Não tenho senso empresarial para relacionamentos. Desta
forma, não concebo meus contatos como negócios. Não tenho, pois, amigos
escolhidos em função da aparência da casa, nem sustento amizades que se
desdobrem em domingos na piscina da casa alheia e muito menos em função de
favores pessoais ou caronas em carros importados. Isso também me leva a não ter
deslumbramentos com os bens dos outros, nem a esboçar expressões maravilhadas
por experiências de viagens e vivências em lugares tecnicamente deslumbrantes. Limito-me
a partilhar as alegrias e as conquistas e o faço de coração. Sou muito ruim de
inveja: eis um sentimento que dificilmente me acomete. Desejo o bem, e não é
para fazer média nem para aparecer bem na fotografia: Juro que o que me importa
é o que eu tenho e o que eu conquisto. Acho justo que quem tem, ganhe ou
conquiste, algo possa usufruir o que quer que seja, sem os olhos secos da
inveja.
Vejo legitimidade nas coisas. Algumas, se é que
isso é inveja, copio e imito, como as ações de juntar o dinheiro para comprar
um carro à vista; planejar para fazer uma viagem; poupar para adquirir alguma
coisa. Não vale a pena financiar carro: não somente porque o valor financiado
dobra os custos, como também o carro adquirido sofre o efeito inverso, se
desvalorizando comercialmente à medida que o tempo passa.
Muitas coisas das invejas alheias se resolveriam
com planejamento e poupança. Porém, o que vejo é gente interesseira se aliando
aos outros que, antes de serem amigos, são somente suportes de favorecimento;
nos namoros e casamentos, idem: procura-se o lucro. Disso tenho o maior
orgulho: nunca tive um só namorado que dissesse, insinuasse ou intuísse que eu
sou, fui ou me tornei interesseira. Está aí um ponto em que sou igual a Ísis:
tenho orgulho de me sustentar, de bancar meus desejos e, ainda mais, de não
depender de homem algum e de não constituir relacionamentos em busca de
vantagens.
Já enfrentei o maior embate discursivo por causa
disso: Há um tempo me disseram que “todo homem tem seu preço.” E eu contesto,
afirmando que todo homem tem seus valores. Aqui, refiro-me aos valores morais,
espirituais, subjetivos; e concebo ‘homem’ como todo e qualquer ser humano.
Há coisas que eu nunca faria por dinheiro. Nunca!
Sei que muita gente, sonhando em comprar o que
deseja, se vende barato.
Sei que qualquer pessoa, ante uma proposta
tentadora – e não precisa ser de sexo mediante dinheiro. Proposta tentadora,
foi, pois a que tive este ano, duas vezes: a de ir trabalhar em outro país,
longínquo e culturalmente oposto, em troca de bons tostões em euros - titubeia.
Minha ex-amiga não acreditou quando repeti o Zeca Baleiro: “Eu não preciso de muito
dinheiro, graças a Deus!” e insinuou que eu dizia isso porque ganhava muito
bem, que é fácil dizer isso quando se ganha muito.
O Ex-Grande Amor da Minha Vida, além de bem
estabelecido por si só, faz parte de uma família que é dona da maior rede de
alimentos industrializados do Nordeste (e do Brasil), e nunca se furtou a me
dizer que tinha orgulho em saber que eu o amei sem saber do sobrenome deles. E
quando soube, em nada eu me parecia com aquelas pessoas que sempre o cercaram.
Depreendi o mesmo do meu outro amado, o de olhos cor-de-violeta. E destas
experiências, deduzo que também os que têm muito dinheiro se angustiam com a
legião de oportunistas e interesseiros que lhes batem à porta, que desconfiam
de amores e amigos, mas que têm bom radar para detectar este povo. Certamente
sofrem por conta da desconfiança latente.
Admito minha parte realmente interesseira: ela está
no capital simbólico. Não, não faço questão de ter amigos famosos nem
influentes, mas tenho orgulho de ter amigos inteligentes, bem formados, cultos,
com bom gosto musical, por exemplo, com os quais posso debater certos assuntos.
E gosto de gente generosa, não porque possam me dar presentes, mas porque não
ficam na mesa contando tostões ou armando vantagens para tirar de outrem. Não
me dou bem com gente de mão fechada. Também contaria os tostões se eu estivesse
desempregada, lisa, em situação de exceção, mas nestas horas nãos e arranjam
amigos para sair, é lógico.
E nem precisamos ser ricos para vivermos atrás de
um Spray Repelente de Gente Oportunista (este produto eu ainda vou lançar neste
blog), porque o oportunista tira de quem tem e de quem não tem, contanto que
lhe forneça lucro. Deste tipo, temos sempre exemplares em nosso redor.
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