Tem que realmente viva, prefira e opte por uma vida
sem roteiros. Este nunca será o meu caso. Tenho, ainda, uma grande satisfação
em ver cumprida uma meta, em chegar a um objetivo, em planejar e realizar.
Aqueles que tentam viver anacronicamente como hippies odeiam isso.
Gosto das coisas fora do roteiro, da
espontaneidade, mas em noventa por cento do tempo, vivo minhas agendas e meus
planejamentos. O tempo é uma coisa fugaz o bastante, que nos ludibria, que
passa sem a gente perceber. Planejar ajuda a gente a ter controle (mesmo que
seja imaginário) sobre ele.
O que em minha relação com o tempo mudou foi que
vim a perceber que certas coisas dependem mesmo de estabelecer um tempo para
elas – para realizar coisas, adquirir um bem, aprender algo, conhecer coisas,
ficar num lugar ou com uma pessoa, enfim... Mas a pessoa de quem falo, que, com
toda razão, critica meu jeito metódico com a vida, não vê que faço opções e que
para que eu possa estar em paz com o tempo é preciso que as coisas tenham hora
e lugar.
Sofro com as saudades, sejam saudades dele, seja da
minha casa, dos meus bichos, de um lugar, de uma atividade... Mas é muito
gostoso saber que depois da obrigação vem o recreio. Deste modo, nem me sinto
irresponsável nem preciso ficar preocupada por ter deixado para depois alguma
coisa que era meu dever.
Ele não entende. Na verdade, no foco mesmo da
verdade, nós não temos nada a ver – neste e em outros planos.
Hoje Marcelo escreveu para mim. Lembrei que ele
sempre foi workaholic – e este é um
ponto a que eu jamais quero chegar. Porém, vivo me enroscando com workaholic e já disse aqui que minha
analista diagnosticou: “Você gosta de homens ocupados” (respondendo por Marcelo
e por C.). Sim, eu gosto de homens ocupados e de gente que entenda a rotina
comum dos que trabalham na área em que atuo.
A vida sem roteiro é a vida fora de rota, para mim:
à deriva, mais vulnerável, mais suscetível, mais imprevisível, mais sem
rédeas...
Acho que só consigo amar tanto a minha liberdade
porque é em nome dela que planejo meu trajeto e administro meu tempo. E, sim,
devo ter em mim muitos preconceitos contra os desocupados, os sem
planejamentos, os desorganizados... Ou talvez seja somente o choque de pontos
de vista contrários... Também adoro estar à toa, mas ócio demais me enlouquece
e eu preciso estar envolvida em algo para fazer.
A rotina nos consome, mas sem ela, o que é a vida?
Um turbilhão de coisas não controláveis numa horda de ações irresponsáveis e
inconsequentes. Pode ser que a realidade das coisas seja isso: não quero ser inconsequente.
Se sou previsível? Tanto faz. Para mim, melhor assim. Na verdade, “eu tenho
pressa e tanta coisa me interessa!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário