Louquética

Incontinência verbal

domingo, 4 de agosto de 2013

Amor e álcool


Descobri que o visual da bebida exerce muito poder sobre a vontade de beber. Como não me entendo com o álcool. como não gosto de álcool, peço as bebidas e os drinks como se mostram no cardápio e solicito contraditoriamente: sem álcool.
Uns garçons me dizem: "Seu suco!"; uns amigos me dizem: "Seu suco!". E o que vou fazer? não gosto de álcool! Pior é pagar por um suco o mesmo que se paga por um drink, pois não abatem do valor a vodka que não vem. E por falar em vodka (poxa, acho vodca escrita com C menos elegante que a escrita com K), ando perambulando pelo supermercado, sempre paquerando vodkas.
Confesso: queria tomar uma Absolut. Um ex-aluno meu, Álisson, me convenceu de que vodka Absolut é uma delícia, que nem parece álcool. Prudente, porém, me advertiu que é beber e cair duro no chão. E eu tenho intolerância ao álcool. Nem, por isso deixo de deambular nas prateleiras de supermercado. Vejo os vinhos e me encanto com as embalagens; vejo as vodkas e penso no que elas poderiam fazer pela minha vida social, mas vou logo me dissuadindo porque para tudo eu preciso ficar em pé e aí é uma coisa ou outra.
Neste sábado foi um inferno: congestionou a linha aqui de casa. A verdade é que estou em processo de engalinhamento e como não chovem heterossexuais em minha horta todo dia, tento administrar os flertes e levar à frente minha incipiente poliandria. Brincadeira, pois nenhum deles é meu marido. Acho que eu tinha curiosidade em ver como é possível administrar uma penca de relacionamentos, principalmente aqueles que não são assumidos como relacionamentos. Mas ontem o bicho pegou! O telefone tocou na hora errada, Rodrigo, que nem existe objetivamente nesta história, resolveu dar o ar da graça, o fincante Zero Dois colou em mim e e em minha casa; o ficante Zero Um estava para chegar no começo da noite... E minha cabeça não estava nada criativa para fabricar as desculpas esfarrapadas.
Conselho: se você se meteu em confusões amorosas,atualize a lista de desculpas esfarrapadas e deixe previamente armado com os amigos os pretextos que vão livrar a sua cara.
Graças a Deus, pintou um amigão para me salvar ontem!
Lógico que era daqueles amigos "mais que irmão", que para não perder a rima, se chama João. Que, por sinal, detestou o naipe, a cara e o jeito do Zero Dois e ao conhecê-lo confessou: "Mara, tu arranja cada figura!".
Sei é que ontem, além de dançar forró sem saber dançar, rebolei, viu? Na iminência do Zero Um chegar, me arrumei em tempo recorde, dei uma crise para arrancar o Zero Dois daqui, chamei um táxi de repente e acabei indo na casa dele, do Zero Dois, a pretexto de que ele se arrumasse para a gente sair.
Juro: me deu uma angústia louca. Puro desespero.
Já dei flagrante em namorados e já destruí um para-brisas para forçar o traidor a sair da toca, mas deve ser o pior sentimento do mundo a pessoa ser desmascarada, flagrada em delito... A casa cai e por maior que seja a cara de pau, não há quem fique de pé. Temi por mim!
O problema é que ele mora com a mãe. E ao lado, mora a irmã. E os sobrinhos. E as cunhadas. E, de repente, virei atração de circo e todo mundo apareceu para me conhecer.
Minha Nossa Senhora da saia justa!
Devo dizer que Zero um mora a poucas ruas de Zero Dois. Logicamente, os parentes deles são vizinhos entre si. Mais importante que a minha coragem, foi a minha cara de pau - e se chovesse cupim eu morreria desfigurada ontem à noite!
Educadamente falei com todo mundo, conversei, aceitei o café, vi fotografias e segui rezando para ninguém me ligar.
Depois de um tempo, saímos de lá. Passei raspando na casa de Zero Um e nas ruas que ele costuma ficar.
Andei tranquila e feliz depois de um tempo, de mãos dadas com o Zero Dois, feliz - e meio insegura e desnorteada.
Ontem vi que ele é mais que ciumento: em minha casa, grudou no telefone a cada vez que o fixo tocou. interpretou o que ouviu ao modo dele e comentou que eu recebia muitos convites para sair.
Corri perigo e liguei para o Zero Um do meu celular: ele insistia em perguntar com quem eu falava, mas como eu não sou da 'babação' de estar dizendo palavras bestas tipo: "Mô, amor , querido", ficou por isso mesmo.
Finalmente, quando a desculpa para eu voltar sozinha para casa apareceu, Zero Dois deu crise, me ameaçou nunca mais olhar em minha cara e sacou a arma que tinha: alegou que embora  a gente não admita e nem se dê conta disso, somos namorados.
Aí, meu ex está doente e desequilibrado, muito mal, a ponto de ser compulsoriamente internado por causa de vício em álcool. Gosto dele e não quero que ele fique ao deus dará. O resultado é que acolho ele, mas se os adjacentes souberem, me mandam pastar;
Rodrigo resolveu aparecer e por ele eu largo o processo de engalinhamento e fico somente com ele.
Não levo os flertes a sério porque apesar das coisas que nos unem, eles não me dão um chão firme para pisar... E imagino meu destino atado a essas pessoas que são divertidas porque me são esporádicas, mas que me encheriam se fossem constantes.
E , finalmente, sexta-feira passada aquele que "Não pode ser" deu de cara comigo, me cumprimentou, trocamos meias-palavras e como sempre ocorre, apareceu um empata e empatou a situação. Quando ele pegou em minha mão, estava suando frio. Comentei de brincadeira que aquilo seria efeito da vodka da noite anterior. Mas eu sabia que era nervosismo. Apesar de "Não poder ser", poxa...ai, ai!
Bom, depois da desculpa esfarrapada achei que Zero Dois não iria mesmo falar mais comigo, porque ele rodou a baiana, me disse cobras e lagartos e ainda jogou em minha cara que eu era dissimulada, que larguei a rede para pescar até a simpatia da mãe dele, que devagar eu infiltrei os sentimentos dele e blablablá... E eu fiz jus e passei o dia mandando torpedos indutores e persuasivos. Deu certo!
Concluo que amor e álcool são parecidos: primeiro, aprecie com moderação; segundo, embriaga mesmo; terceiro: atraem por sua embalagem; quarto:têm efeitos colaterais.

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