Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Previsões

Meus amigos, chegados, correligionários e demais companheiros estão como baratas dedetizadas, sem saber para onde ir no réveillon. No auge dos desvarios, propõem sair à toa e ver no que dá. Aviso aos navegantes: não é preciso ser vidente para ver no que dá. Dá em fila, espera, desespero, cansaço, stress e raiva.
Imaginem que o réveillon vai cair numa segunda-feira para terça. Durante o final de semana as praias já estarão povoadas (e poluídas), as estradas já estarão cheias e as cidades estarão num movimento além do previsível. Movimento, gente, é nome educado que uso para muvuca. Muvuca mesmo, com um bando de doidos bebendo cerveja e dirigindo, com o som do carro no último volume, tocando, claro, pérolas da música brasileira como arrocha, axé do Chiclete e Sertanejo. Tudo estará cheio no fim de ano – do pedágio ao caixa eletrônico. Eu já estou é cheia dessas coisas.
Bom mesmo é o pós-natal. Eu, que não tenho labaredas saindo do meu espírito, fico quietinha em casa no natal; não gosto de confraternização que me obrigada a saudar os desafetos, nem de ceias para olhar os parentes omissos. Mas quando vem o dia 26 e o dia 27/12, tudo está mais barato (exceto roupas brancas!) e o supermercado já não tem tantas filas.
Todos os itens da ceia caem cerca de 30 a 50% e o inferno só volta a imperar do dia 29 em diante.
Partes dos meus amigos acharam proposta para ir a Porto Seguro. Eu recomendo: o réveillon lá é bom até no meio da rua. Porém, o melhor réveillon ainda depende de bons repertórios. Mas, se você é uma múmia que já morreu e ninguém avisou de sua morte, pode ficar quieto e contemplativo num canto qualquer, encostado e bebendo.
Em Porto Seguro a ‘pegação’ é geral, tem sexo, drogas e axé para todos os gostos, bolsos e crenças, e o que se faz por lá, lá mesmo fica desde que você não dê o número do telefone nem leve testemunhas. Para as meninas heterossexuais, tem uns manos de Brasília e uns tantos de Minas Gerais que são excelentes em aulas de canto (canto de muro, canto de boate e até canto de praia, encostado no coqueiro). Para o pessoal de outra orientação, sempre rolam diversões, mas já não sei dar meu aval sobre o caso.
A viagem é que é longa. Se for de avião, a passagem é uma fortuna. Mas, uma vez em Porto Seguro, tudo é possível.
Para quem prefere, como eu, ficar mais perto, Guarajuba e Praia do Forte são excelentes no réveillon, além de serem lugares organizados. Lá tem praia boa, som legal, gente bonita, gente conhecida, várias coisas para fazer e basta não se reduzir à praia que as opções aparecem: cachoeiras, trilhas, voos panorâmicos, shoppings, praia de nudismo e, em certos trechos, gente esnobe e antipática. Contudo, em cima da hora não dá certo: a Linha Verde fica congestionada e após a ponte do Rio Sonrisal, toda hora rola batida e não é de limão - o povo dá trabalho para a Via Bahia.
Mais um aviso aos iludidos: uma coisa é a Costa do Sauípe e outra coisa é o Porto de Sauípe. A Costa é toda tomada pelo complexo hoteleiro, a preços de fortuna, mas é mega-divertido, tem festas boas, hotéis maravilhosos e vale a pena. O Porto tem só preços altos e serviços abaixo do esperado.
Salvador está morta faz tempo: não me iludo com mais nenhum réveillon de lá. Já experimentei tudo e não vi graça alguma porque sem festa boa, não dá.
Enquanto o mundo gira, meus outros amigos estão mais confusos do que noiva traída e devem acabar no Beco da Off, tomando cerveja quente e esperando o Por-do-Som com Daniela Mercury no domingo, se é que vai haver.
E eu devo ir pular sete ondinhas, pedir bênçãos que não virão, receber uns torpedos de quem gosta de mim, tropeçar nuns amigos na Vila dos Pescadores, rir das pessoas que vomitam depois de tanto beberem, dançar na festa e voltar quebrada para dormir na Reserva da Sapiranga, sabendo que vão me acordar cedo para ir para a lagoa Aruá, andar de caiaque e ouvir gritos de crianças mal-educadas. Tudo previsível. Não preciso de videntes.

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