Coisa
bonita é o sexo: carne que deseja carne, e abraço, e afagos, e palavras
cúmplices, e também esperas. Sei que por muito tempo meu coração acelerou de
ansiedade por ele e eu achei bonito e interessante, mesmo frente a um jogo de
esperas. Chegou, pois, o dia do xeque-mate. Quem pode?
Ele
tem um jeito sonso de roçar o rosto no meu, no meio da festa, a fim de me
contar coisas boas e nada extraordinárias. Ele sempre espera por mim. Resolvi
me confessar tímida, porque é o que sou.
Num
dia em que os anjos embaralharam meus pretendentes, aliaram presente e passado,
também foram prudentes em estabelecer um tempo que me permitisse me safar da
saia justa. O tempo inteiro eu sabia quem eu queria. O problema estava em haver
o tempo certo e isso não houve, me deixando suscetível ao mau conselho das
amigas: “Se não aparecer a pessoa certa, vá se divertindo com a errada mesmo!”.
Não é que a pessoa errada fosse errada: apenas não era minha melhor
alternativa. Assinalei errado, perdi a questão. Fazer uma escolha é eliminar alternativas.
Assim foi.
Toda
vez que a gente se fala é assim como uma concorrência para ver quem primeiro
quebrará o gelo da timidez. Às vezes ele me beija para me explicar o que os
tímidos não sabem dizer. Ele procura a oportunidade e me beija, porque sou tímida
profissional e dou trabalho. Outras vezes, digo: “Já fiz a minha parte!”. E
rimos.
Bom,
vamos aos fatos, sem muita poeticidade: ele passa três semanas em outros
Estados. Ficamos de fevereiro até este sábado sem uma só coincidência que pusesse
nós dois no mesmo caminho.
Quando
eu disse a Tella que iria ao show, ela me disse: “O menino vai estar lá”.
Espírito quente: o menino estava. Acertamos as contas: por que não me pediu o
número do telefone? Por que não me seguiu quando aleguei ir àquele outro show,
por ser lá a comemoração do aniversário do meu primo? Por que dar outra chance
ao “Feitiço de Áquila”? Coisas, claras, cartas na mesa e um telefone que liga
para o outro, imediatamente, para não haver enganos interpretativos frente ao
som da banda.
Um
pouco de silêncio, só entre nós. E uns beijos intensos e medrosos ainda (a hora
de ir embora, as pessoas esperando, os compromissos de logo mais e umas
ansiedades). Era sábado de show de rock and roll no memso bar em que a gente se encontrou há nove meses.
Domingo
de dúvidas e sono. Não liguei. Zero dois me ligou e eu pensei duas vezes.
Depois, concebi que o passado passou bem passado e que o que foi enterrado já
está morto, sem chances de ressurreição. Enrolei. Também não liguei. Saí. Vi o
jogo que não me interessava, só pelas companhias interessantes. Voltei. Escrevi,
convidando para vermos um filme determinado, que comprei, mas não assisti.
Ficou para hoje.
Hoje
sofri na dentista, apesar de dar graças a Deus por ser UMA dentista, já que
costumava namorar todos os meus dentistas ou me meter em rolos com eles. Juro que
a culpa não é minha e que eles que me deixam de boca aberta! Coisa mais
esquisita era aquele meu rolo com Rafael, que conhece minhas sensibilidades
gengivais! Vish! – passei o dia ocupada.Ah, é bom que se lembre: passei dois anos sem nenhum gracejo, flerte, namoro ou rolo, só solteira e sozinha, curtindo dor de cotovelo por chifres recebidos, provenientes de um Zé Fubuia a quem eu me prendi mais por fraqueza e desespero do que por amor. Ou era amor e dos burros, bem burros.
Meu
tio é aliado dos meus piores pretendentes: Justo hoje, que eu iria receber o
menino aqui, para ver o filme, que eu tinha o pretexto perfeito no momento
sonhado, que arrumei cabelo e lingerie exclusivas, meu tio inventou de me
berrar a toda hora, atravessando meus telefonemas, minha privacidade, toda hora
me pedindo favores e indagando coisas, de modo que não era preciso ser um gênio
para perceber que não teríamos privacidade já que divido o muro de casa com o
meu tio.
Acho
que ele, o Menino (que não é menino na idade, diga-se de passagem), pensou que não seria justo viver as coisas atropeladas, que
merecíamos mais, especialmente privacidade e paz. Ele falou como eu: “A gente planeja
melhor depois”. Venceu o depois. Tive medo do depois ficar perto do nunca. Pensei
numa fala da avó no filme Avassaladoras:
“Foda adiada é foda perdida”. Mas entendi e concordei. Gosto do que temos. E
gosto das coincidências: excedendo essas coisas do desejo, ele me contou que
foi ao mesmo lugar que eu, sábado passado, procurar o filme de que falei, mas lá
não havia. Conversamos sobre o filme, mas não vimos o filme. Tudo bem! Depois
pode acontecer. O depois pode acontecer.
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