Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Pois que era todo seu meu coração!


Não sei por que cargas d'água fui ler o último e-mail que escrevi para V. Ah, nem cabe ocultar: Vinícius, mesmo.
Talvez fosse  meu inconsciente querendo me certificar que gosto do poeta, mas não amo e dificilmente amarei...Talvez seja o mesmo inconsciente me reforçando que não amo mais Vinícius, mas amei, por mais que me pareça absurdo.
Li e não fiquei bem.
O ex-Grande Amor da minha vida me dizia que eu escrevia para doer...que eu escrevia com intensidade, que eu me fazer ver em minhas palavras: eram dor em alma, expostas nas letras.
Hoje que não amo mais Vinícius, ler o último e-mail me doeu tanto. Poxa, é tão difícil a gente aceitar que colocou nas mãos do outro o nosso tesouro mais autêntico, mais verdadeiro, mais original, que é o coração sincero pleno de amor.
Não acho que haja obrigatoriedade de ninguém me corresponder.
Acho, porém, cruel, a postura de o ser amado se sentir dono da situação e brincar com a potência do sentimento do outro.
Aí, li: ali estava um coração desolado, sincero e lúcido, que era o meu.
Era só desabafo. Mas era tudo que eu tinha. Era eu, desnuda, real, a dizer que ele era muito importante para mim.
No fim do e-mail eu citei os Três mal amados, de João Cabral de Melo Neto, já reproduzido aqui, mas sempre me dói lembrar tudo que o amor comeu. Ainda mais quando o poeta escreve lá, que o Amor bebeu a água das quartinhas e até a dos olhos, que ninguém sabia, estavam cheio de água.
Vinícius nunca respondeu a esse e-mail.
Respondeu a poucos outros.
Hoje, ele só tem minha palavras em monossilábicos eventos comemorativos.
O amor comeu todas as minhas palavras e deixou um rombo semântico bem difícil de explicar.
Não e cruel quem não ama, mas quem usa o amor por si como tortura.
Há amores que pedem distância: são amores por parentes e amigos, já cheio de espinhos e mágoas, que não se consertam com desculpa e polidez.
Não amei, pouco gostei de G., meu amante de longa data... tenho isso: às vezes é somente sexo mesmo. Já outros, não. Não faço escolhas deliberadas. não tenho como acionar o botão de amar, mal-amar ou desamar...Gosto muito dEle, tenho saudades e etc., mas me parece, também, o mesmo que tive com Thales: paixão sexual e aquela hipnose, por ele ser lindo.
Valeu tudo que foi vivido, mesmo o amor não se concretizando: sou humana, sofri, mas me consolo por saber que amor é uma emoção linda. O problema nem é que ele não correspondeu, mas porque ele não respondeu a tudo, quando poderia tê-lo feito.
Talvez minha memória sobre esses fatos seja a memória da despedida, do morto sendo enterrado sob a cova do esquecimento...
Nada será como antes porque a vida não retrocede.
Sou chata. Não volto em sentimentos.
Aconteceu de eu ter dito "sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar", citando Fagner, para Vinícius, já por setembro ou outubro do ano passado...Mas passou. Veio o outro V., e a história mudou toda.
Minha vida mudou numa noite, num show do Scambo, no Ária.
Não aconteceu de eu conhecer ninguém: um barato se instalou em mim e eu mudei. Só.
Saí do show e acordei diferente. Tudo diferente.
Daí, em dezembro, comecei o namorinho com o poeta...E ei-nos aqui, até hoje - com crises e momentos felizes...
Mas minha vida ia lenta.
De resto, estou tal Leminski: "Não brigo com o destino: o que pintar, eu assino"!.

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