Louquética

Incontinência verbal

domingo, 15 de dezembro de 2013

Tempo e modos




É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo num mês fervoroso como dezembro, que nem dá para atualizar a conversa. Tem isso de fim de ano em geral, fim de ano letivo em particular e rituais de finalização de ciclos que põe no mesmo patamar de agonias os seres humanos nas infinitas filas de supermercados, de lojas, de bancos, de carros (engarrafamento, o que é senão uma fila parada?); os desesperos para cumprir bancas de Trabalho de Conclusão de Curso; elaborar e aplicar provas, nos casos daqueles que, como eu, vão atravessar o verão trabalhando, sem férias, para compensar greves de outrora; além das aplicações da vida particular, coisas que prometemos a nós mesmos e tomamos como metas a cumprir. Em resumo, ando cansada de filas e de ocupações. Alimento a ilusão de que tudo vale porque teremos dez dias de recesso entre o natal e o ano novo.
Sempre que penso nessa perspectiva de fim de ciclo, dou graças a Deus por minha finitude. Volto a protestar contra os amigos da Vida Eterna: mas, meu Deus, como o ser humano pode ser tão louco e egoísta a ponto de desejar não acabar nunca? Tudo passa – tudo de bom e tudo de ruim. Graças a Deus!
Não se será melhor morrer num momento de felicidade ou num momento de infortúnio, numa daquelas ocasiões em que a gente chega a pedir a morte. O caso é que tudo acaba. Talvez por sabermos que tudo acaba alimentamos a ideia de que é preciso aproveitar a vida, pois ela dura pouco.
Também acredito que construímos um saldo moral sobre nossas ações, que é convertido em valores espirituais, de alguma forma, variando na acepção de cada religião ou crença pessoal. O tempo passa sempre, além do que o calendário dita. Porém, acho interessante termos uma criação imaginária sobre o tempo, o que acaba, o que se anuncia, o que termina e o que começa... Precisamos dessa ilusão para dar certidão de nascimento a uma meta, a um plano e a certidão de óbito para o que já passou.

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