Louquética

Incontinência verbal

sábado, 29 de dezembro de 2012

Onde os lobos se escondem

Interessante a forma como a gente se relaciona com certos tipos dissimulados com que nos deparamos. De minha parte, se todo mundo gosta de uma pessoa ou a tem acima de todas as críticas, penso que há algo errado comigo se não concordo ou não me afeiçoo por ela. Examino as possibilidades de ciúmes e de invejas, vejo se realmente não sou o problema.
Conversando há alguns dias com uma amiga, para a minha surpresa, soube que uma outra conhecida com quem não me dou bem praticou crocodilagens com esta com quem eu conversava. Quem lê uma coisa dessas deve pensar: "Mulher é mesmo bicho falso; juntas, um ninho de cobras". Mas o fato me surpreendeu porque nos caso dessa criatura e de mais uma outra, eu gostava da amizade ou do que eu pensava que era amizade.
Talvez o problema seja este: a gente gostava delas. E tanto minha amiga quanto eu, cada uma a seu tempo,descobriu as falsidades, os leva-e-traz. E quem deixaria de acreditar em pessoas tão dignas, pacíficas, sensíveis e conciliadoras para creditar em gente como eu e minha amiga, que jogamos o vatapá no ventilador?nós que subimos nas tamancas! Nem eu acreditei em minhas desconfianças.
Aos poucos estou vendo que a gente se deixa iludir e se permite seduzir pelas posturas frágeis, delicadas, amistosas e aparentemente prestativas das amigas ideais que só poderiam ser ilusão já que o lugar do ideal é na ideia e no abstrato. Gente de carne e osso perde a cabeça, diz verdades, se descontrola, além de ser amiga, solidária, companheira...Gente d everdade tem defeitos e qualidades; então, só poderia ser uma flor de plástico com suas verdades parciais e doçura de aspartame, tipo de pessoa que muda cara conforme o cenário e as conveniências.
Depois que li umas linhas de um conto de Lygia Fagundes Telles, O espartilho, contido no livro A estrutura da Bolha de Sabão, encontrei não somente estas duas mulheres falsas com que minha amiga e eu nos deparamos, mas as outras que estão a se desenhar nas fendas das conveniências da vida acadêmica, que requer amizades como trampolins nas horas de decisão (coisa que sempre me faz lembrar os Paralamas do Sucesso cantando um verso de Perplexo: "...E o espanto está nos olhos de quem vê um grande monstro a se criar").
Eis o trecho do conto:
“Tão segura eu me sentia sendo simpática, cordial. Fácil a hipocrisia. Tão fácil a vida. Com que naturalidade me empenhava em conquistar as pessoas, fortalecida no meu instinto de fazer sucesso naquela roda fechada. Como era rendoso o cálculo que vinha mascarado de improvisação. Envelhecer é calcular, aprendi mais tarde. E agora, uma menina ainda — mas como se desenvolvera tanto esse cálculo em mim? Dizer o que as pessoas esperam ouvir, fazer (ou fingir que fazia) o que as pessoas queriam que eu fizesse. Já nem sabia mais quando era sincera ou quando dissimulava, de tal modo me adaptava às conveniências.”
Qualquer semelhança tera sido acerto da ficção!

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