Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Wedding? (Das terríveis escolhas)


Foi na nossa terceira briga realmente séria que ele declarou saber que eu era feminista. Atribuiu a isso todos os meus queixumes, todas as nossas querelas, todas argumentações, protestos e reclamações... E meu desejo de estar sozinha, de morar sozinha, de estabelecer o limite de nossas individualidades, assim como a linha demarcatória entre o que é pertença de cada um de nós, tudo isso foi reduzido a um laivo meu de feminismo. Não sei se ele tem razão, porque não vinculo as minhas coisas a um movimento político, mas pode ser que incorporei as coisas que defendo, os direitos femininos que defendo.
No tocante às angústias, não sei diferir as nossas. No plano objetivo e direto, sim: o que ele quer, eu temo; o que eu temo, ele quer cada vez mais.
Foi com surpresa que recebi o pedido sério de casamento. Mas um pedido que se confundiu com a angústia, porque ele foi feito duas vezes e quando iria haver a terceira ele expôs a angústia e me disse que sabia até onde poderia sonhar em ir comigo, que isso significava que a gente nunca iria se casar, nunca ficaria juntos por outros elos. Explicou, ainda, que as mulheres que ele amou, ele casou, porque não concebeu viver em distância de cada uma delas - e devo dizer que elas são três.
De meu lado, não concebo que as pessoas que se amam cometam o homicídio da relação indo morar juntos, casando, sei lá mais o que. Gosto do namoro, do ver e do não ver, de me arrumar para esperar alguém, do espaço de cada um, dos planos em comum e acho que se algo me encanta num casamento é somente o fato de ser a manifestação de uma escolha. Ser a mulher escolhida por um homem tem seus atrativos. Porém, para os homens isso nunca é tão sério quanto parece ao meu ego. É somente uma escolha que não exclui as outras opções - as outras mulheres, as saídas com os amigos, os dias de solteiro, as irresponsabilidades e os cuidados mínimos com a relação. Não acredito em casamento. Quem tiver a sorte de ser a exceção, boa sorte! seja feliz. Não sei onde eu enfiaria os meus desejos. nem sei que cara eu teria por reprimir os desejos do Outro, porque sempre há desejos por outras mulheres e circunstâncias...
Adoro minha liberdade de não ter que me preocupar em como vai meu filho na escola, porque não tenho e não terei filhos;
Adoro a paz de não ter um marido duas-caras, que mantém caso com a empregada, com a vizinha, com a aluna, enquanto posa de bom marido e me traz flores. Prefiro o namoro. Namoro sabe que vai acabar um dia, como tudo deve ser, naturalmente.
Casamento traz a falsa promessa de estabilidade, de assustadora eternidade, de compromisso. Para mim, na prática, o compromisso é somente da mulher.
Mas FJ descascou todas as mágoas. Acho que nas entrelinhas, me ameaçou me deixar antes do tempo, porque para ele, ou casa, ou nada!E se ficou intenso para nós, ele acha que uma coisa é suficiente para outra.
E eu, que adoro dormir sozinha; que adoro planejar verões e sair sozinha para a praia quando o dinheiro permite; eu que choro alguns outros amores passados, não teria senão angústia num casamento. Atar o meu destino ao dele, construir história mais de perto? é muita promessa, é muita coisa...
Onde eu iria esconder todos os meus diários? e os meus segredos impublicáveis? e as tantas coisas em que ele não se inclui e os sonhos de que ele não faz parte? E como dizer de que não concordo com coisa que são da vida dele? e a minha vida louca e livre? e meu tesouro duvidoso (que é a liberdade em eterno risco de solidão?).
E quando ele souber o que está por trás do fato de eu ouvir Los Hermanos após uma boa sessão de sexo? o que poderia ser, senão uma faceta de pensativa angústia
Não sei se eu tenho paciência suficiente para tanto, sei lá. Mas sei muito bem o que eu não quero.

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