senhor/ a senhora e você quando usados como prenome, isso porque soa como pejorativo tratamento diferente. Na edição promovida por Jorge Amado 'Crônica de Viver Baiano Seiscentista', nos poemas de Gregório de Matos, destacou o escritor que Miércio Táti anotara que 'você' é tratamento cerimonioso. (Rio de Janeiro/São Paulo, Record, 1999).
Urge ressaltar que tratamento cerimonioso é reservado a círculos fechados da diplomacia, clero, governo, judiciário e meio acadêmico, como já se disse. A própria Presidência da República fez publicar Manual de
Redação instituindo o protocolo interno entre os demais Poderes. Mas na relação social não há ritual litúrgico a ser obedecido. Por isso que se diz que a alternância de 'você' e 'senhor' traduz-se numa questão
sociolingüística, de difícil equação num país como o Brasil de várias influências regionais.
Ao Judiciário não compete decidir sobre a relação de educação, etiqueta, cortesia ou coisas do gênero, a ser estabelecida entre o empregado do condomínio e o condômino, posto que isso é tema interna corpore daquela própria comunidade.
Isto posto, por estar convicto de que inexiste direito a ser agasalhado, mesmo que lamentando o incômodo pessoal experimentado pelo ilustre autor, julgo improcedente o pedido inicial, condenando o postulante no pagamento de custas e honorários de 10% sobre o valor da causa. P.R.I. Niterói, 2 de maio de 2005.
ALEXANDRE EDUARDO SCISINIO
Juiz de Direito

segunda-feira, 1 de março de 2010

A evolução das espécies


"[...] a História da Evolução tem dois componentes principais: a ramificação das linhagens e as mudanças dentro das linhagens (incluindo a extinção). Espécies inicialmente similares tornam-se cada vez mais diferentes, de modo que, decorrido tempo suficiente, elas podem chegar a apresentar diferenças profundas. [...]Os padrões hierarquicamente organizados de aspectos comuns entre as espécies - tais como as características comuns de todos os primatas, de todos os mamíferos, todos os vertebrados, todos os eucariontes e todos os seres vivos - refletem uma história na qual todos as espécies vivas podem ser seguidas retrospectivamente ao longo do tempo, até se chegar a um número cada vez menor de ancestrais comuns." (FUTUYMA, 2002,p.3)
Ah, eu não fico digladiando internamente com a Teoria da Evolução e outras suposições mais nobres e espiritualizadas sobre a vida na Terra: acho é linda essa lógica, essa racionalização, não muito agradável para o ser humano, eu sei, principalmente para estes outros que arrogantemente afirmam suas outras encarnações em que eles eram celebridades históricas e importantíssimas, claro!
Não é engraçado: o povo projeta para o mundo espiritual uma origem nobre, cheia de purpurina, porque, ao que me parece, só eu desconfio que em outra encarnação eu fui escrava de ganho nas ruas do Pelourinho. E para não contrariar a arrogância comum às questões, fui a melhor escrava de ganho do reino...
Mas esta noção de Evolução também é tomada de empréstimo da Biologia para os vários ramos da vida, espcialmente, a própria noção espírita de evolução.
A mim interessa outra evolução: aquela que diz que você está saindo do lugar. É, o lugar de sempre, aquela zona de conforto que faz você se repetir e repetir ações e comportamentos. Então, evoluí: quebrei os elos de uma cadeia de opressão afetiva, ou melhor dizendo, sempre tive medo de dizer "não". Meu "não" sai sempre com algum medo de punições e vinganças. Muitas vezes o meu "não" era ignorado.
Assim, JP não validava e não reconhecia o meu "não" quando ele insistia em contato sexual comigo e não entendia direito os limites impostos porque não gosto de ninguém no meu pé, na minha cola, na minha casa de forma inopinada e etc.
Se o "não" não resolvia, reforcei a negativa hiperbolizando a relação com o meu ficante: joguei uma tinta e mudei os móveis da relação de lugar- Agora, afirmo um namoro e um amor extremamente fiel e traquilo que impede o JP de aparecer em minha casa e de se ousar a forçar a barra comigo.
Também soube evoluir com outras relações em que eu era subestimada: ora, viver de sobras afetivas de amigos e de rolos não é saudável. Então, ele ( o prícipe D.)me ligou às 23 horas para vir aqui em casa. Dei um sonoro "não" e não me deixei vencer pelos apelos da minha carne, que por sinal, se entende muito bem com a dele (maravilhosamente bem!). Devo dizer que no caso de JP, ele não conta com esse atenuante: sexo com ele era um tédio, um negócio básico em que eu me sentia anulada e cronometrava o fim daquele sacrifício cansativo.
Com o Príncipe D, não: tudo era excelente, mas não passa disso. Então, eu evoluí e disse "não".
Ao meu ex de 1996, aquele pilantra do Ricardo,após os argumentos apelativos dele, de que tinha enfrentado um câncer, dentre outros argumentos sensacionalista de cuja veracidade eu duvido cem por cento,eu disse "não", não quero ir ao encontro e pronto! Mas ele pensou e insistiu. O resultado: eu não disse "não", eu saí da rota e ele não tem como me infernizar com a apelação de encontros.
Finalmente, eu disse "não" ao meu pai e às chantagens emocionais dele, anulando, claro, a presença corrupta dele em minha vida;
Eu disse não a uma série de coisas e de pessoas.
Olhando para a teoria da Evolução, esse "número cada vez menor de ancestrais comuns" me faz localizar uma grande diferença entre minha família e eu; entre a pessoa que eu fui e aquela que me tornei...
Claro que parte de minha identidade se conserva, mas as coisas que me incomodavam eu estou mesmo me desvencilhando delas.
Na vida tudo se transtorna, tudo se transforma.

Dando a volta no meu mundo


Eu sou teimosa com alguns pressentimentos e sempre pago caro por isso. É que duvido de minhas dúvidas e duvido de mim mesma. Assim, é que, por exemplo, havia sacado que uma certa colega de trabalho não confiava em mim, apesar da proximidade. Mas, duvidei, porque sempre acho que sou daquelas pessoas extremamente desconfiadas.
Dito e feito: ela pensava misérias a meu respeito e a proximidade física nunca foi sinônimo do contrário.
Quando eu vi a mãe de uma outra pessoa, rapidamente, pensei: esta daí não gostou de mim. Para minha sorte, foi recíproco: eu também não gostei dela e hoje sei que ela de fato, me detestou.
Aí eu vou e escrevo que empatei com o primeiro lugar no vestibular. Claro, eu não tinha idéia de que fui eu a primeira classificada: de novo, duvidei de mim mesma. Talvez isso seja para não parecer presunção, orgulho, exibicionismo...e é assim em tudo: nas proficiências em que eu acho que perdi, nos concurso que eu acho que fui reprovada, nas várias coisas que eu acho que estou aquém e o futuro vem e mostra que o meu resultado foi bom.
Já conversei sobre isto na Psicanálise. Segundo a analista, tenho medo de causar inveja, porque as filhas de minha madrasta e a minha madrasta viviam me punindo sempre que verificavam alguma coisa em que eu era melhor (desde a aparência do cabelo aos resultados na escola,passando pela minha desenvoltura em desde,os 11 anos, saber andar pelo centro, viajar sozinha se necessário, saber mexer nas coisas, entender bem outros idiomas e ter sempre informações novas, etc.)...Isso significa que incorporei a máxima: "prego que se destaca toma martelada". E segui a vida!
Quanto a duvidar de minhas opiniões sobre os outros, suas ações e seus sentimentos, tem aquela turma que vive insistindo em que a gente não deve julgar mal aos outros, que deve dar outra chance às pessoas e blablablá...
Por ouvir este povo que também acha que quando eu desconfio de atitudes e comportamentos suspeitos é exagero, teria evitado decepções,prejuízos e assaltos...mas tem essa consciência cristã do povinho de bem para pregar o contrário e fazer a gente se reconhecer paranóico, mesmo quando a paranóia não se confirma.
Se eu ouvisse mais a mim mesma eu teria caído fora da casa de uma amiga há mais tempo; eu teria deixado um certo emprego há mais tempo; eu teria me afastado da amizade de meia-tigela de quem me acusou de não sei o que, não sei por que, e evitaria perdas de tempo;
Se eu ouvisse mais a mim mesma, entenderia que não era por paranóia que eu estava vendo certas ações de desamor por parte de um grande amigo e reconheceria de pronto que ele estava embebido pelas idéias de alguém contra mim;
Se eu ouvisse mais a mim mesma, assumiria e arriscaria mais pontos de vista, além de me desviar de muitos sofrimentos;
Se eu ouvisse mais a mim mesma, teria me preparado para as decepções e reconheceria quem me subestima e quem acha que por eu ser louquética, sou burra. Acho que esta é a única convicção real que eu tenho: não sou burra.
Também não sou de fazer média, de ser puxa-saco, de ignorar a realidade ou de ficar do lado de quem eu gosto quando quem eu gosto está errado.
Não dá para apoiar os erros, não dá para encobrir negligências, não dá para camuflar meu asco por quem beneficia os seus em detrimentos de quem realmente merece...mas o que dói ainda mais é ver um amigo sendo tremendamente enganado e eu não poder dizer nada.
Mais uma vez, o lugar de cúmplice: sei, mas não posso dizer. E se eu pudesse dizer, talvez nem dissesse, para evitar a dor.
Aí rodo em círculos: não conto porque não é da minha conta; mas enquanto eu não conto, a vida dele está exposta e ele está retroalimentando o círculo, já que a pessoa domina todos os segredos dele(s) e repassa para terceiros (e quartos e quintos...).
Engraçadas estas coisas que não são da nossa conta. Eu não sei por que não são da nossa conta, de fato: ora, se a gente toma conhecimento e se importa com as pessoas envolvidas, logo, realiza algum julgamento sobre a situação. Seria da minha conta aquilo que atinge as pessoas de quem gosto? ou deixaria de ser de minha conta por que pertence à vida íntima e particular do amigo? mas se é íntimo e particular, como é que eu sei?
Acho que as coisas que não são da nossa conta são assim descritas porque a gente não quer se meter em confusão. É, certamente é isso: se vai lhe causar confusão, é porque não é da sua conta.
Ah, eu sou um ser musicalizado e, por isso, até cito uma música da minha infância, chamada Luka, da Suzanne Vega, que depois de dizer: "My name is Luka, I live on the second floor" e blablablá, vai dizer também: "...It´s not your business, anyway"! Pois é, não é de sua conta, de jeito nenhum!