Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Das coisas que eu sei...


Devido às sérias restrições impostas pelo mercado de trabalho local (Bahia) que solicita, em seus concursos, formação específica em Letras, resolvi desenrolar este nó de meu currículo híbrido (história/Literatura)e prestar vestibular para voltar a estudar na UEFS.
Não me preparei, mas coloquei minha presunção na bolsa e segui para as provas. Estou aqui para rir disso: ao corrigir meus gabaritos de Literatura e de Inglês, tive apenas 11 acertos em cada disciplina. Veja a situação: eu, doutoranda em Letras! atestado de burrice já!
Eu nunca acertaria aquelas formulações, loucas, objetivas...até esqueci de colocar título na minha redação, que tratou do mesmo tema de minha dissertação de mestrado: a solidão. Na verdade, solidão em tempos de internet, os prejuízos das relações reais em relação às virtuais, blablablá.
Mas eu estou aqui para tratar de outra coisa, chamada distorção perceptiva: acertei 17. Isso: dezessete questões dentre as 20 de História. Pior que isso? tive o melhor desempenho de matemática em todos os tempos of my life e, com Biologia, não foi diferente.
Mas eu não sei Matemática e os números apontam que eu sei Matemática na mesma proporção em que sei Geografia.
Não vou fazer joguinho besta, não: eu sei que não sou burra, eu tenho boas leituras...meu ego está inquieto com a possibilidade de me desclassificar por causa das coisas que eu não assinalei nos quadradinhos da redação ou pelo título negligenciado e, sobretudo, estou aflita pelo meu índice medíocre de acertos.
Eu adoro estudar e adoro tirar notas boas. Odeio mediocridade! agora, eu que aguente!
E como são as coisas: caiu uma questão lá de Literatura em que se pedia para apontar dentre os trechos reproduzidos de Jorge Amado, a marca de seu lirismo.
Pensei, pensei e vi lirismo onde um técnico em formular provas de vestibular não veria. Aí vesti as roupas dele, segui um provável raciocínio e pluft! acertei a questão!
Agora, olha que coisa mais linda:
"A vida senciente é atraída pelo sexo e pelos alimentos porque, amando e devorando, a vida se conserva e se amplia. Nem todas as espécies, no entanto, precisam se reproduzir. Em todas as que necessitam dela, o sexo é uma parte crucial do processo de transformação de energia pelo qual, deleitando-se, as espécies preservam e aumentam sua complexidade neste cosmo impregnado de energia." (MARGULIUS; SAGAN, 2002, p.11).
Fala sério! eu achei lindo!
Este é um enunciado de Biologia, mano!claro que eu acertei geral a questão, não é? afinidade! e não estudo Biologia desde os idos de 1993...
Esclarecendo: senciente é todo ser que tem a capacidade de experimentar o sofrimento (logo, ser humano, ser não-humano).
Veja isso de mostrar que a gente não quer só comida, mas quer comida e sexo, universalmente.
Como todos sabem, eu adoro, eu admiro, eu defendo e acredito nesta maravilha chamada ACASO. assim, para referendar minha simpatia com a prova de Biologia vou citar outro caso:
[...] podemos dizer que a teoria da evolução por seleção natural envolve o acaso e a necessidade. O acaso aparece na aleatoriedade do processo mutacional de geração de diversidade. A necessidade, no processo de reprodução diferencial dos indivíduos mais bem adaptados ao ambiente [...](PENA, 2007, p. 84)
Eu não sou darwinista não, gente, mas admiro quem admite a força do acaso. Nada é mais irritante do que o povo paranóico dizendo que "está escrito", como se nós estivéssemos amarrados ao destino, como os gregos supunham. Nada está escrito, tudo é aleatório. Chega de fórmulas mágicas e da idéia besta de justiça entre causa e efeito. Que nada! Quem acha isso nunca deve ter conhecido o Brasil e suas impunidades ou, ao contrário de mim, nunca viu uma pessoa escrota se dando bem e enganando todo mundo. A vida não é novela não, bobinho, com punição dos vilões no último capítulo...vai esperando!
Acertei esta questão também. E tenho outras passagens desta mesma prova em que vi tanta poesia, vi tanta Filosofia e aplicabilidade plural que eu nem sei dizer o quanto!
Mas ficarão para uma próxima as outras passagens. O que conta agora é essa distorção perceptiva que, através de meus números de acertos, dizem o que eu sei e o que eu não sei. Não creiam: não sei nada de Matemática; de Química, sei que as enzimas se reproduzem "umas en zima das outras" - kkk! - de Biologia, pouco sei; de Física só conheço as delícias do "atrito entre dois corpos"...e nunca saberia História mais do que sei de Literatura. São só números.
Coloquei esta charge acima, questionando o simulacro, porque ela tem muito a dizer sobre o mundo das aparências e sobre as distorções (ora, que é bonito parece artificial? o irreal parece mais expressivo que o real?)...

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