Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Legítima defesa

Pois é, chegou a véspera da defesa da tese. Véspera que não significa o dia imediatamente anterior, mas é tal como se fosse.
Chegam os telefonemas, os parabéns, as saudações... E hoje eu ouvi uma bastante interessante, quando alguém me disse que considerava a cerimônia como se considera um matrimônio. Com a ressalva de ser mais importante, porque para casar basta que as duas pessoas queiram; mas para obter o doutorado são quatro anos de esforços e investimentos emocionais para os quais o querer conta pouco ou nada. Independentemente disso, acho que devido ao momento e ao percurso longo, cansativo, desafiador, é análogo à importância que se dá ao casamento de alguém. Entendi perfeitamente as circunstâncias pessoais dos amigos ocupados, bem como outros contextos específicos, mas quem gosta de mim vai estar lá. Quem tem estima e consideração vai também, me ver exposta, ouvindo desaforos, sendo cobrada dos lapsos mais bobos e compreensíveis como a letra não digitada ou a sílaba trocada; a concordância que foi esquecida porque engoli um “m” diferencial que tornam um “compreende” e um “compreendem” e vice-versa, de modo a prejudicar a formação da frase e me tornar tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa.
É preciso ter coração para gostar de mim e assistir à exposição das falhas, os erros de raciocínio, os lapsos gramaticais, a obra que se deixou de falar, a referência imprescindível de que prescindi por escolha ou por ignorância, os erros, só os erros são lembrados. E serei somente eu contra quatro arguidores em seu papel de extrair de mim a resposta acerca de que eu venha a merecer ou não obter o título de doutora. Logicamente, quem torce, sofre. É como uma partida de futebol: quem acompanha o jogo desfruta das angústias e das satisfações da disputa; ao contrário de quem só sabe do resultado.
Só convidei quem eu queria que fosse e se alguém ficou de fora deve ter sido por lapso também. Mas, os convocados foram as pessoas que realmente significam para mim. E nem sempre a recíproca é verdadeira: tem os que não dão a menor importância e não se esforçarão em comparecer nem mesmo por uma questão de apoio e consideração. E é claro que eu me importo: apesar das tensões, é bom olhar em volta e ver caras amigas; é um gesto de carinho.
E vou me virar nas “setecentas” com as pessoas chegadas que minimizarem a importância deste momento para mim; vou fechar a cara um bom tempo para os que já vieram a uma festa de aniversário meu, mas não foram a um momento importante. A importância não está no título, mas no final de um ciclo difícil, no último passo de um caminho longo e árduo. E por isso tudo, também fico feliz pelos amigos verdadeiros, leais, legais, solidários, que desde já se movimentam para me amparar e aos poucos que vão comparecer, sem se importar que para isso percam um dia de trabalho, já que a cerimônia é em Salvador e não aqui. Acho um grande presente. Aguentar prováveis quatro horas de blábláblá sobre literatura, nacionalidade, ironia, humor e verossimilhança, realmente, exige paciência e extrema consideração. Quem não tem, não vai.
Depois, só sei que estarei cansada. Já ando cansada: meu texto de apresentação anda em círculos. Nem soube escolher a roupa, nem venho escrevendo nada por aqui pelo blog, nem arrumei as coisas ainda como deveria, mas o melhor é contar com os abraços certos depois de tudo isso. E sempre vem uma crise, uma dose de perplexidade até que a vida volte ao normal... Mas aí, tudo já terá terminado. Enfim, acabou-se a tortura!
Chama-se defesa porque as pessoas atacam a gente. Quem for, leve band-aid para mim!

Nenhum comentário:

Postar um comentário