Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Só o passado


Há quem não se reconheça ao olhar para o passado.
Há quem estranhe certos personagens que o tempo transformou em passado.
Belchior cantava que "o passado é uma roupa que já não nos serve mais". Acho que há uma parte do passado que vai se transformando em saudade e outra que a gente dá graças a Deus por ter ficado para trás, por ter se tornado passado.
Um ex-namorado meu que não me deixou saudades e que me fez questionar o passado andou exumando nosso tempo de convívio.
Ora, mas que coisa esquisita!
Temos curiosidades em saber como estão as pessoas que não vemos há tempos,mas passado é um tempo sem retrocesso. Aliás, a vida não tem retrocesso.
Ele disse de nossas paridades e outros traços de afinidades culturais e intelectuais. Interessante que a gente gosta de quem é parecido conosco, embora argumente que os opostos se atraem...ter coisas em comum pode ajudar sim, num processo de identificação, tanto quanto estar com o oposto pode trazer um efeito contrastivo de complementaridade ou, simplesmente, a gente pode fugir de quem seja completamente diferente de nós.
Ele ainda me disse que vivemos uma história juntos. Sim, vivemos e esta história agora é morta.
Não sei por que ele chegou à tardia conclusão de que temos tudo a ver. Digo, porém que tivemos e não temos mais.
O tempo tirou o meu encantamento por ele. Da última vez em que eu havia visto R, o tempo tinha levado boa parte dos cabelos dele, tinha levado o meu desejo de manter contato e o havia transfigurado num desconhecido, desfigurado a silhueta dele numa rotunda barriga a se prenunciar sob a camisa: já não era ele, mas aquele outro em que o tempo o transformou/transtornou...
Neste dia, aliás, noite, eu estava saindo do cinema com uns amigos. Ele passou por mim com a namorada dele, mas não me reconheceu. Eu viajei em seguida e o ônibus em que eu estava sofreu um brutal assalto a caminho de Xique-Xique. Era o último dia do mês de agosto. Tem uma aura negativa nessa associação que faço, pois que ligo um evento a outro e reconheço isso
Nunca esqueci que ele faz aniversário em 17 de setembro e imagino que isso tenha algum significado ou represente que ele significou muito para mim. Foi. O problema é que foi, não é!
Ele faz parte das minhas lembranças do tempo da graduação na universidade e talvez ele confunda este apego a um tempo determinado e suas circunstâncias com este desejo besta de me ver.
Definitivamente, esta pessoa não me interessa.
Não irei ao encontro dele. Não quero saber do hipócrita reconhecimento de que ele me magoou - ah, magoou? eu também não esqueci não.
Mas, por que será que deu na idéia dele de vir me procurar, de me investigar pela internet, de escrutinar minha vida? que idéia é esta?
Não tenho muita habilidade para ser estúpida, agressiva ou indelicada e às vezes não consigo ser direta, mas educamente já mostrei que não tenho interesse em reatar nenhum laço, não me interesso por ele de forma alguma e, para não deixar passar, nunca esquecerei que ele envidou todos os esforços para me separar de uma pessoa a quem eu muito amei.
A memória que ficou para mim foi destas coisas, das coisas ruins. Certamente o referencial dele por mim é outro, mais positivo...
Como disse Lulu Santos, "Só o passado rondando em minha porta feito alma penada!"

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