Louquética

Incontinência verbal

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Viagens pela casa

Tenho uma relação amorosa com a minha casa. Não é que eu julgue que ela seja a mais bonita, a mais rica, a mais completa...Ora, nada mais longe disso. É amor, sem o menor interesse, porque na verdade, agora que levantei da cama nessa madrugada para escrever porque não consigo dormir, fiquei me despedindo da casa. Antes, me despedi da cama mesmo prometendo voltar para ela daqui a pouco: minha almofada preferida, meus travesseiros amados, com meu cheiro, com marcas de outra presença que compartilhou esta cama comigo recentemente... Cama gostosa, colchão gostoso, que me deixaram sempre pensando, no trajeto para as mais inóspitas paragem onde já trabalhei, que meu cansaço seria acolhido por ela, que valia o sacrifício empreendido porque, no final, no final feliz, ela estaria ali.
Minha cama é minha história: conta das noites perdidas nas festas e em esperanças vãs por quem nunca me ligaria; é testemunha de lágrimas de dor e de insônias de ansiedade para encontrar quem eu desejava; a cama é tudo, é lençol, é travesseiro, é cheiro, é cor e estampa...Vou sentir saudades, sou fiel a ela.
Confesso que amava a anterior, de que me desvencilhei somente por desgaste do móvel. Assim eu pensava. Mentira: mudei de cama porque por mais de dez anos só me deitei nela com uma única pessoa. Houve rupturas, outros namoros e outras reconciliações, mas naquela cama só havia um outro partner, de modo que quis espantar a lembrança, iniciar um rito de passagem e seguir em frente.
Meu papel de parede azul com citações de O pequeno Príncipe eu comprei na Tok & Stock de Niterói, em 2010 e compõe o cenário do meu quarto. Poxa, como eu gosto daqui. Gosto da minha salinha onde ficam os livros e de me esparramar num sofá que é personalizado, escolhi tamanho, cor e modelo na Asteca. Tudo é meu. Não em termos esgoístas, mas no sentido particular, eu escolhi, eu tempero os cheiros da casa também.
Vou sentir falta de tudo isso.
Por outro lado,eu sei que vou sofrer, 'mas cada volta tua/há de apagar/o que esta sua ausência me causou.'
Não sei se suporto dois meses sem a minha cama. E até a geladeira, com quem tenho uma relação fria, vai fazer falta, com aquela borracha sem aderência e os enfeites que coloquei em cima.
Hoje uma amiga veio aqui em casa, à tarde. Duas horas depois que ela saiu, uma conjuntivite se manifestou em mim. O que será?talvez os olhos querendo dizer para não se cansar em lágrimas, porque desde que o avião não caia, voltarei para a casa.E vou enchê-la de regalos e carinhos.
Ontem eu estava vendo o festival de Verão pelo Multishow e, de novo,lembrei que só vi um único show do Capital Inicial. Dinho Ouro Preto era magro, lindo e elegante quando o vi, no começo da carreira. Envelheceu, ganhou músculos e continua gato (Banda de Brasília, amanhã estarei lá). Quando eu sintonizei estava tocando uma música relativamente mais recente, Algum dia - e eu gosto muito dessa música. Simples,mas traduz muito do meu estado de espírito.
Evitei as despedidas e só comuniquei o fato a um grande amigo de perto depois muitos rodeios e desvios de rotas para não tocar no assunto. Preferi assim.Também sinto saudades de quem se foi, de FJ.
'Tudo se divide/todos se separam", dizem os Engenheiros do Hawaii mas ainda posso ser beneficiada pela força do acaso.
Da mesma forma como Emma Bovary repetia para si: "Eu tenho um amante! Eu tenho um amante!", repito: "Eu estou indo embora". Temporariamente fora, mas nunca nesta vida fiquei mais de quinze dias longe de minha casa, fosse para onde fosse. Vou morrer de saudades.

Algum Dia (Capital Inicial)

Ninguém nunca te disse
Como um ser tão imperfeito
Você tem tão pouca chance
De alcançar o seu destino
É fácil fazer parte
De um mundo tão pequeno
Onde amigos invisíveis
Nunca ligam outra vez
Talvez até porque
Ninguém ligue pra você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

Faz muito pouco tempo
Aprendi a aceitar
Quem é dono da verdade
Não é dono de ninguém
Só não se esqueça que atrás
Do veneno das palavras
Sobra só o desespero
De ver tudo mudar
Talvez até porque
Ninguém mude por você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

Talvez até porque
Ninguém mude por você

Se você quer
Que eu feche os olhos
Pra alguém que foi viver
Algum dia lá fora
E nesse dia
Se o mundo acabar
Não vou ligar
Pra aquilo que eu não fiz

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