Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 25 de julho de 2012

"Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a Justiça!"


Ninguém pense que construindo uma tese a gente apenas repete e cola os pensamentos alheios num mosaico com as obras escolhidas para exame: há transposição para a vida da gente e uma coisa se justapõe à outra. Não obstante, minha analista já me dizia, desde a Especialização, que ninguém passa por nenhuma pós-graduação sem sofrer alterações psíquicas – se há aí alguém em dúvidas, traduzo como: não se cursa uma pós-graduação sem angústias e sem perdas da sanidade (cada um enlouquece à sua maneira), apesar dos ganhos da contrapartida.
Claro que uma vez obtido um título, a pessoa se sente cobrada. Normal. Lembrem aí dos colegas que arrastaram a graduação que deveria ter 08 semestres em 12 a 14 semestres, somente pelo medo de enfrentar o mercado de trabalho?
Quantas vezes eu também coloco na balança a minha situação e a de meus amigos chegados, bando de doutores desempregados, subempregados, desvalorizados, despossuídos e sem a menor oportunidade num circuito empregatício em que os contatos que se tem se sobrepõem às provas de competência? Comemos do mesmo pão aqui e ali. E quantos invejosos não nos atirarão à cara: “Estudou tanto, para isso?”.
Num dos livros que eu trabalho, Terra Papagalli, de autoria de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, o narrador diz: “Naquela hora, lembrei-me da célebre máxima de Santo Ernulfo sobre os inimigos: “É mais fraco? Pisa-o. É mais forte? Curva-te.” (TORERO E PIMENTA, 2000, p. 159).
Mas cá estou para falar dos meus amigos e não dos inimigos. Certo que nenhum amigo troca a própria paz pela guerra dos outros, porém, às vezes há a exceção.
Cresci cantando na escola: “Eu tenho um amigo que me ama, me ama/eu tenho um amigo que me guia/ seu nome é Jesus”. Cresci, cantei, acreditei e Ele próprio deve ter me mandado outros tantos amigos para constituir a boa galera que eu tenho. É gente espalhada pelo planeta. Nem sempre quando eu corto o dedo eu tenho a quem recorrer um curativo, mas eles são muito presentes.
Eu tenho um baita amigo, um puta amigo, um amigo que é amigão, se é que todas as redundâncias podem dar conta do quanto ele é importante para mim, solidário, cúmplice e companheiro: Ósman.
Na mesma obra, aprendi com Cosme Fernandes, o narrador:
“O que devemos fazer nas horas difíceis? Uns dizem que se deve rezar, outros que se deve praguejar, outros, mais astutos, dizem que devemos nos lembrar do exemplo dos homens mais sábios. E quando falamos em homens sábios e doutores do conhecimento, não podemos deixar de pensar em Santo Ernulfo e no seu excelente Omni Trinum Perfectum Est, que inspirou filósofos da estatura de um Calderón de Mejía e de Benedeto de Bologna. Ele nos diz que, quando estamos diante de um inimigo mais forte, devemos fazer três coisas: enfraquecer o contrário, conseguir armas melhores que as suas e chamar nossos aliados.” (TORERO E PIMENTA, 2000, P. 161).
Dito isso, meu amigo entrou numa briga grande comigo, quando eu já havia abandonado o ringue, quando eu estavadescrente de todos os recursos, descrente de minhas forças ou de um juiz justo e penitente.
Já rezamos juntos. Já praguejamos juntos – mais eu do que ele, admito -, já recorri aos pensamentos dos mais sábios, porém, mediante a intervenção do meu amigo, chamei meus aliados, consegui armas melhores e espero não só enfraquecer o meu contrário como aniquilá-lo. E uma vez declarada a guerra, sei que não se sai dela sem mínimas escoriações. Agora, estou disposta a andar no campo minado sem medo de me mutilar, porque até lá eu já levei o exército inimigo para o buraco. Vingança e justiça, finalmente, jantando lado a lado...
Recordo um grande ditador destas terras baianas, que sempre repetia: "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, a Justiça". Ironicamente, a sentença cai muito bem contra certa casta ditadora.

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