Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"Se o sonho acabou, peça um pão-doce!"



Hoje eu perguntei a Cléo se o oposto do amor era o ódio ou a indiferença. Partindo do lugar comum, ela me disse que ódio é uma palavra muito forte. E por fim, disse que o oposto do amor era mesmo a indiferença.
Não conheço quem tem orgulho de sustentar ódios. Pelo contrário, quem tem os seus, sempre esconde. Talvez seja isso: a palavra forte é a palavra cuja recepção é negativa, tipo, ódio, rancor,ressentimento, vingança... Coisas que ninguém assume.
Cléo assumiu, sem orgulho, que tem ódio. Eu também tenho, vários. Vamos domesticando, aprendendo a esconder.
Nossa conversa acabou na minha teoria pessoal das desilusões. Nunca falo disso sem pensar no Dom de iludir que Caetano e Gal Costa cantam: “Você diz a verdade e a Verdade é o seu dom de iludir. Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir?” e que eu mesclo com “Não sei bem se fui eu que me enganei Ou foi você que me iludiu”, da Céu ( na música Retrovisor).
Mas na minha teoria pessoal da desilusão, o amor não é cego. Meu amor não é cego e por isso ele é chato e crítico: conheço os defeitos de C., todos , um por um. E o outro ser humano, que só verei em 2013, se o Calendário Maia permitir, apesar de tudo que nos aproxima, tem uns conservadorismos duros de engolir.
Acabei tornando as pessoas previsíveis. Decantei o dom de me iludir. Acho isso uma pena: os melhores homens são os que nos fazem sonhar. E o que é sonhar, senão se iludir? E se eu namorasse o Palhaço certo, ele me diria: “Se o sonho acabou, coma pão doce!” e viveríamos felizes para sempre.
Acho que também não penso em casar porque perdi o dom de me iludir. Eu queria me iludir um pouquinho só, pensar que vale a pena, pensar que vai ser perfeito, que vai durar infinitamente... Mas para uma pessoa chata que é a maior crítica de si mesmo, o que esperar? Essa coisa neurótica de esperar o pior, de viver o hoje antevendo as decepções futuras, como se a felicidade de hoje importasse menos. Bem, isso é um erro absurdo: se vai durar pouco, usufrua muito, poxa! É o que tento dizer a mim mesma, sem sucesso, no tocante ao amor. Para o resto vige muito bem!
Acho que o maior problema na minha vida é amor. Amor é sempre problema, se há e pode acabar; se está bem e pode ficar mal; se está mal e pode piorar, se é demais ou é escasso, se é bom... será sempre suspeito.
Mas em minha teoria pessoal da desilusão, desiludido está quem já não sonha. Amor com os pés no chão não flutua e também não salta... Talvez eu esteja reforçando o velho preconceito que antagoniza razão e emoção, mas é algo pessoal essa tendência neurótica a crer que amor é problema.
Por cadeia associativa, vi na televisão um pavão. Não tem uma única vez que eu veja um pavão e não lembre de C. Emblemático, porque ele é leonino e eu sempre disse que também no meu sistema pessoal do zodíaco, ele é Leão com ascendente em pavão – e vaidoso, ele me pediu uma chance como um garoto do colegial: “Uma chance...Não me detone!”. O que sai muito engraçado num homem feito, pós-graduado, seguro e maduro.

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