Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Interdito

Depois da estada em tão longínquas paragens, tenho muito o que contar. Incrível como uma semana pode comportar tantos eventos e situações que nem caibam em poucas linhas, nem em muitas.
Vou me amparar neste meu momento pós-crise de rinite e suspeita de asma em que ainda respiro as reverberações das injeções de Decadron e do gosto constante do Koid D com o Alenia, isto é, o coquetel dos alérgicos, das alergias respiratórias que, e meu caso, foi agravado pelas exposições ao ar condicionado e a infinita chuva que cai no Amapá.
Disse dona Clarice Lispectos,em A paixão segundo G.H.(Rio de Janeiro: Rocco,1998, pp.148,149,150):
E seu reino, meu amor, também é deste mundo. Eu não tinha coragem de deixar de ser uma promessa, e eu me prometia, assim como um adulto que não tem coragem de ver que já é adulto e continua a se prometer a maturidade.
E eis que eu estava sabendo que a promessa divina de vida já está se cumprindo, e que se cumpriu. Anteriormente, só de vez em quando, eu era lembrada, numa visão instantânea e logo afastada, de que a promessa não é somente para o futuro, é ontem e é permanentemente hoje: mas isso me era chocante. Eu preferia continuar pedindo sem ter a coragem de já ter.
E tenho. Eu sempre terei. É só precisar, que eu tenho. Precisar não acaba nunca pois precisar é inerente de meu neutro. Aquilo que eu fizer do pedido e da carência - esta será a vida que terei feito de minha vida. Não se colocar em face da esperança não é a destruição do pedido! e não é abster-se da carência. Ah, é aumentá-la, é aumentar infinitamente o pedido que nasce da carência.
Aumentar o pedido que nasce da carência.
Não é para nós que o leite da vaca brota, mas nós o bebemos. A flor não foi feita para ser olhada por nós nem para que sintamos o seu cheiro, e nós a olhamos e cheiramos. A Via-Láctea não existe para que saibamos da existência dela, mas nós sabemos. E nós sabemos de Deus. E o que precisamos Dele, extraímos. (Não sei o que chamo de Deus, mas assim pode ser chamado). Se só sabemos muito pouco de Deus, é porque precisamos pouco: só temos Dele o que fatalmente nos basta, só temos de Deus o que cabe em nós. (A nostalgia não é do Deus que nos falta, é a nostalgia de nós mesmos que não somos bastante; sentimos falta de nossa grandeza impossível - minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido).

Nenhum comentário:

Postar um comentário