Louquética

Incontinência verbal

domingo, 3 de abril de 2016

Dançar a dois


Quando escrevo aqui, geralmente escrevo com espontaneidade e acabo não fazendo revisões posteriores à escrita em si. Depois de um tempo, releio o que escrevi e acabo rindo pela pontuação faltosa, pela vírgula que ficou onde era ponto e vice-versa, pelas letras trocadas e omitidas...Mas costumo apostar na sagacidade de meu leitor que, suponho, sabe que são lapsos apenas.
Sou assim com o teclado do smarthphone: aposto que o outro entendeu que foi o corretor automático que corrigiu errado qualquer troço.
É, mas cá estou para falar do que não está escrito, embora já possa ser lido: Poxa, eu estou gostando Dele. E é sério. Tão sério que declinei de sair com Dr. T., na quinta-feira.
Continuo achando que os homens que eu namoro são muita areia para a minha carroça. Às vezes me pergunto o que foi que eles viram em mim. Já escamoteei para perguntar e obtive como resposta coisas bem esclarecedoras. Mas a pergunta não é por questão de fraca/baixa estima de mim mesma. Vou explicar uma coisa agora, que me surpreendeu, ontem, e que se correlaciona com esta citada, ressalvando que eu sou tímida, não sei flertar (correspondo se o flerte se estabelecer) e dependo da iniciativa e investida do outro para, então, algo acontecer.
Estava eu despretensiosamente dançando um forró sozinha, no cantinho entre minha mesa e o bar - ou seja, nem fui para a pista - a fim de evitar convites porque não sei dançar a dois. Lá fiquei, próxima à mesa em que minha amiga e acompanhante ficara sentada, tomando um vinho.
Lá vem um sujeito até mim. Pede para dançar, já atropelando que se trata de uma aposta com a amiga dele que nos observa. Diz que ganhará cervejas e dinheiro. Explico-lhe que não sei dançar a dois. Ele já me pega e sai dançando naquele mesmo cantinho. A música estava no fim e dançamos menos que um minuto. Ele para, esperando a próxima, dando a entender que a aposta só valeria por uma música completa. Pronto: vamos dançando. O cronômetro deve marcar quatro minutos para tudo que ele tem que fazer: começa por admitir que ele que propôs a aposta, para poder chegar até mim. Eu brinco, dizendo que a moça que ele namora, e que eu já tinha visto, vai dar uma de Ivete Sangalo e gritar "Quem é essa aí, papai?", fora que já estávamos cheios de assunto.
Ele me diz que a moça é ficante.
Passa, então, a me perguntar coisas pessoais e diz o nome dele com sobrenome. Observo o sobrenome italiano, que ele diz ser do avô.
Depois, entendo o propósito: ele sabe que há muitos homens com o nome de Daniel. Ele quer ser encontrado.
Passa a me dizer aos pares, pausada e repetidamente os números do telefone dele, implorando para eu memorizar.
Na dança, pega em meu corpo com esmero e respeito, mas traçando com as mãos a avaliação que faz - impossível não perceber o traçado da avaliação: peso, altura, formatos, aromas...- e se excita.
Para a minha sorte, o sujeito é educado, inteligente e sagaz - boas palavras, delicadeza, nem um S esquecido, nem um R omitido, nem um pronome fora de lugar. Na beleza, nada de extra, mas compatível com o que gosto: branquinho, olhos azuis, cabelos macios...
A namorada dele volta para a mesa no momento em que ele também resolve voltar - na minha cabeça, porém, a amiga dele estava vigiando a volta da namorada, não havia aposta, mas cumplicidade e armação.
Onde isso tudo se encontra com a pauta anterior: a namorada do Daniel era uma jovem loira de corpo bonito, boa dançarina, aparentemente, uma fofa. Ou seja: eu não tinha nada melhor que ela, objetivamente. Citei isso não por disputa, mas pela velha questão de que, via de regra, os homens trocam uma mulher mais velha por duas mais novas.
Pensei nas manobras que os homens fazem quando querem trair: até embaixo das barbas da namorada.
Não ha dispositivo anti-chifres no planeta - vide Matheus, que traía à esposa enquanto descia do prédio a despeito de ir ao mercadinho que fica a uns três ou quatro quarteirões do seu próprio lar.
Aí pensei no meu amado, que além de lindo, acabou de ganhar mais um prêmio literário ( ele nem sabia: eu que vi, pela internet. Na volta da viagem dele, contei  e ambos ficamos felizes): estar com um cara bonito, inteligente, criativo e etc., tem o alto preço do flerte constante, ativo e passivo.
Jogando limpo: Dr. T é um gato; meu amado é um gato também. Claro que namorei criaturas normais, criaturas também anormais e abaixo do padrão mínimo de simpatia, mas estes foram mesmo exceções ou pessoas cuja beleza foi, posteriormente, devorada pelo tempo ou pelos vícios. Mas, no todo, paro e penso como eu, que nem sou de ir atrás, consegui namorados tão bonitos (aqui incluído o Ex-Grande Amor da minha vida, que tem um corpo mais bonito que o rosto, dentre outros atributos).
Meu amigo Leonardo, quando do início do meu namoroatual, falou: "Você dá o seu preço", ou seja, eu sei o quanto valho e se eu nada tivesse de extra, não atrairia os ipos que eu atraio.
Bom, que sorte!
Decidi resolver mesmo a vida.
Entendi e aceitei que gosto Dele e que é sério o gostar.
Em respeito ao aniversário dos meus flertes, que não sei por que são todos arianos de datas vizinhas ao meu próprio aniversário, vou encerrar o contato flerteiro assim que passar o evento comemorativo.
No fundo, nem acredito que estou gostando Dele.
Escrevo aqui, claro, como espaço confessional, mas não quero nunca tornar público nosso relacionamento.
Já saímos de nossas respectivas páginas de Facebook para evitar problemas - tem sempre quem se mete; tem os ciúmes dele a respeito de tudo que eu publico, tem os meus ciúmes que ao menos são menores, tem gente fazendo pergunta, gente jogando veneno - e eu gostaria que continuasse assim.
Tenho medo de ficar sério e chato.
Sério o sentimento já é.
Chato fica quando se incorpora a rotina, o ritual, a obrigação...Tão bom é a surpresa do encontro e o encanto do não planejado...Adoro os desesperos dele, porque dá aquele rompante de me pedir para ir vê-lo naquele instante, por vontade, por necessidade, por um querer verdadeiro...
E do número do Daniel? fiz questão de esquecer. O sobrenome italiano, não: era marcante; reforçado pelo fato de também o meu bisavô ter sido italiano e a pronta identificação...Mas não vou atrás, não: tomei minha decisão. Não sou hipócrita: também tenho ego, também devo levar chifres, mas também sei renunciar a um flerte quando estou afetivamente tranquila. Vou arrumar a casa dos afetos, que precisa de asseio, faxina e nova decoração. De coração!

Nenhum comentário:

Postar um comentário