Louquética

Incontinência verbal

domingo, 6 de setembro de 2009

'Pero que las hay, las hay"


Bem, o fragmento atribuído a Cervantes, segundo o qual embora não se creia nas bruxas elas existem, muito nos ensina.
Tenho uma coleguinha mais ou menos assim: mediadora, gentil, correta, idônea, amiga, solidária e com uma de fragilidade surpreendentes. Eis a bruxa.
É o perfil da pessoa que é amiga de todo mundo para, uma vez se apropriando dos segredos alheios, divulgá-los entre os seus supostos melhores amigos, numa cadeia interminável de intrigas e fofocas.
Outro fator interessante é o processo de edição das falas, dos diálogos e das ações dos outros. Isso funciona como se alguém, atrás de uma porta, ouvisse de repente: "Tire a calça!" e daí construa uma narrativa erótica. Contudo, o "Tire a calça" tratava-se de um imperativo de duas pessoas arrumando uma mala - em que uma delas reclamava do volume a mais dessa peça de roupa.
Sim, ela é do tipo de pessoa que diria: "Se vocês forem agora ao presídio irão encontrar o pai de José"... O caso é que o pai de José, minha gente, é carcereiro. Óbvio que estará lá, não é?
Essa amável pessoa comentou os problemas financeiros de outra colega - isso, claro, tempos depois de comentar a diferença salarial (para mais) dessa mesma colega - e a coitada lá, confiando.
Sim, ela é uma bruxa: faz previsões e joga cartas. Joga com as impressões que deixa no universo simbólico de quem recebe a notícia de que irá morrer ou passará pela morte de alguém querido. Mas, como condenar essa falta de humanidade se ninguém consegue ver o quanto ela é maldosa?
Também dizem que o finado Antônio Carlos Magalhães dizia que "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a justiça". Ela também é assim, populista.
É preciso muito faro e olho vivo para percebê-la em sua sagacidade, em sua ardilosidade e nos escamoteamentos que ela faz...
Coitados dos meus amigos! Eu nunca diria nada. Não funciona dessa forma: é preciso ver, juntar as peças...por mais que os exemplos dêem pista, não adianta.
Figurinha invejosa, mal resolvida e mal agradecida (não comigo). "É vil, é mentirosa/ a alegria alheia a incomoda/ venenosa, erva venenosa"... música feita sob encomenda para ela, aposto!
Sim, eu creio nas bruxas. Mas, para elas, Mário Quintana:
"Esses que agora
Atravancam meu caminho
Eles passarão
Eu, passarinho."

Nenhum comentário:

Postar um comentário