Louquética

Incontinência verbal

sábado, 9 de novembro de 2013

Novos Capítulos de uma Velha História




O Ex-Grande Amor da Minha Vida, assim com iniciais maiúsculas de nome próprio, de experiência singular que se esvai no clichê de ser o Grande Amor da Minha Vida, como dizem os tolos todos, veio à Bahia nesta terça-feira.
Agora ele é superintendente e pode encontrar pretextos para fazer o que eu jamais acreditei que ele faria: vir para cá, para o estado onde moro. Sempre achei que fosse balela, quando ele me dizia para eu arranjar um curso, um evento, um pretexto acadêmico-empresarial para que ele pusesse os pés onde moro ou o mais próximo disso possível. Mas ele veio. E até ele vir, não acredite: deixei na conta das incertezas sem a menor importância.
E quando ele chegou ao hotel onde eu estava – porque fico lá independentemente dele, após as aulas noturnas que dou na universidade pública em Salvador – a camareira foi me acordar a pedido dele, pois eu estava num quarto single. Isso me lembra da passagem descrita por Milan Kundera, em A insustentável leveza do ser, em que Tomas lamenta que Tereza, antes de vir oferecer a vida dela a ele, deixou as malas guardadas na estação, ou seja...
Tomei banho e desci. Fui ao quarto dele (que seria o nosso). Meu coração não acelerou – amor morto – mas o dele me surpreendeu. Não obstante, após beijos e abraços (esses, sim, intensos como há seis anos), ele me perguntou se eu estava com frio... Se eu estava com frio num lado só do corpo. Então pensei que ele era bastante convencido por me deixar arrepiada e resolvi que estava bom o fato dos corpos da gente se entenderem.
Depois de F.J, passei a gostar de tatuagens masculinas. Ou talvez já gostasse sem me dar conta disso, porque fiquei hipnotizada com o “Santo Forte” tatuado no abdômen lindo do Tico Santa Cruz. O Ex-Grande Amor da Minha Vida fez uma tatuagem bem parecida com a de F.J.
Na abstinência da semana passada, vi um sujeito com tatuagem... nem vi o sujeito, só vi a tatuagem e morri de saudades de F.J – é, estamos separados e a culpa é minha... mas também tem coisas neste caso a se discutir.
Vou admitir de novo: afinidade sexual me conquista. Posso dizer que por um bom sexo, me vendo fácil, parcelo em cinco vezes e ainda dou troco. Decerto, não foi só isso: foi bom estar com ele, conversar com ele, sair com ele, dormir com ele...
Por falar em dormir com ele, que coisa chata é o convívio com quem ama ar condicionado. De manhã ele reclamou porque eu estive com frio a noite inteira. Morro de frio por qualquer coisa. Achei que um abraço quente compensaria para as duas partes: nada feito.
Ele enrolou um pouco, mas depois perguntou: “Você está malhando?” E eu respondi que sim, sem me atentar ao ato que faz apenas um mês e meio que voltei à academia. Isso não foi só uma pergunta. Acho que foi estranho, mas lisonjeiro, constatar que meu corpo talvez não apresente sinais evidentes das mudanças dos últimos seis anos em que ele não vê intimamente. Talvez ele julgasse que a esta hora eu já estaria acabada, despencada, flácida, sei lá... E ele falou que também voltou a se exercitar na academia.
Achei todas as descrições da vida dele um saco. Continua workaholic, mas não se dá conta disso. No caso dele, sinal evidente de que a vida doméstica lhe enche o saco: Disse-me que odeia o fim de semana, que já não sai para dançar, que algumas vezes chama os amigos para beber cerveja na varanda do apartamento e que reza pela volta da segunda-feira. Eu já vi este filme, não querendo, pois dizer, que acho ruim trabalhar.
Para confirmar as piores suspeitas dele (sei que ele me acha bem acima do que sou), numa daquelas incríveis piruetas feitas pelas coincidências e coisas improváveis, uma desconhecida ligou para meu celular. Resolvi atender, estranhando o número: era um convite para uma palestra, numa universidade pública – sei lá, mas a moça que me contactou assistiu a uma apresentação minha, em dezembro de 2010 e quando surgiu o evento, ela lembrou de mim, procurou o Programa de mestrado que cursei e catou meu contato. O Ex-Grande Amor da Minha Vida ficou fazendo gracinhas e sugerindo que iria rir do quanto eu cobraria. Ora, não sabe que é gratuito? Não sabe que não vendo minha presença? Não sabe que o ganho é simbólico? Bom, ele obteve , então, o certificado de minha fictícia vida glamorosa.
Foi muito bom passear e fazer coisas que não fizemos na primeira versão do nosso namoro. Mas houve algo de saudade e angústia também. Finalmente ele me provou que era verdade tudo que ele apontou como elemento responsável por nossa separação. Mas este será outro capítulo.

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