Quinta-feira foi a primeira vez em que a gente
dormiu juntos. Ele realmente é do tipo que fica abraçado, que dorme segurando a
minha mão quando quer virar para o outro lado. O problema é que eu não dormi. Não
estou acostumada a gente na minha casa; não gosto de intimidades instantâneas imediatas
de terceiro grau!
Abri uma exceção porque me senti cansada e confusa:
é que eu estava há seis dias fora de casa. Sexta foi o primeiro dia do concurso,
dia de prova escrita. Passei o final de semana com a minha tia, equivalente
imperfeita de minha mãe.
No sábado saí com Dexter e o irmão dele, para um
show muito bom de bandas covers. Gosto muito dos dois – hoje somos amigos, já
tivemos recaídas, mas no cerne da questão, temos sentimentos e cumplicidades
que superaram o namoro que tivemos. Sei é que me diverti e queria ter tempo e
memória para contar tudo, para dizer que em uma das bandas havia um amigo de
adolescência, boyzinho inconsequente e delinquente, cheio de sex appeal mesmo
hoje em dia, mesmo anacrônico em tudo...
Segunda e terça, ocupações das outras etapas do
concurso; quarta, dei aula na UEFS em dois turnos; quinta, à noite dei aula
também. Aí cheguei em casa às 22 horas. Uns minutos depois, o telefone tocou e
era ele.
Gosto dos homens sinceros. A verdade me seduz, a
coragem me conquista: ele me pediu desculpas. Falou claramente que reconhecia
os erros que cometeu e que me afastaram dele.
Levou quase duas horas falando nisso e insistindo em conversar
pessoalmente porque havia uma semana que ele queria falar comigo e se
desculpar. O cansaço me deixou vulnerável. A proposta não era ruim – o problema
era meu sono e meu cansaço.
Ele disse que viria à minha casa. Cedi. Começou a
chover. Uns minutos depois, a buzina da moto me convidava a ir atender ao
portão. Fui lá. Ele entrou. Entramos em casa. Ele não falou nada. Ele tem essas
manias de nem sequer respirar: me abraçou com a fome de saudades; me beijou
molhado como estava, me jogando contra ele no sofá. Só me disse do quanto
queria estar ali, comigo.
Falei que eu tinha medo das noites perfeitas dele
(temo tudo que é perfeito!).
De manhã ele fez café para nós. Novamente, fez
conjecturas sobre morar comigo – odeio desesperos, pressas, odeio este cartão
de acesso à minha vida que eu não dei e que ele pensa ter.
Ele se importou com a pane elétrica que deu em
minha casa e se comportou como marido-padrão, se propondo a reparos e
soluções... Pensei como Renato Russo: “e me assustei: não sou perfeito”.
Passei no concurso, encerrei um relacionamento
enrolado e longo há pouco tempo, estou cheia de angústias e não sei o que
fazer. Hoje eu fugi dele! Tive medo da seriedade das coisas, da velocidade de
tudo, da forma como ele se impõe no meu território e não estou preparada para
isso.
Não sei quem eu quero e agora me apareceu todo
mundo de vez.
Fiquei com ressaca moral porque menti. Preciso
conversar com ele: agora a urgência é minha. Nem consigo dormir...
Queria que o ficar fosse sem pesos, cobranças, enrolações...
Mas eu menti, me agarrei a um pretexto inconsistente e inventei um
desentendimento que me salvasse de uma noite de sábado em minha casa,
maritalmente com ele.
Gosto de estabilidade, mas respeito o tempo das coisas.
Ele atropelou meu cronograma. Pior: estou de flerte com outro cara cujo contato
foi anterior a ele. Não me decidi. Também não traí, pois ele não é meu namorado
(ou minto para mim? Ou é só medo, tudo isso?).
Não sei ser dominada. Não sei ser submissa e ele
quer decidir por mim.
Gosto de estar com ele. Não poderia ser assim? Namorinho,
só namorinho? De manhã vou conversar com ele, vou atrás, vou a casa dele se
preciso for, mas quero clareza, limites... Poxa, como estou angustiada: meu
coração dói. Aí, se ele me beija, me anestesia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário