Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fora de controle


Eu estava tão em paz com as minhas decisões. Aí me vem uma ameaça para desestabilizar minhas convicções.
Fico quietinha, na minha, na minha casa: eu e minhas decisões, eu e minhas dificuldades, eu e minha vontade de não precisar nunca mais voltar para onde eu sequer quero ir, eu e minhas convicções; eu e meus planos para resolver as coisas; eu e meus desesperos; eu e minhas conclusões; eu e minha rinite que me deixou de molho a Semana Santa inteira...
Aí lá vem ele e sua perfeição.
Ele vem, com aquela hipnose que desafia minhas decisões, minhas certezas, meu bom senso, meu senso de auto-preservação...ah, lá vem ele!!!
Ele nunca vem sozinho: ele vem com aquelas palavras doces, escritas e ditas ("...E ainda teve a cara-de-pau/de me dizer, assim, em tom tão educado: Oh, pero que letra más hermosa!") e eu vou resistindo, sabendo que não posso ficar feliz desse jeito que meu coraçõa idiota fica me cobrando. Coração besta, pulando igual a cachorro com a chegada do dono! É, eu tenho vergonha disso, eu pratico a auto-censura.
Paro tudo, acudo esses meus dois neurônios - a julgar pelas minhas atitudes interiores, estes neurônios já morreram! - não tem jeito: sinal de ilusão chegando.
Não precisava ser assim: ele sabe que é lindo e administra esse capital simbólico.
Convencido, mas cortês, educado, cavalheiro, lindo, simples, doce, delicado...e aquele velho problema de ser tudo o que eu queria para mim - ao passo que, também é impossível ter segurança com um sujeito desses.
Quando a gente se via na boate, minhas próprias amigas se desmanchavam para ele, outras se ofereciam. Nem dá para condenar: aqueles olhos cor de violeta, aqueles cabelos, aquela pele, aquela estatura, com a maior pose de protagonista de filme de Hollywood...ah, tão lindo, tão desejado! tão de acordo com os sonhos que a gente nem acredita que ele existe.
Mas ele existe. Eu apago, mas ele existe.
Ele sabe ser galante, ele não se exibe pelo que tem, ele anda com amigos de todas as classes, ele encanta mesmo - aquele olhar sedativo, anestésico, aquele abraço que ampara todas as dores e me faz crer que Deus está de brincadeira comigo ou que me ama muito, aquele jeito de pegar em minhas mãos... tudo que poderia ser um clichê, mas que com ele não é.
Aquele jeito de me chamar de Dona Moça, mas nunca omitir meu nome...hum, que veneno! ele sabe que esse é o mantra que eu gosto de ouvir. Ele sabe que eu não sou daquelas nojentas que chamam e gostam de chamar aos seus de "mô", de "benhê" e similares...ele nunca me chamaria assim - ele me singulariza, mostra que sabe com quem ele está - e nunca me ouviria chamá-lo assim. Por isso suas mentiras são mais verdadeiras.
Não sou ninguém para falar de mentiras com ele.
E eu perdi minha chance: quando a gente se conheceu eu tinha namorado e não acreditei que um cara daquele fosse querer rolo com uma mortal como eu. Então, não namoramos.
Da segunda vez ele me deu todas as chances. Novamente eu não acreditei na relação, eu saí pela tangente quando a coisa ficou séria. Eu menti. Menti porque eu não sabia o que fazer diante daquela pergunta.
Eu não menti à toa, eu fiz de tudo para não mentir, tanto foi assim que fiquei muda, eu fiz cara de paisagem, eu discuti os rumos da Física Quântica para mudar de assunto e fui escorregadia.
Não adiantou, ele insistiu e eu aí eu tive que mentir. Ele ficou uma fera...a pior das feras é silenciosa, não é ruidosa, não rosna nem assusta às presas. Sei disso porque sou assim também: enquanto eu reclamo, está tudo bem. Se faço muito barulho, está tudo bem, tudo sob controle. Mas se calo, é o anúncio da tempestade que varrerá a Terra e sacudirá os Continentes.
Um grande amigo meu - grande pelos meus sentimentos por ele, não pela recíproca - sempre me falou sobre dar respostas silenciosas - essas são as piores mesmo.
Não vou, claro, levar desaforos para casa - problema é para ser discutido mesmo, intriga se resolve é no bate-boca , que eu não estou aqui para ser uma hipocritazinha educada, não...mas, finalmente, quando as situações não valem nem mesmo uma palavra, tenha medo!
A melhor resposta é aquela que te alivia de engolir do que você tem para falar - não é melhor ser direto, a falar em paralelo, nos corredores, nos bares, com terceiros? esse negócio de remoer a mágoa apenas para preservar o suposto amigo, namorado, ficante, parente ou sei lá quem, em mim viraria úlcera.
Esperei a raiva dele passar, contei a verdade e perdi totalmente a credibilidade. Não sou, para ele, uma pessoa confiável. Não ofereço sentimentos confiáveis nem esboço nada que o faça imaginar que eu sustentaria uma relação confiável.
Assumo os meus erros. Não sou covarde não, porque eu acho feio não assumir as coisas, as palavras, os atos, as posturas. Aceito o castigo, mereci. Sou covarde com outras coisas que, alías, "Dessa coisa que mete medo/ pela sua grandeza/ não sou o único culpado / disso eu tenho a certeza."
Tenho tanto a aprender...tenha paciência, Thales!

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