Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Com eles!


Percebi ontem, mas disse hoje à minha amiga: "Estou dando aulas a heterossexuais. Desaprendi a dar aulas a heterossexuais!".
Disse.
E disse com surpresa, porque as áreas em que atuo são extremamente ginecocrácicas e homossexuais. Agora percebo que tratei meus alunos gays como se fossem mulheres. Desde 2006 os heterossexuais não eram sequer 10% de minhas classes. Aqui na minha cidade, minha classe, a que dou aula, não tem nem mesmo um único homem heterossexual.
Quando falei, não falei por piada. Não falo por piada. Falo por crise profissional, crise própria, de quem precisa se reinventar, de quem enxerga seus erros, seus vícios. E, sim, desde sempre eu gosto dos homossexuais, gosto sem a intenção de parecer moderninha - são meus grandes amigos e todos sabem que se contam a dedo (acho que em dois dedos) meus amigos heterossexuais; são as pessoas que compõem a minha vida. Talvez seja por isso que também tenha sido tão fácil manter distância afetiva dos meus alunos, poder dizer que eu jamais ficaria com nenhum deles, se um dia acontecesse. Tá, não aconteceu agora. Meu superego, para isso, é vigilante, tem senso de ridículo, pesa e pondera. Mas a verdade é que dou aula a lindos heterossexuais. Não obstante, minha cidade é mal servida de homens. Homem bonito é realmente raridade, mas vai e despencam numerosos deles à minha vista. Lógico, acho-os bonitos, mas não estou acostumada a isso, não.
Uma vez eu estava triste, infeliz e carente. Confundi meus sentimentos, parei e pensei numa proposta, daquele meu aluno que me chamou de cretina ao pressupor que eu houvesse casado - ele se baseou numa foto de Orkut, em que eu estava com um véu. Mas eu nunca ficaria com ele. Eu nunca ficaria com nenhum!
Havia um irmão de um orientando meu (que também foi meu aluno) que eu brincava e dizia às colegas íntimas que "Por ele eu rasgaria meu diploma, meus títulos, jogaria minha reputação profissional na lama!". Tudo brincadeira e exagero, porque o menino era bonito - meu orientando também, genética abençoada, mas eu construo relações maternais com eles, às vezes me penso como mãe deles, independentemente da incoerência da matemática de nossas idades.
Percebi que falo mais de política e de História na classe. Percebi que a conversa é diferente. Nem melhor , nem pior: diferente...
Acho que não sei mais falar com heterossexuais, no plano didático: é outra demanda. Ah, e é outra vigilância moral, semântica, comportamental, porque eles não são como os demais, têm uma faceta predadora, têm outra relação de poder e outras expectativas...Nas classes atuais os homossexuais são em menor número.Nas outras universidades em que estive, eles eram maioria e isso me deixa basbaque: Juro, não estou acostumada... Que esquisito!Que exercício de aprendizagem se desenha como necessidade, agora!
E pensar que aquela gente mal amada repugna aos Simpatizantes!Que povo, viu?!Não admitem que quem não seja homossexual defenda homossexuais... E eu não preciso ser defunto para defender a vida, nem para pensar sobre a morte, ora! Mas, bem, vá lá cada um com seus preconceitos, né?
Não brinco da mesma forma, acho que perdi o rebolado...Quando o convívio com a diversidade é só discurso, dá para levar...Mas a gente que convive realmente com a diversidade sexual, em dados contextos em que a minoria é contraditoriamente majoritária, entra mesmo em crise.
No meu mundo profissional, homossexual é maioria. Mulheres, idem. Continua a ser ginecocrácico o meu ambiente de trabalho, mas isso de ter heterossexual masculino em número massivo é uma novidade para mim...Já pensou? um monte alunos homens machos do sexo masculino heterossexuais praticantes - assim, com nome e sobrenome, para não deixar dúvidas...é muita testosterona para minha pedagogia...Vish!

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