Louquética

Incontinência verbal

sábado, 27 de março de 2010

A gente pede festa


Meio indecisa, optei por ir ao último ensaio do Jau, na Garage - casa de shows daqui de Feira de Santana.
Para minha surpresa, a noite feirense estava bombando, e olha que era só uma sexta-feira: tinha festa no Massapê, no Megafest e em mais duas casas perto da Garage; fora os animadíssimos ensaios de São João lá no Kabana's, minha casa preferida para dançar.
Realmente, adoro festas. Mas festas para dançar, não gosto de eventos contemplativos.
E foi uma festa maravilhosa: Jau tem um repertório incrível, é um músico fantástico e sabe comandar a noite.
Onde, nesta vida, eu iria a uma festa para poder dançar Extra, do Gilberto Gil? reaggae maravilhoso!
E a música do Jau, que eu adoro, então? Sandália de couro:
"Não tem sapato que lhe calce, ela só gosta de sandália de couro, de sandália de couro, de sandália de couro...
De tênis, não vai;
De scarpin, não sai;
Descalço, machuca o pé;
O salto, lhe trai;
Tamanco, ela cai;
Sapato, lhe dá chulé..."

Eu amo esta música. E ainda me derreti de dançar ouvindo outras tantas que eu amo. estas, sim, a música baiana que me seduz - Vixe mainha e músicas do Ylê, passando por vários ritmos, como pop e MPB. O cara é show!
Eu tinha ido para o camarote. Como sempre, uma opção questionável, porque este apartheid nas festas dá a entender que é a gente quem quer se diferenciar.
Para quem compra lugar no camarote, espera, na verdade, ter mais espeço e conforto para dançar, mas, no caso do Garage, não foi assim: estava entupido de gente, o povo se acotovelava para garantir um lugar na sacada e sempre tem os povos que eu mais odeio sobre a Terra: os fumantes. Yes, eu odeio fumantes. Pena de morte para os fumantes!
Não faço discursos moralistas, não defendo idiotices super-saudáveis, mas o fumante nos obriga a compartilhar de um vício que é dele. Os incomodados são os que MUDAM, porque eu não quero ter que ME MUDAR por conta de gente que não contém seu vício em favor do convívio coletivo.
Desci do camarote e fiquei com a plebe, na segunda parte da festa.
Fui sozinha à festa, claro, mas não senti falta de ninguém. Logo, presume-se que eu saí para dançar... e dancei. Dancei até doerem os meus pés e eu escolher meu momento de ir embora - só lá fora é que eu ouvi Jau encerrando o show.
Como sempre tem alguém interessado em saber do contingente masculino, advirto que não, não tinha homem bonito - só uma ou duas crianças meio Jonas Brothers, que não me interessaram; uns Zé, classe operária e pé rachado, mulheres desesperadas, garotinhas de shopping, universitários donzelos, Mané Cannabis (maconheiros), Zè Roela, Periguetes, Encalhetes, Loiretes fashions, Bombadinhos de sexualidade questionável e gente normal (sim, eu sei: onde é que eu me enquadro?).
Outra coisa surpreendente: a Casa Mortuária Pax Cristo Rei patrocina a festa.
De ouvir isso, ali, ao vivo, comecei a rir feito uma idiota. Como é que pode a funerária patrocinar a festa?
Fica, dentro de mim, a impressão de que o patrocinador torce por uma briga sangrenta que resulte em homicídio, par angariar os lucros do funeral.
De outro modo, como seria? a gente vai à festa, ouve o nome do patrocinador e decide que, no momento de enterrar alguém, o melhor é contratar aqueles serviços da Pax cristo Rei, que eu me lembro de ter ouvido a propaganda numa festa a que eu fui.
Festa e funeral, só em Feira de Santana (bem existe um livro de João José Reis cujo título é A morte é uma festa, mas se refere aos ritos fúnebres e a disputa por lugares no atual cemitério do Campo Santo, em Salvador; também o autor com o qual trabalhei no mestrado tem um livro de poesias que se chama Festa e Funeral)
Coisa boa é ter lazer! Não aquele lazer idiota que faz você sair tirando fotografias para depois provar a si mesmo que se divertiu; nem outros falsos lazeres inventados, regados a muito sofrimento e dívidas posteriores. Esses, não.
Bom lazer é este de desligar tudo e ficar em paz, em casa. Ou, quem sabe, sair e dançar, ficar de "varejeira" no Rio Vermelho, sobrevoando o Largo de Santana, pousando no Desabafo e no Bondcanto - é no Bondcanto que eu quero comemorar meu aniversário. Como não abre na segunda (que dia para fazer aniversário, hein?), vou lá na terça, depois da aula. Sozinha, claro!a menos que o meu coleguinha de doutorado queira me acompanhar. Como eu não sei se ele é homem do sexo masculino, ele poderá ser minha nova melhor amiga ou meu mais recente interessado...não tenho muito a perder, não é?
Ainda estou sentindo o impacto do sono perdido ontem à noite, vou ficar quietinha em casa hoje, cuidando dos textos da aula de terça, que são um castigo - e pior, castigo em inglês, que tenho que ler.
Mesmo que eu me decepcionasse com a festa, teria valido a pena minha iniciativa de sair.
Como é bom ter liberdade e ter inciativa.
"Deixa eu dançar, para o meu corpo ficar Odara!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário