Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Folga sem feriado!




Este post, em certo sentido, parece repetir “o encontro e o desencanto”, que escrevi tempos atrás. Não pela história em si, mas pela temática: sei lá, a gente espera e depois conclui que a expectativa é a mãe da decepção. Porém, em dadas ocasiões, também a expectativa foi a mãe da boa surpresa. Mas é aí que está: a surpresa. Nem sempre boa. Às vezes, ambígua. Lembro da música que minha tia cantava “Oh, que surpresa tão rude! Nem sei como pude chegar ao portão”.
Estava eu quietinha em minha casa hoje à noite. Alimentei meus bichinhos, tomei café cedo e desde às 18h30min., tranquei meu portão e minha casa, ficando a sós com meus livros, a fim de pagar a dívida moral de algumas leituras e me dar ao deleite de ler uns livros teóricos que preciso e gosto.
Uma hora depois, chamaram meu nome no portão. Voz masculina. Não dava para antever ou prever quem era. Até pensei que fosse meu Perseguidor Implacável cujo nome começa com a letra I ( o outro idiota do Zé Bonitinho jamais ousaria vir em minha casa). Fiquei pensando: “Como este cara descobriu meu endereço?!”. Mas o fato é que não recebo visitas masculinas senão três bem específicas e conhecidas, que jamais teriam o desplante de aparecer sem um telefonema prévio. Isso eu pensava enquanto me chamavam sem parecer que ouviam minha resposta e pedido de espera. E como eu estava em casa, lendo e trancada, estava em trajes mínimos e íntimos.
Joguei um vestido no corpo e fui atender, já arrependida de ter sido impulsiva para responder ao chamado. Poderia (e deveria) ter ficado calada e quieta. Quem saberia que eu estava aqui?
Mas fui, atendi e quase nem acreditei que era meu ficante de janeiro, em carne, osso e ectoplasma!
Não sou um pedaço de isopor, por isso não ando desleixada. Aprendi direito o ditado: “Quem não se enfeita, por si, se enjeita”. Porém, meu cabelo estava um trapo, eu não estava arrumada como gosto e ainda estava com cara de sono.
Da primeira vez em que ele veio à minha casa, eu disse: “Fique à vontade!”. E ele ficou. Como bom cavalheiro... Ou se nem tão bom, foi exímio em disfarçar e ser.
Desta vez, porém, me senti invadida, escrutinada e estive quase a ponto de ver novamente aquela velha cena em que um antigo affair meu foi me inquirir acerca das tantas escovas no banheiro- e disso concluir que havia outros namorados que dormiam em minha casa.
Foi um reencontro muito chato. O desconforto foi todo meu. Não gosto de homens em minha casa: namorado, ficante, affair, qualquer modalidade dela excluídos os amigos e parentes.
Fiquei pensando que ando implacável com os homens. Se já me queixei de minha pouca paciência, de um modo geral, com a vida, fui deveras paciente com alguns homens, dando chances inúteis, sendo sutil nos foras que queria dar, preservando a polidez das relações... Não sei o que me deu, mas senti todas as situações atuais como sendo um estopim e o ponto de declaração da falta de paciência.
Sei que me senti incomodada com ele em minha casa, catei meu diário e escondi sem esconder dele que o estava fazendo, tentei ser concessiva em alguns pedidos, tentando salvar a noite, mas o fato é que eu perdi a paciência e novamente lancei o decreto e a sentença: “Nunca mais a gente fica juntos!”.
Estou inquieta porque não consegui ser clara na hora e dizer isso com todas as letras. Dei boas indiretas. Se eu não desse, estava visível meu desconforto.
Disse, pelo telefone, hoje de manhã, cobra e lagartos ao meu ex. Creio que Santo Antônio está querendo que eu limpe as gavetas do passado: um sujeito achar que poderia me enrolar com conversas para bois dormir, com um monólogo alucinante que nem o mais besta dos bestas cairia e a velha promessa de que se a gente reatar, tudo será melhor e diferente.
Por estes dois caras, afirmo sem o menor medo de estar sendo injusta: prefiro ficar sozinha.
Não gostei da folga do ficante em minha casa, da investigação em minha vida e, pior que isso, lanço o “Laço da verdade”, conforme a Mulher Maravilha e pego mesmo as mentiras que os homens contam. Peguei as dele nas contradições, nos lapsos, nos esquecimentos, nas narrativas sem sequência, nas histórias mal coladas, nas faltas de coesão como parecer ser a vida dele vista sob microscópio.
Reclamo de estar só. De vez em quando é chato mesmo. E eu sou chata todo dia ultimamente. Prefiro minha solidão: é confortável. E como já estou crescidinha, não acharia mal se pudesse haver envolvimento sexual sem envolvimento afetivo porque minha disposição para amar anda em baixa. Porém, não se tem controle sobre isso. Inventaram isso de ‘vou procurar não me envolver’, mas na vida real, não há como escolher amar ou não amar; se apaixonar hoje ou quinta-feira da semana que vem... Disse Lobão: “A paixão não tem nada a ver com a vontade/quando bate é o alarme de um louco desejo: não dá para controlar, não dá!”.
Não fecho esta porta em minha vida sem lamentar a perda sensorial que isso representa para os meus desejos. Mas não gosto de gente folgada entrando em minha vida sem antes se anunciar e sem pedir licença.
Desde janeiro a gente não se via! Quando ele picou a mula para as terras frias onde nasci, sofri de saudades. Queria ter ficado com esta sensação de falta a ter que conviver com a repulsa. Pronto: mais uma pessoa para me deixar temendo atender ao telefone. Urge colocar identificador de chamada, divulgar que passarei oito meses na Groelândia, cinco meses no Oiapoque e mais uns quarenta dias no deserto do Atacama porque se é para errar num deserto bíblico, me deixa levar meus pecados para um lugar mais perto.
Que chato trocar a saudade por um: “Já vai tarde!”.

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