Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Sétimo Dia


Aos que ficam na Terra, a vida segue, com seus altos e baixos: decidi que eu não iria à Missa de Sétimo Dia. Orei de casa mesmo, tendo me adaptar ao que ocorreu. Conforme eu disse, a morte não é somente um susto para quem morreu, mas para nós, que pouco sabemos sobre nós mesmos e tudo que parece mistério, porque, afinal nada foi desvendado.
Hoje foi um dia de saudades: minha aluna, italiana, disse que está voltando ao seu país de origem nestes próximos dias, minhas alunas nigerianas tiraram mil fotos comigo e longe de eu me sentir envaidecida, senti saudades desde aquele momento. E os outros que não serão mais meus alunos, aqueles que acabam desenvolvendo carinho, proximidade, constituindo silenciosos laços de empatia, não deixam de instalar nostalgia em meu coração. Já disse a todos que não sou feita de lata e constituo afetos, sim. Como um jogador de futebol que quer evitar o impedimento, guardo uma distância regulamentar, que preserve a ética. Distanciamento burocrático, lógico, para que o atravessar de fronteiras não crie, para mim, os terríveis elos inadequados que havia na outra universidade, em que todas as intimidades eram partilhadas e entre o campus e a casa dos professores não havia mínima separação.
A diferença, nestas partidas, a possibilidade futura do reencontro, ainda que virtual: estão todos vivos. Ao contrário de Leandro, que se foi para sempre. Odeio as coisas eternas, sempre odiei. As coisas boas, que a gente quer que demore, têm seu tempo certo – sim, podem ser abreviadas pela casta de pessoas ruins que adoram destruir a felicidade alheia, mas no resto das vezes, duram o que devem durar e viram gostosas saudades.
A gente reaprende a viver após um luto. Parte da gente vai junto com quem nos deixa, quando esta pessoa tem significado para nós. O real disso tudo é que tudo passa. O tempo passa, a gente passa... A gente passa, o mundo continua... Nunca fui muito de ter o luto besta, de achar que não posso sair, ver gente, andar... Meu luto me deixa muda. À medida que falo, escrevo, me comunico, sei que as coisas estão andando, mudando. O afeto que a gente sente não muda, mas a gente vai se adaptando e vivendo – vejo que as saudades profundas são formas terríveis de luto.
E em resposta a quem muito me perguntou, o Zero Dois, bem, eu nunca quis saber dele desde que a gente se separou. Isso aparentemente me contradiz, já que eu não gosto das coisas eternas. Mas terminar é para sempre, é decisão. Neste caso, para sempre equivale a NUNCA MAIS! E que assim seja.

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