Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Caixa preta

Não é todo mundo que sabe que eu tenho um blog. Há certas pessoas para as quais é fundamental nem desconfiarem que eu tenha um blog, até porque, se lerem vão encontrar o que eu realmente penso sobre elas. Os exemplos vão longe, desde os meus ex-colegas de farda até os meus familiares e muita gente que socialmente faz parte de minha vida. Coisa estratégica.
Acho que coisas deste tipo estão por trás da minha resistência a ter página no Facebook – não somente porque eu não vivo a glamourosa vida como também por não gosto de compartilhar certos capítulos de minha existência. Aliás, vê se pode? Tem cabimento se colocar numa rede social onde você trabalha ou trabalhou? E o rastro deixado pelos lugares e pessoas que compõe e compuseram nosso dia-a-dia?
Da mesma forma que há acesso restrito para certas coisas e conteúdos, acho que vale a identidade secreta nos blogs. Sou Mara mesmo. Moro onde digo que moro e sou muito mais verdadeira aqui do que seria numa rede social, basicamente pela possibilidade do anonimato. Semianonimato, para ser exata, mas de alguma forma não permito que certas pessoas vejam o que escrevo e se vejam aqui. O que mais acontece é o oposto: a pessoa mantém contato, me liga, achando que eu estava falando dela.
Hoje um amigo que um dia não foi apenas amigo – porque eu não sabia que gostava dele apenas como amigo, já que o contato começou com um flerte há 06 anos e eu só vi que ali só daria amizade depois de concretizados amassos e intimidades eróticas que me frustraram – veio aqui ver um caso com minha impressora.
Após instalar isso e aquilo, ele inventou de abrir meus arquivos e imprimir qualquer coisa para testar. Deu de cara com um texto do blog, bem aquele em que declaro ter mais fantasias do que barracão de escola de samba e festa de Halloween juntas. Não obstante o meu constrangimento, e hoje que a amizade é sólida e ele casou, tendo trazido a esposa para minha sala, inventou ele de perguntar se a pessoa para que eu disse que pagaria 20 sessões de psicanálise se me sobrasse dinheiro, era ele.
O caso é que respondi que não era, mas não sei não. É que não lembro!
Quando o Pitbull Problemático leu todos os meus diários eu pirei! Que constrangimento! É como se a pessoa lesse nossa mente.
Quando minha tia escrutinou gavetas, armários e fotos, eu entrei em coma psicológico, de tanta raiva. Mas decidi que era melhor revelar a verdade, admitir o que escrevi, o que fiz, o que penso, a estar com a constante ameaça na minha cara. E foi o que fiz.
No dia em que quebrei a cara e escondi as pancadas emotivas que levei, admiti para os próximos muito próximos; e quando desmascarada, depois de muito resistir admiti e acabei logo com aquilo. Acho que quem cata nossos segredos se desarma quando a gente escancara as coisas.
Há um gozo embutido em quem descobre nossos segredos e um jogo implícito de chantagens. Por coisas assim eu aconselho meus amigos íntimos a saírem do armário logo que podem. Deixa de ser segredo, deixa de ser tabu e o outro finalmente vê que a gente não esconde porque não se envergonha daquilo.
Meus segredos são diferentes: fui militar e tinha coisas que eu não poderia fazer devido à hierarquia. Será segredo eternamente e não está escrito em lugar algum; os outros são as intimidades, os pensamentos íntimos e as coisas íntimas que muito me preocuparam quando em 2006, durante o assalto em que conheci Thales, meu diário foi roubado junto com todos os meus pertences.
E tem coisa que é segredo devido à profissão: não vou querer chefes, diretores e alunos sabendo quais são minhas fantasia, quais foram realizadas, o que penso de temas que são tabus e etc., porque a intimidade e a privacidade não são apenas aquilo que a gente institui por lei ou por convenção, mas o que internamente a gente delimita como fronteira do público e do privado.
Tenho sempre que repetir que não tomo bebidas alcoólicas, que sou solteira, que não tenho filhos nem devo satisfações a ninguém para que as pessoas se toquem que por mais que eu tenha segredos, não abalam em nada a vida de ninguém: são meus.
Tem gente cujo segredo é estar fazendo concurso, porque têm vergonha do que vão dizer caso percam no certame. Outros segredos, como é o meu caso, têm a ver com as dúvidas, aceitar ou não aceitar, ir ou ficar, perdoar ou rejeitar, este ou aquele, isto ou aquilo.
De resto, carrego os segredos que não são meus: amigos de meus amigos que não são tão amigos quanto parecem, eu não entrego não. Salvo se a punhalada for resultar em prejuízo. Imagine só a minha cara numa situação dessas? Tem inimigo meu que é amigo de meu amigo. Aceito e não faço inferno.
Mas se alguém diz: não leia, não pegue, não veja, não conte, é melhor ouvir. Nem sempre é nada demais, mas é coisa que traz desconforto. Hoje meu amigo me desrespeitou e leu algo que ele não deveria, independentemente de aquele ser um texto em que há referências a ele... Nem sei se é ele.

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