Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Distraindo a verdade, enganando o coração


Aí inventei de assistir àquele filme com a Lílian Cabral, Divã. Putz, bateu uma sensação de auto-referencialidade como se fosse eu, no filme. E claro, no final, ela fica sozinha.
Escrevi até em meu diário sobre todos os dias desta semana que ainda não chegaram, tamanha a previsibilidade de minha vida. Não há surpresas.
Na verdade, acho que eu nem notei quando minha vida foi ficando vazia de gente, mas entendo cada vez mais o desespero de causa de Jaulla.
Certa vez ela me disse isso: resolveu ficar com Coruja e se abriu à paixão porque se sentiu em um final de novela, em que todos os pares estavam feitos, os destinos traçados, a trama revelada...então ela viu que era hora de fazer o final para a personagem dela. E para lá se encaminhou.
Senti vontade de voltar para Ninno. Não por amor, mas por desespero. Do cálice desta solidão eu não me lembro de ter bebido antes...
Acho isso altamente depressivo. Vivi coisa parecida no meu emprego no Corpo de Bombeiros, porque me achei incapaz de alcançar um outro futuro. Restava, então, esperar a morte chegar. Ir aguentando, porque futuro não havia.
Ontem eu estava na fila de uma badalada padaria de Feira (Rios, da Santa Mônica) e não vi quem estava atrás de mim, cheirando meus cabelos, forçando o contato.
Tratei de deixar minha bolsa um pouco para trás para impedir que a pessoa avançasse. Claro, só podia ser homem, porque sapatão é discreta.
Era um adolescente bonitinho e sonso.
Bom para o ego. Só isso!
Aí quando vi o filme, notei que a protagonista (Mercedes) só se relacionou com garotos ou rapazes mais novos que ela, após o divórcio. Claro, me vi de novo nesta.Relacionamentos previsíveis, sem futuro, sem muito para fornecer.
Tem sido, até certo ponto, assim: no começo, saldei as dívidas morais que tive comigo mesma, por conta dos amores a que renunciei por estar com Ninno e do tempo estagnado em nome de minha paixão por Marcelo. E foi muito bom! Valeu.
O tempo passou.
Cansei de Dexter. Cansei de Jean-Paul, que não entende que para mim ele é só um amigo. Cansei de Leandro. Ah, cansei de tudo! Cansei, inclusive, dos jogos de ego com Thales. Por mim, vão todos para o inferno... ah, não vão não: me encontrarão por lá.
Vou à formatura de Enfermagem, nesta sexta, aguentar as perguntas da família de Ninno e dos amigos em comum (a cunhada de Ninno, noiva do irmão dele, vai se formar)... aí seguirá tudo de forma previsível. Que saco!
Por isso não entendo mesmo, repito milhões de vezes, como alguém pode desejar a vida eterna? cacete!!!uma existência só já me dá tanto trabalho, e essas pestes querem viver eternamente.
Tá bom que não quero definhar e que tenho medo da morte, mas espero que Deus seja generoso e me carregue no tempo certo, não me encaminhe para as fraldas geriátricas.
Nem sempre ao pensar nestas coisas estou infeliz. Constato e vivo.
Ontem isso me deixou verdadeiramente triste, assistindo à minha vida como se estivesse tudo errado!
Ainda bem que sei ler o contexto e valorizo e louvo minhas conquistas, como o meu doutorado, minhas aprovações em seleções, a vitória de ter deixado o emprego porcaria que eu tinha, a glória de não amar mais Marcelo (que me chamou para passar este final de semana com ele, por exemplo, num convite que não deve resistir à quinta-feira porque, previsível, ele dirá de um impedimento, de um imprevisto) e as várias outras coisas que alcancei e que me permitem me olhar no espelho e dizer: "Olha, quem diria!". Talvez por isso eu entenda e admire tanto o Magnífico Senhor Reitor José Carlos Barreto - que ganhava as eleições da UEFS e nunca tomava posse, devido ao voto paritário. Até que ganhou e venceu. Na época, acompanhei isso tudo. Lembro até do jingle que nós, estudantes, criamos para ele ( e que tinha isso, do "olha quem diria")...é o que nos salva: poder olhar e ver o que mudou, apesar de tantas coisas paradas, sem o menor movimento.
Lembrei do chatésimos dos Engenheiros do Havaí: "Minha vida é tão confusa quanto a América Central/Por isso não me acuse de ser irracional".

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