Louquética

Incontinência verbal

terça-feira, 26 de março de 2013

Livros: uma paixão!


Tenho pelos meus livros um amor só comparável ao que as mães têm pelos seus filhos. Por favor, não peça que lhe dê meu filho! Nem emprestado, nem para passar pouco tempo longe de mim. Livros são tão pessoais quanto escovas de dente. O cuidado que tenho pelos meus, tenho pelos livros dos outros: quem eventualmente deixou livro em minha casa, pode voltar; ele estará aqui, são e salvo.
É um constrangimento quando alguém visita minha estante e pede um livro emprestado. Não sei me separar deles. Até FJ me pediu um, implorou, fez promessas e quando estava indo embora constatou que eu o repus na estante.
Recentemente recebi um livro pelos correios, mandado por meu amigo Ósman: O cânone Ocidental, de Harold Bloom, livro que cito, que conheço, mas que não tinha senão em xérox, já que não se acha em qualquer esquina para comprar. E viro aquela menina da Felicidade clandestina de Clarice Lispector, sou uma mulher com seu amante, folheio, pego, leio, revejo, reconheço, escrutino...
Em meus livros, acho uma honra colocar meu nome. Gosto de riscar os meus livros com resenhas paralelas, com conversas entre o conteúdo e a minha compreensão. Não gosto da coisinha anódina do livro sem qualquer impressão do seu dono.
Não sei como se compram livros usados sem uma assinatura, sem o registro de posse, porque é um prazer assinar meu livro, a pertença do tesouro que me cabe. Meus livros são personalizados, personificados, até porque encontra-se muito de mim neles, desde uma marca acidental de batom até tickets, anotações, fitas, tudo dentro do livro ou no livro, porque gosto de grifar, de pontuar, de conversar com o livro.
Se não escuto direito o que ele me diz, tento ouvir de novo aquela voz e interpretá-la. É assim com teoria e com ficção: se não entendo é porque não ouvi e se não me fiz presente no livro, ele não se faz presente em mim – falha de comunicação a lamentar porque nossa relação só dá certo quando a gente se encontra num espaço de interação e trocas.
Agora ando mega-ocupada. Não sou dessas pessoas frescas que se fazem de popstar da escrita e argumentam que quando estão felizes não escrevem, pois a escrita é fruto da dor. Ora, que povo fresco e cínico!Dá asco lembrar do meu amigo e poeta chegadíssimo, ao telefone, com outro ser da espécie, a dizer que "Ah, eu tinha o que dizer; o poema estava em mim, estava para sair, passei a noite inteira acordado, mas a Inspiração não veio!". Essas coisas aí, só o Rivotril explica, porque eu não entendo não.
Aliás, vou deixar de ser cínica e admitir:eu sei muito bem o que é isso. Pior é que estudando descobri que casos como estes são analisados na teoria da literatura contemporânea. E posso assegurar que tais frescuras extravasam o plano da construção da persona poética e estão com pés fincados na construção da imagem do escritor. Parece redundância, mas a separação entre o autor e o escritor são assuntos estudados hoje em dia e apenas revelam que há um conjunto de procedimentos adotados para edificar a figura do escritor, inclusive a preocupação com o pós-mortem, com a imagem que ficará, com os passos para o cânone.
E eu, que sou de carne, osso e ectoplasma, 'meu rei',escrevo quando tenho tempo. Assunto eu tenho todo dia, mesmo que sejam os mesmos. Se algo não entra aqui é por causa da censura, de todas as censuras: desde a que se refere ao politicamente correto e que me impede de chamar de escroto quem é escroto ( seja ele negro, judeu, pobre, gordo, gay, viciado, suburbano, iletrado, ignorante, etc.); até as censuras de ordem moral sexual que me impedem de falar que eu muito lamento este período chato em que não posso usar meus arsenal de sexshop com ninguém, já que tudo anda na mais chata normalidade... E falando nisso, às vezes, quando fico entendiada com as coisas e estou num shopping, num lugar comercial, e minhas amigas me ligam interpelando como estou, se vou demorar, se vou ficar por lá, procuro um cantinho discreto para falar e costumo responder: "Não. Não vou ficar aqui. Melhor ir para casa me masturbar e dormir!". Mas uma coisa dessas nunca viria para uma postagem deste blog, por questões de vigilância e censura.
Se não houvesse censura em mim, eu seria menos tímida também: estou com o telefone de R. há dias - obtido após eu ter cedido a meio mundo de chantagens acadêmicas do meu primo, que me fez fazer dois artigos para ele , quer dizer, começar o artigo, arrumando a bagunça teórica e a formatação; - e não tenho o pretexto certo para ligar. Eu poderia dizer: "Oi, R. Liguei porque eu quis.Porque eu quis ligar. Porque eu quis você por perto!"
Se, hipoteticamente, eu não fosse tímida e não houvesse a censura interior eu ligaria na lata e diria o que quero. E o que quero, não vou dizer, mas dá para imaginar com uma boa dose de possibilidade de acerto. Aposto que ele não quer nada diferente do que eu quero... Mas tem aí o componente do respeito e não apenas das formalidades sociais: não quero ser desrespeitada, nem mal interpretada. A linguagem direta funcionou muito bem com FJ porque a gente já se conhecia muito bem. Bom, lá vai a confissão: eu sinto uma falta imensa de FJ. Todos os dias, penso nele. Todos os dias penso em como foi bom cada dia com ele e torço para que um dia ele volte a morar aqui. Com ele eu podia brincar e assumir que tenho mais fantasias do que barracão de escola de samba.
Se é verdade que tive namorados e rolos com certas esquisitices, não nego que as minhas relações mais duráveis foram com gente conservadora, ortodoxa e repressora. E daí, ficam as fantasias à espera de quem permite e se permite.
Bem, mas esta postagem começou em livros e veio parar aqui, de modo que sou eu que tenho que retornar aos livros porque preciso voltar a estudar.
Faço pausas mesmo, quando posso.
Fiz também minha pausa do sábado e aproveitei ao máximo o show da 80 na pista, que foi ótimo. Fui sozinha, me diverti sozinha, voltei sozinha, dormi sozinha e tudo foi bom! Minhas amigas estavam indispostas para a noite, outras enrolaram e uma estada doente. Como eu queria ir, fui. Não tenho medo de Bicho-papão de boate, muito menos de Bicho-Papão de casa noturna feirense. Eu que sou o Bicho-papão: tenho três livros para devorar agora e eles me esperam na sala. Lá vou eu, torcendo para a gente se entender!

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