Quem somos nós diante do mais forte? Apenas a
vítima, seja lá qual for o teor do mais forte – na medida das forças do poder
burocrático, do espiritual, do ideológico, do estratégico, do político... O
mais forte é o mais forte.
Repito o que já disse aqui outras vezes, citando
Milton Nascimento: “Forte sou, mas não tem jeito: hoje eu tenho que chorar!”.
Mas não que eu seja MAIS FORTE. Sou apenas forte em algumas coisas,
subjetivamente – porque já desmoronei e resolvi me reconstruir com materiais
mais resistentes.
Pois é: Leandro morreu, nesta quarta-feira de
manhã, quando saía de casa para ir para a universidade. Ele estava de moto e veio
um veículo na contramão. A colisão frontal resultou na morte dele, aos 26 anos.
O motorista assassino largou tudo lá, saiu
correndo, fugiu, evitou o flagrante e ainda que fosse pego não aconteceria
nada, pois crimes de trânsito, no Brasil, não geram qualquer consequência
punitiva. Além disso, Leandro não voltaria a viver.
Devo dizer que minha indignação, neste caso, é
quanto ao comportamento geral das pessoas que estão erradas, sabem que estão
erradas e ainda assim não têm a lisura de responder pelo que fizeram.
Vejo isso sempre: os pais que sabem dos crimes dos
filhos, mas defendem os filhos errados a qualquer custo; mentem para garantir a
liberdade deles; os outros tantos que atropelam, matam, mutilam, e são
incapazes de arcar com o que fizeram, de pedir desculpas, de se colocar no
lugar da vítima.
Mas quando a gente está infeliz, não dá tempo para
sentir a plenitude da revolta.
Sei é que eu estava voltando da UFBA, a caminho de
Feira de Santana, cerca de 19h30min, quando recebi um torpedo SMS em que Tella
me contava que “o filho de Álvaro morreu hoje de manhã, vítima de acidente”.
Relutei a acreditar e a entender.
Cheguei em casa, acessei o site que Tella indicou:
lá estava a descrição dos acontecimentos, com o detalhe de que Leandro “Foi
arremessado acerca de cinco metros, contra estacas de cercas de um terreno”.
Assim.
Isso foi na quarta à noite que eu li e soube. Na
quinta de manhã foi o sepultamento – um atropelo nas minhas emoções, que não
tive tempo de processar as informações, de entender alguma coisa.
Chorei muito no enterro. Nunca mais vivi um luto
real, desde a morte de minha avó, quando eu tinha cinco anos. Outras pouquíssimas
pessoas (graças a Deus) morreram desde lá... De modo que eu não acreditei, como
ainda não acredito.
Dizem que passamos pela NEGAÇÃO, pela REVOLTA e
pela NEGOCIAÇÃO, até chegarmos à ACEITAÇÃO. É. Acreditem: passamos sim.
Sei que o meu primo Nanno também se atordoou. E foi
a tal ponto que ele pediu para que eu orasse muito por Leandro, porque
certamente ele seria um espírito confuso – eu, particularmente, creio nisso:
ninguém que morre sabe que morreu. E demora a saber – mas eu só consegui ficar
muda, muda, muda por muito tempo.
Ainda não sei falar.
Não perdoo o fato de a gente não ter se despedido,
não consigo me desvencilhar das maiores lembranças da gente juntos, no camping,
nas festas, na extinta Boate 40 graus, na festa da UEFS, na comemoração que
fizemos quando passei no doutorado e na única vez em que nos desentendemos
seriamente, porque ele me ignorou a pedido da ciumenta namorada dele.
Lembro da primeira vez em que fui com ele a
Imbassaí e do quanto a gente se entendia... Talvez agora é que percebo que a
gente construiu história – na imagem acima, estávamos no Aeroclube, indo a um
show no Rock in Rio Café, em setembro de 2005. E talvez agora seja possível que
eu assuma a falta que ele me faz.
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