Louquética

Incontinência verbal

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Bar do Rui: diga a ele que eu já fui!


As comemorações mais esquisitas dos últimos séculos incluem o churrasco noturno no Bar do Rui, em Xique-Xique.
O Bar do Rui está para os professores como o Mc Donald's está para o povo norte-americano.
O que motiva os professores da UNEB campus XXIV a trabalharem até às 23 horas? a certeza de que depois poderão ir ao Bar do Rui;
O que faz os professores ficarem com ansiedades gustativas? O Bar do Rui e suas batatas fritas;
O que nos motiva a andar em carros de inimigos, a pegar caronas suspeitas, a trincar os saltos finos dos sapatos nos paralelepídos das ruas? O Bar do Rui;
A melhor pizza, mesmo que esteja sem sabor, é no Bar do Rui.
O Bar do Rui é um estabelecimento de peso. Nós também. Abusamos em gorduras trans, gorduras que TRANSparecem na roupa; que TRANSbordam da calça; que TRANSformaram nossas silhuetas, mas que é a melhor dieta para ficar roliço, rotundo, barrigudo, gorducho, com azia e com arrependimentos posteriores que, com certeza, terão valido a pena pois a caloria não é pequena.
Além disso, todo mundo que trabalha nos mesmos dias que eu, vem de uma noite insone de quinta e trampo quase ininterrupto na sexta. Ainda assim, ficam na rua até 02 ou 03 da madrugada, tendo aulas a ministrar às oito da manhã do sábado. Mas , o que é o cansaço se comparado ao prazer de ir ao Bar do Rui? não tem melhor lugar no planeta terra.
Para ir ao bar do Rui, ninguém tem sono, nem cansaço, nem falta de apetite, nem dinheiro escasso.
Ninguém é tão pobre que não possa ir ao Bar do Rui, nem tão rico que possa dispensar uma noite por lá...Mas, quem faz sucesso no Bar do Rui, nem é o Rui, mas Romário o garçom mais amado e competente do pedaço!
No Bar do Rui comemoramos as coisas mais esdrúxulas de que se possa ter notícia: os namoros secretos que todo mundo sabe (!!!); a gravidez das virgens; a despedida de quem ainda nem foi; a chegada de quem nunca veio; o livro publicado que nunca saiu; o concurso em que alguém passou, mas que nunca será convocado e até mesmo minha aprovação no Vestibular da UEFS.
Já que é para falar de contradição, sou doutoranda em Letras e, agora, graduanda em Letras com Inglês.
Já vivi isso antes: estar nos dois extremos ao mesmo tempo.
Mas, em tempos magros em que o contrato não se resolve e eu me preparo para um funeral financeiro que poderá ser de um, dois, três ou seis meses sem a grana da UNEB, porque afinal, eu estou "DEMITIDA/EXONERADA/AFASTADA DEFINITIVAMENTE", eu tinha que voltar para a graduação e dar coerência ao meu currículo, se eu quisesse trabalhar na Bahia.
É isso mesmo: não só passei como acabei de descobrir que empatei com o primeiro lugar em tudo. Parecia brincadeira, mas tiramos exatamente a mesma nota em TUDO na parte objetiva. A redação do sujeito é que eu não sei, nem o critério de desempate, mas fiquei feliz por ter passado em tão boa classificação.
Então, comemoramos isso também lá no Bar do Rui. É claro que ninguém dá parabéns, nem coisa alguma, mas é pretexto para estarmos lá e sairmos com a barriga cheia de calorias (inclusive, o churrasco da meia-noite)para dormirmos o sono dos deuses - gordos deuses, eu creio. E os que dentre nós ainda não resvalaram na obesidade, certamente estão a caminho. Respondo por mim que, quando estou em feira, peso 57 quilos, mas ao voltar de Xique, sempre estou com 58 ou 58,5kg.
O que eu vejo ao falar de tudo isso, ou seja, de caloria e de volta à graduação, é que me tornei consequente e metódica em relação ao futuro.
Não suporto viver o hoje sem as mínimas garantias do amanhã.
Se o meu Poderoso Chefão me diz para eu não me preocupar com o contrato, fico ainda mais preocupada porque sei que se eu morrer a caminho da UNEB, para todo efeito, o Estado não se responsabiliza por mim, pois não sou mais funcionária pública.
E se o salário demorar a vir, o que é muito provável, quem vai me prover? o que vou fazer? se as contas vencerem e ME vencerem?
Volto à graduação porque não quero trabalhar longe de minha casa, nem depender das demandas, nem ser eternamente substituta: quero parar meu traseiro num emprego estável. Quero trabalhar e voltar para a minha casa, não viver mais esta vida louca de estrada eterna, sono perdido, tempo perdido, saúde sacrificada.
Também não atiro o meu destino para as mãos dos outros: não quero ser dependente de algum suposto favor de que um edital seja flexível para que eu possa concorrer. Isso nunca acontececeu nem para beneficiar gente queridinha, muito menos aconteceria para mim, em meu benefício. Portanto, se vejo os problemas, vou tentar resolver e não apostar na palavra de um ou na benevolência de outro.
Vejo isso: meu contrato acabou e se for renovado, estarei vulnerável financeiramente por tempo indeterminado. Sem terror e sem hipérbole: pode demorar muito ou pouco, mas o certo é que vai demorar. Tempos de vacas magras, racionamento de pasto.
Vou ter pouco tempo para mim, para cuidar da graduação, mas farei horários inteligentes. Demora, mas passa essa chatice de graduação.
E para encerrar, um motivinho bobo para comemorar no Bar do Rui: saiu o meu texto "De perto ninguém é normal: a eficácia do discurso científico em O alienista", na Revista Seara. Meus textos de 2009 também foram publicados pela UNICAMP nos anais de dois eventos, mas já começo 2010 com uma publicação nova e isso me incentiva a terminar o trabalho que está aqui, minimizado, e que se eu não terminar, estarei frita amanhã.

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