Louquética

Incontinência verbal

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Nos braços de Morfeu


Tenho o sono leve, tão leve que acordo se uma pena cair no chão.
Se viajo à noite, dificilmente durmo. Dormir, para mim, é um protocolo: requer tranquilidade, silêncio absoluto e certa escuridão.
Durante quase sete anos completos, sacrifiquei meu sono no Corpo de Bombeiros. Desta época herdei uma sensibilidade ainda maior no dormir.
Claro, se alguém toca os meus cabelos, induz meu sono. Tenho também este ritual de ser "posta para dormir", como as crianças que precisam de ninar, de um sonho encaminhado na segurança de um companhia carinhosa, que nos vigia o sono e nos protege dos pesadelos.
Também não durmo sem rezar: gosto de manter as pazes com o meu anjo da guarda, de trazer elementos pacificadores para esta experiência que tantos descrevem como sendo próxima da experiência de morte, porque nos desligamos do plano material imediato.
Gosto de dormir e a necessidade do sono está aliada ao prazer de dormir.
Sei que tenho posturas antipáticas por ficar com um ódio irracional das velhinhas que ficam ouvindo música no ônibus e cantando pela madrugada a fora, me empatando o descanso, já que não considero que dormir sentanda seja dormir.
Tenho desejos atrozes e violentos de comete um homicídio contra quem perturba meu sono.
Raramente durmo no quarto da Casa dos professores que eu denomino como Ginecocracia. O motivo? acho as mulheres barulhentas. Não tenho saco para dormir em aglomerações, embora, durante o tempo em que esta referida casa andou povoada de fantasmas e de acontecimentos paranormais ou fora do normal (o diagnóstico nunca saiu) até que eu me submeti a dormir por lá.
Tentei dormir de novo lá, nesta sexta de manhã. Afinal, só havia duas mulheres na Casa.
Primeiro foi aquele barulho esquisito de carro velho enguiçando na ladeira. Não era carro, era o ronco da colega.
A outra coitada, que chegou de viagem comigo, comentou: "M. tem um sono pesadão, hein?". Concordei constrangida pelo barulho e já antevendo a impossibilidade de dormir.
Finalmente fez o silêncio.
Eu vinha de um forte chá de erva cidreira e duas drágeas de passiflora, porque tive acessos de insônia há uns dias, ou melhor explicando: o sono vinha, mas eu ficava excitada pensando em problemas e pensando em coisas que eu deveria ter dito e não disse, em coisas que eu esperava e não vinha e numa série de coisas que começaram a ocorrer depois da manhã de terça de carnaval.
Depois do silêncio e de muito me revirar, penso que dormi.
a paz não durou muito: veio o ruído de sacos plásticos remexidos; veio o rangir da porta, 1, 2, 3, 4, 5, 6, vezes aberta e fechada. E minha paciência foi embora.
Vendo que minha paciência foi embora, fui embora também: toda humilhada, catei meus panos de cama, com um ódio indescritível, com uma raiva infinita, contida pela educação de dizer: "Gente, desculpa, na boa, não dá para dormir aqui".
Lá fui eu, neste calor insuportável, me trancar no outro quarto. O lucro? 02 horas de sono.
Achei que a colega que havia chegado comigo tinha a ver com o abrir e fechar constante da porta. Mais tarde ela declarou: "Você viu o que aconteceu hoje de manhã?" e citou o caso do barulho dos plásticos, da agonia do fechar e abrir da porta e disse: "Eu desisti de dormir".
Coitada, passou de cúmplice a vítima: eu lá, achando que ela estava em dupla com a moça barulhenta.
Durante o mestrado eu dizia: "Não existo antes das nove da manhã" e ratifico que o horário de funcionamento da Mara é de 09h às 22h - fora desses horários, não existo.
Desligo todos os telefones para dormir e não atendo á porta de cara remelenta.
Odeio visitas inesperadas e talvez por isso eu seja temerosa acerca de "surpresas".
Quando eu estou dormindo ou estou acordando e aproveitando meus instantes de preguiça para me revirar na cama e me aparece uma certa amiga que adora fazer esta surpresa inopinada, de manhã, juro: se eu tivesse um bom advogado de defesa, mataria aquela criatura.
Gosto de estar em paz, nos braços de Morfeu, aproveitando o sono, o sonho, a plenitude do descanso.

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