Louquética

Incontinência verbal

sábado, 9 de junho de 2012

Enquanto isso...


Nestes dias em que sou compelida a levar a vida um pouco mais a sério, mistura-se tudo:
Um pouco de paz e um pouco de desespero; um pouco de revolta e um pouco de resignação; um pouco de espera e um pouco de desistência; um pouco de conclusão e um muito de dúvidas; um pouco de ócio e um infinito de ocupação; um pouco de deixa estar, let it be, a aceitação das muitas angústias...
De vez em quando, aquela olhada cruel no espelho: "E quem sou eu para não ter angústia, mesmo quando tudo parece bem?"; "E quem sou eu para não ter felicidade mesmo quando tudo parece permanentemente mal?".
De vez em quando, cumpro a obrigação e aproveito o mar, já que ele está tão perto.
De vez em quando, não quero partilhar nada, apenas viver. Viver calada, me esconder um pouco das festas, porque achei coisa melhor.
Calma!Calma! Depois passa.
De vez em quando me cansa o traseiro e a memória para escrever a tese. Mas ela sai. Fico olhado isso: ela sai de mim. É, a tese é um filho - eu nunca quis ter um filho. Algumas alianças são construídas sob o medo e a desconfiança ou sob obrigações. Será que eu fiz alguma aliança sem saber?
Li tudo que eu já havia lido. Constatei que esqueci tudo que li. Preciso das bênçãos de Mnemosyne!
Os dias estão frios por aqui... Estou fria com as minhas amigas, que não entendem a relação entre tempo e obrigação, que não perdoam minhas escolhas atuais, pois o calendário acena para mim a hora de fechar um ciclo.
Quem foi o idiota que disse que "tudo que a gente joga no universo volta para nós?". Não volta nada! não volta nada de bom... talvez não volte nada de ruim, porque eu não vejo gente ruim levando o troco da vida. Tá aí, resolvi falar disso: um caso específico meu, caso enroscado, difícil, não pode ser resolvido nem por santo nem por orixá. Aí lembrei que há o Ministério Público e seus deuses falhos e imperfeitos. Resolvi apelar por milagres justos.
E enquanto eu escrevia, lembrei do meu hábito de intercalar a escrita com alguma atividade qualquer que exija movimento. Lembrei da Mamãe coragem, de Caetano Veloso e Gal Costa,"Mamãe, mamãe, não chore/pegue uns panos pra lavar, leia um romance". E sou desse tipo: gosto de passar pano na casa, de lavar minha roupa... higiene mental, cada um com a sua!

Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu fui embora
Mamãe, mamãe, não chore
Eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe, mamãe, não chore
A vida é assim mesmo
Eu quero mesmo é isto aqui

Mamãe, mamãe, não chore
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Veja as contas do mercado

Pague as prestações
Ser mãe
É desdobrar fibra por fibra
Os corações dos filhos
Seja feliz
Seja feliz

Mamãe, mamãe, não chore
Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz
Mamãe, seja feliz
Mamãe, mamãe, não chore
Não chore nunca mais, não adianta
Eu tenho um beijo preso na garganta

Eu tenho um jeito de quem não se espanta
(Braço de ouro vale 10 milhões)
Eu tenho corações fora peito
Mamãe, não chore
Não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar
Leia um romance
Leia "Alzira morta virgem"
"O grande industrial"

Eu por aqui vou indo muito bem
De vez em quando brinco Carnaval

E vou vivendo assim: felicidade
Na cidade que eu plantei pra mim
E que não tem mais fim
Não tem mais fim
Não tem mais fim

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