Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 15 de abril de 2016

O que se parte


Não era como eu pensava: meu namoro não deu certo mesmo. Claro, continuo covarde e Ele não foi comunicado ainda disso...Acho que fico cozinhando, deambulando em mim mesma, com medo de lançar o decreto do fim durante o calor de minha sinceridade afetada.
Machista e misógino, como sempre. Ou como nunca...
Relacionamento é isso, essa complicação: para uma parte, está tudo certo; para outra, tudo é falta.
Ontem, de fato, foi demais: Ele me disse que as mulheres conversam demais. Antes, já tinha dito que eu parasse de conversinha, quando eu quis conversar sobre outras coisas. Não nego que eu estava irada e nervosa, porque ele foi novamente negligente comigo e ainda falou do meu aniversário como uma comemoração equivocada para quem faz mais um ano de vida, em direção à morte. Pelo menos, me disse temer a morte.
Falei a Ele que isso era negar o meu Ser. E que mesmo assim, meu silêncio seria comunicante.
Novamente, ouvi a velha grosseria: mulheres não deveriam falar, nem argumentar e, segundo Ele, não fosse pelo sexo, nem mereceriam uma só palavra trocada.
Na covardia, ele sempre usa expressões coletivas: mulheres. Deve saber bem que me mandar calar a boca poderia custar caro.
Esfreguei na cara dele o conceito grego clássico machista embutido naquela postura, prontamente admitido. Sim, Ele admitiu: sou um grego nascido no sertão, em outra época. E como eu não quero ser coisificada, nem estar abaixo mesmo dos escravos, tal como na sociedade grega, decidi que não quero mais Ele.
Gosto dele. Decerto, não amo. Tenho gratidão por ter me vindo gratuitamente, alegrado minha vida sexual, ter sido um bom interlocutor...Mas se me silencia, a palavra é somente dele. Exclusiva.
Sou subornável por um bom sexo, por uma boa cara: ele é lindo, bem lindo, já disse isso. É inteligente e muito bom no sexo. Essas são as moedas de troca. Isso me segura. Paro e penso que somos iguais: talvez eu não desse bom dia a boa parte dos homens com quem falei e falo, não fossem os elementos que me subornam. Mas não os diminuo. Gosto de homens. Gosto de homens como seres. E gosto de homens como seres que podem me dar satisfações físicas e emocionais também. Todo ser, para mim, é completo e complexo.
Talvez eu aja na mediocridade conveniente, deixe para lá...Mas nunca deixaria para lá, na realidade: para mim, acabou. Se eu voltar a vê-lo, será por sexo mesmo...Mas nem sei se isso se concilia, porque o desejo e a repulsa, postos numa mesma mesa, deve dar indigestão...
Talvez, agora, eu tenha dificuldade em processar minha perda. Ando chata: mandei meio mundo de ficantes e candidatos para o espaço. Não quero. Saber o que não quero, ajuda. O que busco, agora, é ser sincera com meus instintos, nessas terras de poucos heterossexuais praticantes...
Deixa estar. Mas, dentro de mim, acabou. Aos poucos vou admitir a mim mesma que há preços altos demais para se suportar um machista...Ele é ridículo nesse ponto.
Dentro de mim, tudo se separou. Até meu coração, se separou em várias partes pequenas...

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