Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 28 de maio de 2013

Os meninos de ontem




Passei o domingo indo do sofá para a cama, num sono acumulado desde sexta-feira, quando recebi a visita comemorativa de Marcone e de FJ. Visita forçada, porque desci meu repertório de pretextos para não receber ninguém, porque eu realmente não estava a fim. Aí eles vieram e ficaram aqui até perto das duas da manhã, ouvindo The Police, Smiths e The Cure, conversando amenidades e profundidades existenciais, regado a álcool.
Esquisito e incomum é dar uns amassos com o testemunho do amigo no mesmo sofá. Quase nem há amasso, nem intimidade, nem coisa alguma...
No sábado, teimei e fui ao show da banda local que eu gosto, dançar até os pés doerem, mas no fim das contas ficou apenas o sono, porque deu pouca gente na festa e a motivação da banda é proporcional à bilheteria. Não foi lá muito animada quanto costuma ser.
Mas queria falar de um troço interessante que foi a recepção dos dois amigos ao torpedo SMS que eu enviei a FJ. Depois de muitos pretextos para ficar sozinha e em paz, lá pelas 21 horas eu escrevi que se ele quisesse me ver na tarde do sábado, viesse após as 15 horas, pois antes disso eu estaria ocupada.
Os dois disseram que chegaram a falar ao mesmo tempo o quanto eu era fria e objetiva, que estabelecia horário para os desejos. Segundo Marcone, eu ignorei quando FJ estava dizendo que queria me ver de todo jeito, que estava com saudades, vontades, e etc. Sim, eu não ouvi nada disso. Eu disse apenas que a gente se veria depois porque eu estava cansada.
Para eles, foi um absurdo.
Ocorre que eu tenho o que fazer e respeito minhas vontades. Não gosto de receber visitas quando não quero recebe-las, por coisa interior mesmo, falta de vontade e de astral.
Não vivo a vida sem roteiros: tenho coisas a cumprir, tenho horários a seguir e planejo meus dias de modo a ter horários livres ou turnos mais convenientes para ócios, prazeres, festas e etc. Também gosto de ficar sem preocupações com horários, por isso planejo, para não ter que interromper o que está bom e sair correndo porque no dia seguinte tem horário, no turno seguinte tem compromisso, etc.
Sou metódica. Preciso ser. E não seria feliz com um dia todo cheio de surpresas, com a vida desordenada e tudo fora de lugar. Decerto, às vezes deixo para amanhã o que eu deveria fazer hoje, desde que não haja prejuízos. Coisa rara, mas declino de fazer uma ou outra coisa se assim me parecer conveniente.
Odeio olhar uma mesa cheia de textos para ler, trabalhos a corrigir, coisas a fazer, prazos a me apertar... Não sou do tipo que gosta de trabalhar sob pressão. Por isso terminei minha tese antes do prazo: tenho que fazer, faço. Sei que em escrita a gente trava, se desvia, cansa, acha que já disse tudo, se repete, se confunde... Mas tem que ser feito, vamos fazer!
Aí, nesse intervalo de coisas eu perguntei por que que Marcone largou o mestrado e ele simplesmente me disse: “Drogas!”. Está explicado porque temos perspectivas diferentes demais. A diferença também está aí, na responsabilidade, nas escolhas, no foco... Acho que eu, se fosse viciada em qualquer coisa, ainda assim iria concluir o que comecei porque não conheço angústia maior do que deixar uma missão descumprida.
Deus me livre! Se eu começar, concluo. Se algo diferente disso um dia ocorrer, acreditem que será porque depois de percorrido um caminho eu percebi estar na direção errada e, neste ponto, eu não iria persistir num caminho errado apenas para dizer que terminei a corrida.
Nós três somos de uma mesma geração. Marcone e eu somos de uma mesma geração na UEFS, conhecemos as mesmas pessoas, os mesmos maconheiros, as mesmas bandas, os mesmos professores, os mesmos protestos... E a gente fica anacrônico, para não dizer ridículos, quando passa do tempo de ser irresponsável e inconsequentes e quer entrar na quarta década de vida como se estivesse na segunda. No caso dele, então, 42 anos de puro desajuste, todo trabalhado na irresponsabilidade.
Vejo isso num bando de colegas: descompasso temporal. Querem ser hippies e ter dinheiro tirado dos outros, dos que trabalham, para comprar cervejas, drogas, ingressos para show e passeios pelo shopping. Herdeiros bastardos de um comunismo made in U.S.A., e o que eu posso dizer.
Bom, mas essa gente é divertida e não critico por não gostar deles. Critico porque nos chocamos reciprocamente: eles, por eu estabelecer horários e limites, metas e expectativas; eu, por eles quererem viver sem nenhuma amarra social que presuma disciplina, obrigações e roteiros.
Bem, estou de saída porque vou dar um amparo espiritual a uma pessoa muito amada que sofreu um impacto de rompimento afetivo, o que em termos práticos quer dizer que ela levou um pé na bunda. Em favor do sujeito, digo que ele foi digno, assumiu seu novo relacionamento, eles já estavam separados mesmo, mas a minha chegada nutria esperanças, apesar de tudo indicar o contrário. Quem quer saber de razão num contexto desses, né? Ofereço meu ombro.


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