Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Fomos feitos finitos


Ah, fiquei bem entristecida, tocada, pela morte brutal de um ex-colega de trabalho do tempo em que dava aulas num município a 45 km daqui da cidade. A morte dos próximos sempre nos reporta à nossa e nos leva a querer aproveitar mais a vida.
Depois que me tornei espírita, porém, passei a crer que cada um dura na Terra o tempo que lhe for útil...Isso não atenua meus pavores, mas me consola por saber que aqui ficamos enquanto for preciso. As abreviações ou distensões de tempo são coisas que nós julgamos haver, mas nem sempre corresponde. O dia da morte e inevitável. Aceitemos a finitude.
Uma amiga próxima mudou muito ao perceber isso: ela deixou de trocar o piso da sala, para viajar a Paris. Ganhou mais com isso. E a sala continua lá, com um piso. Um dia terá outro piso.
Somos o que vivemos. Eis as nossas bagagens.
Aprendi muito com um namoro que eu tive e com um professor amigo que também namorava à distância: é preciso valorizar o tempo de estar junto. Isso eu aprendi com Ricardo, que me dizia não valer brigar por causa de um atraso, se ele queria tanto ficar comigo e estava brigando porque queria ficar com ele. Perderíamos nosso tempo com brigas, quando poderíamos estar em abraços e beijos.
Meu professor, tristonho, dizia de sua amada, que morava ali em Salvador: quão dura é a distância. Depois, falou de quando queria ela perto. Só para abraçar. Só para ver que ela estava ali, com ele...Por fim, falou de sexo e que os desejos não esperam.
Entendi que os desejos passam.
Penso que quando queremos sexo com quem está longe, perdemos muito. Desejar é lindo! Digo aos homens que namoro: o melhor afrodisíaco é o desejo.
Não adianta cueca branca de marca internacional, nem calcinha com cinta-liga, nem tomar estimulantes: o maior afrodisíaco é o desejo.
Com meu namorado, odeio seguir a agenda, Meus desejos não cabem numa agenda, não esperam finais de semana nem datas especiais ou horários vagos possíveis. Também não caberiam num convívio contínuo.
As pessoas deveria saber deixar saudades.
Não precisa ser saudade cortante, tipo essa citada, da longa distância...
Bastava ter vida própria, guardar a distância regulamentar, coisas que o namoro saudável dá.
Mas, não: as pessoas vivem vigiando os genitais das outras, os celulares, os desejos...Impossibilitando seus pares de serem pessoas de verdade, dissimulando os desejos...Que pena!
Não estou acima disso: não vigio o pau ninguém, mas tenho meus ciúmes...Pouco, porque sou racional, compreensiva...Porque sou um ser igual ao ser que eu gosto. Logo, entendo. Também desejo, também flerto, também escamoteio.
Deixa eu fazer só um adendo: embora não seja novidade, é tao ruim ver nossas piores impressões confirmadas! Uma ex-amiga deveria saber que, por el eu perdi o respeito e a amizade; não perdi meu caráter. jamais espalharia os segredos dela. Jamais diria os segredos dos outros que ela me contou.
Sempre soube que o focinho em minha vida, atrás dos meus segredos poderia resultar nisso.
Dito e feito: fez intrigas com a amiga em comum; falou de mim por aí, coisas terríveis.
Coisas terríveis são os adjetivos que ela escolheu para se referir a mim; não cometi coisas terríveis: sou solteira, honesta e independente. Nada temo. Mas gosto de privacidade. E, sim, tenho mais segredos que os cofres do Banco Central do Brasil. Por isso mesmo: há coisas que compartilhamos e coisas que somente os envolvidos sabem; ou que somente eu sei. O segredo vai para o túmulo. O segredo das minhas amigas também.
Segredos graves, que renderiam boas pautas e fofocas: sou ética e não conto.
Mas, sim, como esta postagem começou com morte, eis para onde caminhamos...Inevitavelmente.
O intervalo que fazemos até à cova chama-se vida: preciso cuidar da minha, ser feliz, usar o vestido reservado para a data especial, trabalhar o perdão das ofensas, renovar os desejos e desejar mais e mais...Doar meus órgãos para que sejam úteis a outras vidas e voltar ao pó. Que assim seja, mas que eu descanse em paz desde já: a paz é uma conquista, não um silêncio de túmulo...Quero estar em paz, sem ninguém me irritar, me perturbar, me tirar do sério...E é para isso que tiramos as pedras do caminho: para caminhar sem chutar as pequenas pedras das chateações, das injúrias, das falsidades, do desrespeito, das amizades irrecuperáveis, dos incômodos, dos fardos adicionais que nos aparecem...E duraremos o quanto Deus determinar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário