Louquética

Incontinência verbal

sexta-feira, 22 de março de 2013

Leis da atração fora da lei


Minha colega estava assanhadíssima por um certo homem. Assanhada é pouco: desde o primeiro dia em que ela punha olhos nele, comentava conosco, insinuava coisas, procurava parcerias nas opiniões sobre ele ...
Aí vieram as amarras morais: ela é casada. Ele também. Depois de hoje nós duas não o veríamos com a mesma frequência, pois acabou a necessidade do encontro de teor estritamente formativo.
Ela comprou um picolé de brigadeiro para ele. Não sabia o que fazer. Uma mulher interessada em um homem, sem saber o que fazer, sem ter mais pretextos profissionais para vê-lo, sem saber como chegar, como dizer, como pegar o que se deseja... Ela me chamou para ir junto, entregou o picolé e eu disse a ele: “Entenda como quiser, embora o recado não seja meu”.
Ela disse mil obscenidades sobre o que queria ao presenteá-lo com um picolé. Disse para mim, para nós, as amigas...E até cogitou se a perda de peso dele teria implicado na perda do tamanho do pênis. Falou misérias de teor sexual que deixariam a mais desinibida das mulheres envergonhada.
Ela fica conversando dos incômodos dos desejos, que não quer trair, mas deseja trair; que o marido não merece, mas que ela precisa; que ela não vai trair; que “Ai, meu Deus!” e todos nós sabemos que ela quer sexo com aquele homem, mas teme o que os outros vão dizer.
Não sou hipócrita e digo que trair os desejos é trair a si mesmo, com o adicional da hipocrisia. Digo que ressaca moral não compensa nenhum prazer: trai quem pode, quem aguenta. E quem não quer trair, se mantém solteiro (a).
Voltamos todos à sala. Ela apreensiva. Ele sem-graça. Passou o tempo. Acabou o que fazer ali. Ficamos na antessala. Sai gente, entra gente, tudo a se esvaziar...E finalmente ele vem até nós socializar telefones e e-mails dele. Ele sai.
Ela diz: “Ganhei minha tarde!”.
Ela sai atrás de mim, em busca de apoio, cogita se ele vai ligar primeiro que ela, diz mil coisas, exultante e feliz! Penso: “mas se este desejo já se instalou; se ele habita os pensamentos dela, já não está tudo moralmente esclarecido?”. E penso, ainda mais feliz: “Ah, infinito delírio chamado desejo!”

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