Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Troca de segredos

Tua frieza aumenta meu desejo:
Fecho os meus olhos para te esquecer,
Mas quanto mais procuro não te ver,
Quanto mais fecho os olhos mais te vejo.

Humildemente, atrás de ti rastejo,
Humildemente, sem te convencer,
Antes sentindo em mim crescer
Dos teus desdéns o frígido cortejo.

Sei que jamais hei de possuir-te, sei
Que outro, feliz, ditoso como um rei,
Enlaçará teu virgem corpo em flor.

Meu coração no entanto não se cansa:
Amam metade os que amam com esp’rança,
Amar sem esp’rança é o verdadeiro amor.

Viva Eugênio de Castro e seus versos doces e tristes!
Nem sempre os homens vivem o que escrevem, mas os poetas nos iludem porque lhes cabe nos iludir. De outro modo, seriam apenas cafajestes.
Ah, os cafajestes: “Pegue e não se apegue”, eu diria àquelas que gostam do tipo. Eis uma frase de para-choque de caminhão que a gente deveria levar a cabo: “Pegue e não se apegue”!
Num mundo frio, os homens estão cada vez mais frios e não fazem sonhar...
Cheguei tarde em casa porque, passando pelo comércio, fui à loja, vi Beth e ficamos lá, horas conversando, mais sobre ela do que sobre mim e acho que isso se tornou um lugar comum. Sem queixumes: gosto de saber sobre ela.
Beth não tem a menor consciência de sua beleza. Ela é linda, parece uma aeromoça, uma modelo. É linda de rosto, de corpo, de modos, de coração... Mas só ela não sabe disso.
Vi também no Yahoo uns tópicos sobre “O amor é cego”, em que as celebridades formavam par com gente sem a menor beleza. Que não fossem bonitos, tudo bem; mas a distância estética ali já era aberração.
Acho que as mulheres se encantam por outras coisas nos homens, que não é necessariamente a beleza – não falo da beleza financeira, nem da sexual – mas reconheço que certas opções são desespero. Às vezes o cara é feioso, mas oferece estabilidade emocional... Às vezes as mulheres querem apenas companhia, seja com que cara for.
Quando um gato que trabalha perto de minha casa entrou na loja, dei um toque em Beth: “Quem é?”. E muito discretamente, ela disse rindo, feliz: “Gaaaato!”. E na conversa descobri que ela não conhecia ele, mas que via sempre o acompanhante, o amigo que estava com ele.
Concordamos em nossos gostos por homem, na aparência física deles. Ela disse, sobre o “gato” que ele passava um ar de segurança e de estabilidade. Depois, olhando mais, deu risada desconsertada: A aliança dele reluziu. E eu, que adoro mãos, jamais olhei as mãos dele. Nunca reparei.
Via aquele cara todos os dias, num horário determinado: 17h15min, quando eu ia à academia ou quando ia correr. Lá estava ele, no meu caminho... Lindo! Gato! Tão bom de olhar discretamente. E por ser tímida, olho discretamente e aposto que ele jamais desconfiaria de minha admiração, nem jamais cogitaria que havia duas mulheres tecendo comentários, desejando, comparando ele, bonito de frente e de costas, sob medida para nossos gostos.
Lindo, alto, esbelto, proporcional, com um cabelo lindo porque harmonioso com o rosto. Até as olheiras dele são lindas!
Saudades de minha amiga! Saudades devidamente suprimida em nosso blablablá íntimo e confidencial: contei-lhe meu maior segredo, talvez o único que eu tinha. Aliás, hoje eu derramei meu segredo para ela, procurando uma opinião, e para outra pessoa, como ameaça ou chantagem emocional, não sei. Hoje o meu segredo me incomodou.
Não contei a ela por incômodo, mas por confiança. Já não sei há quanto tempo conheço Beth. Deve ser uns 12, 14 anos...
Ela voltou para a faculdade, está no segundo semestre de Serviço Social e está insegura num relacionamento com um cara 15 anos mais novo que ela. Ela parece ter a mesma idade que ele.
Beth se preocupa com os vasinhos de veias nas pernas: o namorado pergunta se eles doem. É, pois, cuidadoso! Duas preocupações tão diferentes, mas complementares: ela quer ser bonita para ele; ele se preocupa com o bem-estar dela e aceita o que vier no pacote. Começo a gostar dele: um homem!
Ela é linda e não é nenhum favor amar, namorar e desejar uma pessoa como Beth, mas nos relacionamentos, ela sempre foi subestimada pelos companheiros até o dia em que ela terminava e eles voltavam dóceis e arrependidos.
Enfim, conversamos como adolescentes bobas com velhos sonhos em comum.
Dei maus conselhos: esqueça sua família, largue o barco à deriva e fique dez dias com seu novo namorado na praia. Se jogue! Se quebrar a cara, a gente faz o curativo – e para quem não sabe, em Feira de Santana já tem clínica exclusiva para reconstituição facial. Caso quebre a cara, vá lá!
Irene Ravache estava dizendo em entrevista à Globonews que se algo oferece risco, oferece também compensações. É isso! Eu concordo!
Falando na Irene, eu a acho linda. Vivo numa sociedade idiota em que as mulheres mais velhas não podem ser chamadas de lindas ou reconhecidas como bonitas. Logo, as que têm 60 não podem se sentir bonitas, nem as de 70, nem as de 80, porque daí em diante acham tudo ainda mais feio.
Por aqui, as mulheres mais velhas são obrigadas a ter cabelos curtos, não podem nada, não tem liberdade estética. Que pena!
Bem, vou dormir pensando nas brincadeiras confidenciais que fizeram Beth brincar: “Duas mulheres e um novo segredo!”. O namoro dela é segredo. O meu segredo nem conta!

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