Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 26 de março de 2010

Das escolhas e das renúncias


Eu já parei para pensar, como dizem alguns, sobre as coisas que eu deixei de fazer e também tive medo de me arrepender por ter deixado de fazer algo que eu queria, mas que meu superego, minha prudência, meu moralismo, meus censores interiores falaram mais alto e me impediram de seguir.
Outro dia tive a prova de que me arrependeria de ceder às minhas carências ou de desafiar o bom senso: um aluno meu havia me ligado alta madrugada, supostamente cheio de álcool.
Não preciso ir longe para constatar que se trata de uma pessoa covarde.
a minha vida inteira eu fui cercada por homens covardes: meu pai sempre foi covarde, incapaz de enfrentar algum assunto familiar ou afetivo cara a cara; Marcelo era extremamente covarde, incapaz de assumir opiniões ou de tomar atitudes; D. é covarde, teme as trocas afetivas, mas sente muito a cada decréscimo de meus sentimentos por ele...aí vou e encontro um aluno covarde que se enquadra na mesma regra.
Bem, se passaram quase dois meses entre o telefonema inconveniente do sujeito e o seu pedido de desculpas.
Volto à mesma tecla: não namoro os meus alunos. Eu não ficaria confortável, não toleraria o contexto, não dá. Mas, enquanto ser humano, também acho meus alunos bonitos, atraentes, interessantes...claro, isso é raridade.
Só penso no processo fantasioso que povoou a cabeça dele, encontrando paridades entre nós, imaginado situações impossíveis, ultrapassando os limites da nossa relação: ele, a quem eu nunca toquei e a quem eu nunca abri um precedente para esses desvios.
Então ele me chamou de cretina, por tabela, é claro, pois reconheço que eu comecei, eu xinguei primeiro, educadamente, num contexto que dissimulou a agressividade, mas eu falei, não me contive; e ele me acusando de ter um bando de namorados.
Ah, meu Deus, como eu queria ter um bando de namorados.
Ah, como se ele não tivesse, por seu turno, seu compromisso - atenuado e disfarçado pela distância que ele impôs, porque é covarde o suficiente para não assumir a falência do relacionamento.
Não, meu amigo, eu não tenho ninguém.
Eu tenho é medo!
Eu tenho é preconceito, porque um colega de doutorado se mostrou todo interessado, mas eu não sei se é em mim ou se é pelos meus sapatos. Como cursar Letras e não questinar a masculinidade dos colegas? como é que vou saber se ele é homem do sexo masculino? eu tenho é medo!
Eu tenho tanto medo que nem fui ver meu loiro, nesta terça-feira. Fiquei na minha.
Passei então a ver duas coisas: a primeira é esta impressão que as pessoas formam sobre a minha vida.
Sim, minha vida tem muitos personagens masculinos: nenhum está comigo, são só histórias. Eu durmo só. Janis Joplin disse isso de si, não foi? "Passo a noite com muita gente, com a platéia, mas durmo só". Eu estou só.
Gosto das tensões sexuais, das coisas que nunca passarão de imaginação, não tenho vontade de realizar nada: a neurose da espera é bem melhor do que a decepção. Vide os casos Alexandre e J. P., após 04 anos de espera por cada um deles.
A segunda coisa é a seguinte: Minha amiga, minha melhor amiga, amiga-irmã, falou para mim, em tom de aquiescência e cumplicidade: "...Do jeito que você é vingativa!"
Poxa, uma coisa sou eu me dizendo vingativa. Outra coisa é minha grande amiga dizendo isso.
É, eu sou.
Mas minha vingança é revestida de justiça, não é gratuita.
Sei separar as coisas, mas gosto que me paguem exatamente aquilo que me devem.
E percebo que eu só tenho ciúmes de quem é importante para mim.
Isso me leva para um outro extremo, de coisas que eu observo: faz um bom tempo que tenho um outro amigo meu próximo, mas não íntimo.
Eu não via isso.
Eu não lia este direito que as pessoas têm de escolher em quem confiar e com quem compartilhar segredos. Assim, meu amigo próximo não é meu amigo íntimo. Isso mexeu comigo, muito.
Pelo menos, nada disso me magoa, mas me alerta: vou me transformando, me fechando, fechando minha boca, escondendo opiniões, aprendendo a ser como os outros são.
A sinceridade que pratico é interior, não é mais ostensiva: finjo não ver o que todo mundo sabe; finjo não ouvir o que todo mundo percebe; aprendo a construir segredos onde antes havia um infantil livro aberto.
Ando ocupada comigo mesmo, aprendendo a cuidar melhor de mim, a me priorizar.
Não quero estar na foto dos sorrisos falsos, das proximidades dos que se suportam por educação, no jogo besta das conveniências.
Eu não me arrependo do que não aconteceu: eu dou graças a Deus por não ter trilhado caminhos que me trouxessem dores de cabeça e ressaca moral.

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