Louquética

Incontinência verbal

sábado, 29 de dezembro de 2012

Rito de passagem

Passei o dia a me desviar das filas. Com isso, estou aqui sem ter comprado nada do que eu precisava.
Sinceramente, detesto filas. Se o preço a pagar por algo que preciso é estar à espera, numa fila, declino, reordeno as minhas necessidades.
Até na noite de Reveillon há filas para descer para a praia, filas de gente paralelas a mim, para pular as sete ondinhas das simpatias de todos os anos. Hoje até brinquei com minha amiga pelo telefone: "Num princípio era a fila" e depois Deus criou as outras coisas.
Estou de saída para o reveillon na Praia - fila no pedágio daqui a pouco! - e desde já antevejo o dissabor que é aturar a gritaria idiota e os idiotas propriamente ditos, que acham que todo mundo quer se sentir num podium de fórmula 1 e tomar banho de champagne. Imagine se eu vou querer me arrumar sabendo que vou demorar na rua, nas festas e desejar ser molha da champagne só pelo prazer de permanecer untada, melecada e desconfortável, possivelmente dizendo: "Faz parte!". Não, não autorizo ninguém a me molhar de bebidas. E que coisa mais sem sentido!quem gosta de champagne que beba! Esta é uma interpretação errada dos princípios da doutrina do Socialismo Etílico, viu?
Mas apesar de tudo, isso não estraga a minha festa.
A vida está difícil, os tempos são árduos, mas nestes momentos finais do ano vigente entro no clima do rito de passagem, aceito as ilusões, rezo para os deuses que sempre falham e para os que sempre vem em meu socorro, agradeço pelas graças e fico feliz só por um dia de sol na praia e pelas melancolias do caminho que eu tanto gosto.
Neste ano não pressionei os meus amigos a virem atrás de mim, nem para que procurassem as melhores festas de Salvador: já cresci e envelheci o bastante para saber que o melhor lugar do mundo é onde a gente se sente bem, onde não há a preocupação em voltar a tempo hábil para os compromisso que seguem à data comemorativa e mais que isso, aprendi que o dia 1º de janeiro é o dia mais triste do ano porque tudo está fechado, não há onde ir nem o que fazer. Já me planejei, já sei o que farei e, também, não me faltam livros nem CDs.
Preparo-me para as numerologias ilusórias e as previsões apocaliptícas que sempre acontecem no virar do calendário. Mas meu Deus é até mais forte que minha fé e sempre cuida de tudo. E daquilo que me cabe, cuido eu, em erros e acertos nas escolhas que faço e que determinam meu destino. O destino se faz por nossas escolhas.
Desejo aos meus amigos, leitores, aliados e correligionários um 2013 de decisões lúcidas e autônomas, de luz, paz, alegria, sorte e força e que tenhamos muitas histórias para contar.
Hasta la vista, baby




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