Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Em outra direção

Que negócio esquisito é retroceder à adolescência de forma tão extemporânea. E se, pelo menos, não me incluo no rol das aberrações, estou inquieta como um adolescente que quer sair de casa. Pior: não sei para onde ir, porque estou inquieta.
Se Saturno baixou de vez na minha vida, foi para colocar as coisas fora do lugar. E está aqui alguém que assume que tem fogo no espírito, que é um ser urbano, que não gosta de comida fria nem de relações sem graça... E acho que este é o xis da questão: “sou ariano torto,/vivo de amor profundo” e não quero reatar velhos laços desgastados, sabe? E na minha cidade a frota amorosa não se renova não. Já foi o tempo em que os amigos apresentavam outros amigos entre si e as coisas fluíam, tudo se movimentava. Creio que me acostumei a ser turista e como estou com o pé na cidade turística litorânea por causa de trabalho e na outra cidade também turística pelo mesmo motivo, é capaz de eu me dispersar entre as duas.
Eu sempre levei o trabalho a sério. Mas um sério chato, de obrigações, de reputação a zelar, de cumprir as coisas. Até que não me arrependo disso, mas me arrependo de sempre voltar para casa após as obrigações. Eu não poderia ficar largada na noite, nas praias badaladíssimas dos lugares onde dou aula? Eu não podia ter negociado o meu sono na véspera do concurso da outra cidade turística e ter perdido a cabeça, a vergonha na cara e a noção na companhia que por lá descolei? Mas acho que esta é a perturbação porque F.J. foi embora e a realidade bate à minha porta: foi bom e acabou. E cá estou a repetir: a felicidade só existe para virar saudades.
Saudade é bicho arredio: se a gente alimenta, nos devora. Daí que preciso acionar o ‘moving on’ senão eu piro.
Não sei se foi simplesmente a presença do F.J., mas depois que ele se foi, vi que não amava mais o meu outro namorado mesmo. Perdeu a graça o negócio, me deu um cansaço da relação e acho que me livrei daquele medo idiota de ficar só, como se eu já não estivesse só. Infeliz é quem é sozinho e não sabe, fica aí, tapando o sol com a peneira rasgada, nos eternos quebra-galhos de falências mal assumidas.
Tem dias que a gente não ama e se sente livre, feliz da vida por não ter que chorar angústias, por não se desgastar em ciúmes e inseguranças de todo tipo...E tem dias que comemora cada lágrima derramada por alguém, por ter sido capaz de amar, por ter pago os preços dessa força grandiosa que oprime, destrói e também nos realiza. O que seria de mim se não tivesse amado? Mas o que sou depois que amei?
Acho que o ano novo está acontecendo dentro de mim, é lá que as coisas se renovam, se inquietam, reclamam mudanças...Quem diria!

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