Louquética

Incontinência verbal

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Saudade e sonhos

O lado ruim das coisas boas da vida é que todas passarão a ser lembranças. Por que a felicidade é ímpar? Por que é tão fugaz? Talvez porque a função última das coisas boas é deixar saudades. Mas não vou ser ingrata: melhor sentir saudades do que fazer lamentos. Se bem que lamento muito algumas saudades.
Fiquei tocada pelo desfecho do namoro de minha amiga. Ainda mais por que ela é o tipo de pessoa de quem de fato se pode dizer que merece ser feliz. Faz tempo que os homens só se ocupam em quantificar, em trair. Porém, quem quer ser livre deveria se manter livre, deixando livre também o seu par. Pior é iludir os outros e não arcar com os prejuízos emocionais.
Fica muito fácil presumir que as mulheres acham que todos os homens são iguais. Mas o caso é que eles agem de forma igual e se torna muito difícil acreditar que eles tenham sentimentos além do egoísmo. Nunca vivi tempos assim como hoje, em que esbarramos em homens sem coração, sem consideração, sem respeito a nada ou a ninguém. E olha que não estou falando de qualquer pessoa, mas de mulheres dignas que passam maus bocados nessas mãos torturadoras. Pelo menos o miserável do par da minha amiga confessou o delito e despachou o serviço logo. Exceção, porque os homens enrolam demais.
Talvez por pensar na vida dela e arvorar o desespero biológico que, graças a Deus, não me atingiu, mas que nela se insinua, eu tenha sonhado com um bando de gente que me deixou saudades – Quase como cantou Amelinha: “...Fez até o anonimato dos afetos escondidos/e a saudade dos amores que já foram destruídos”. Daí que sonhei com W., mas nos sonhos, sempre há Ângela e aliada dela, e o meu ex pelo meio. Sempre: até nos sonhos! E hoje eu me sinto tremendamente constrangida quando encontro com ele. Pusemos uma pedra no assunto sem sequer resolvê-lo: não achei que pudesse discutir o acontecido, não achei que ele fosse deixar de acreditar nos outros para acreditar em mim e até me reconciliei com Ângela.
Da aliada dela, o ‘destino’ se encarregou da vingança: até no jornal escrito e televisivo da minha cidade a situação foi noticiada. Eu é que nem acredito nisso: tomou o próprio veneno e se o relacionamento dela não foi desfeito, foi por obra e graça de uma providencial gravidez – que não a poupou do escândalo público.
Sonhei com F.J. Ao longo desses dias. Mas com razão concreta: soube que ele está em Feira, andei pelo bairro dele, lembrei o que ele dizia das coincidências, lembrei das noites perfeitas e do dia em que larguei ele de mão, quando ele apareceu todo quebrado de um acidente movido por irresponsabilidade. Dali carimbei o passaporte dele para o passado e dei o bilhetinho azul, porque não fui suficientemente compreensiva com o monte de confissões que ele me fez neste mesmo dia. Mas ele era excelente na horizontal, ele foi um namorado legal de um namorinho começado em minha rua, com passeio no parque e roda-gigante, com idas e vindas de quando moramos fora. Seja com influência da situação da amiga ou não, ando perturbada com a lembrança desses dois. Talvez seja Freud me dizendo: assuma seus desejos, vá em frente!
E por falar em F.J., ele tem sérios problemas com o pai até hoje e sei que ele não é feliz porque não consegue ir lá, encarar, assumir que tem raiva do que o pai fez à mãe dele, mas que ainda assim o ama. Gosto muito dele. Quando a relação é boa, até a saudade é boa.

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