Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vendendo o peixe


Cuidado, meninos, com este blog: um blog é um blog! E aqui você encontra verdades inventadas, mentiras verídicas, ficções da vida real, realidades ficionalizadas e muitas ficções baseadas em fatos reais. Estou vendendo meu peixe! venham! Venham! que os tempos estão difíceis e eu estou abrindo a banca, camelô de idéias loucas e pouco confiáveis.
Olha que amanhã eu amanheço vendendo cremosinho na praça porque o meu parco saber não me dá dinheiro.
Olha que eu não tenho nada, nem a dignidade da vendedora da Natura; nem a perseverança do vendedor ambulante...aliás, encarno o feiraguai e estou contrabandeando umas narrativas para fazer de conta que aquilo é uma tese.
E por falar em tese,doei minha dissertação.É, dei ao MEC, está lá no Domínio Público. Bom proveito!
Fala-se sempre disso:que a gente se trancanfia nas Universidades para ler, pensar e escrever coisas que nunca serão lidas. Conhecimento inútil e ensimesmado. Para onde é que eu ia mesmo com aquela angústia chatas das leituras poéticas? E poeta é gente chata, nunca festeja nada, vive de angústia, reclama da vida e tem medo de morrer...
E eu amava isso! Eu vivia este cemitério das estéticas certas, das purezas e das fontes inquestionáveis dos gênios ímpares da poesia. Ora, puta que o pariu!!!onde eu estava com a cabeça?
Ah, já sei, estava com a cabeça nas dores...Oh, dolores de cabeza, muchachos!!!
Por que raios eu achava que literatura era um negócio de dor? logo eu, que não quis parir por medo da dor do parto e da dor de carregar outra existência que não fosse a minha? quem foi que me enganou, hein? ah, foi algum fingidor.
Eu que não quero mais ler aquilo que um dia escrevi. Deixa lá.
Não levo em consideração a boa nota obtida, não: ela não amortizou em nada esta partenogênese. Ou foi cissiparidade?deve ter sido, né? corre ali no livro de Biologia e refresque essa memória de meia-tigela, Aretuza, que eu sei que você está lendo isso. Vou facilitar, tá? na partenogênese um indivíduo gera outro sem contato sexual, reprodução assexuada que gera organismos haplóides. Lembra? e cissiparidade é quando o mesmo organismo/ser se biparte para dar origem a outro. Voltei ao Ensino Médio agora - Oh, não! estou velha: no meu tempo era segundo Grau que se chamava isso.
Ah, certo, sou apaixonada por Biologia. Acho que por Biólogos também, mas aí é outro assunto.
Pensando bem, e falando neste troço de vender o peixe, eu bem poderia ter esquecido a escrita metódica da dissertação e ter ido vender peixe...E não é que me lembrei de Forrest Gump por causa disso? é, o protagonista abraçando a causa do seu amigo que sonhava em abrir uma empresa de pesca e venda de camarões...
O velho Forrest passou pela História ( e essa lição da graduação esta ignorante que vos fala nunca esqueceu: "A História existe/acontece independente da vontade dos homens")e pela própria história dele sem ter a menor noção do que estava acontecendo. Putz, esse filme é fantástico mesmo!
Mas olha eu aqui, após um mestrado e um caminho trilhado, sem emprego fixo, sem esteios econômicos!
Tenho um bruta orgulho de todas as demissões e exonerações que eu já pedi e até já comentei sobre a dignidade de não me fixar em empregos psicologicamente aviltantes ou ideologicamente avesso à minha vontade, que eu aprendi com a minha inimiga Carol. Aprendi! tenho orgulho disso, da lição que aprendo com os meus desafetos.
Então o caminho trilhado não me garantiu o pão...Por falar em pão, minha gente, o que eu estou economizando para sobreviver nestes tempos de salário suspenso, vocês não têm idéia.
Ah, sim, eu acentuo idéia. Poxa, eu não admito que meus amados hiatos,ditongos abertos e tritongos tenham perdido o acento (e eu, gente, que nem tenho cadeira cativa em nenhum lugar , só penso que um assento em que descansar meu magro traseiro pós-graduado iria bem num momento em que eu tenho rebolado tanto pelo meu sustento)...
Reforma ortográfica é um bicho chato que quer resolver conflitos e diferenças históricos-culturais a partir de mudanças de grafia das palavras...Como é que pode? E eu sempre penso no pinguim. Poxa, se o pinguim perde o trema vira um pingo pequeno, um pinguinho, um pinguim como se fala em nordestinês, né? isso é que é se sentir diminuído! É, vou praticar a auto-ajuda agora: se o pinguim, que é o pinguim, isto é, um animal que usa casaca em estilo black-tie, todo elegante, pode ser diminuído pela ausência do trema, sem perder sua magnitude, porque serei eu a me sentir pisada, humilhada, aviltada, derrotada, inútil, diminuída, fracassada, quase-morta, miserável, indigna, desesperada, negligenciada e menor que uma bactéria por motivos tão banais, não é?
Estava esperando o quê para o final de um texto de uma pessoa louca?questões metafísicas? discussões supremas?ah, pode esquecer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário