Louquética

Incontinência verbal

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O café de amanhã


Tomei café com ele ontem, ao sair do shopping. Café bom e feliz, sabor de reencontro com o meu amigo. Às vezes ele interpreta mal nossas afinidades, supondo que elas sustentariam um bom relacionamento amoroso. No fundo, eu queria saber isso: será mesmo que essas pessoas que são nossas amigas, que são afins conosco, que têm paridade cultural, intelectual e política, será que seriam bons pares amorosos?
E se não forem bons pares amorosos esses sujeitos com os quais tenho afinidades, sei que a distância cultural me afasta dos candidatos. Difícil namorar um sujeito bronco! Diferenças socioeconômicas a gente negocia... Diferenças intelectuais são difíceis de superar.
A gente se parece mesmo: da aversão ao álcool, ao gosto por cinema, por literatura, por trilhas sonoras da vida real. Se esta fosse a tampa da minha panela, tudo fecharia direito, mas não seria esteticamente adequado: aconteceu de eu gostar dele como amigo. Aí a gente muda os planos divinos ou eterniza a afinidade porque a amizade é bem mais durável que o amor.
Nunca reparei, porém, se ele tem o coração cheio de mágoas como eu. Nesses dias recente em que estive com Ilmara, ela relembrou o que eu disse ao chegar ao campus: “Se alguém tiver algo a me dizer, me diga, porque prefiro a verdade. E não costumo perdoar quem me magoa!”, que ela interpretou como se eu estivesse a dizer para tomarem cuidado comigo, para não me magoarem... Com o tempo ela viu que não era uma escolha minha: eu sou assim, não consigo costurar laços e vínculos com que foi falso, com quem me magoou. Para ser bem sincera, geralmente eu ‘apago’ essa pessoa de minha história, isto é, não escrevo, não mando lembranças, ignoro tudo, sepulto a pessoa. E fico constrangida se me perguntam por alguém que caiu no meu rol de esquecimento.
Há um esforço em criar consensos, em determinar que todo mundo deve perdoar, fazer por viver, trocar sorrisos... Para mim, não dá: por vezes até sigo gostando do amigo falso ou do colega de trabalho que fez infernos contra mim, mas aquele amor de amigo com traços de mágoa, da certeza de que naquele lá eu nunca confiaria, ou que não vale a pena a aproximação. Por isso digo que realmente, não perdoo. Se houver situação social que force o convívio, sou cortês, mas distante – também não mando convites de amizade pelo Facebook e muito me preocupa que a máquina tecnológica fique a sugerir amizades com gente que já é inimiga, mas amiga dos meus amigos; e oxalá teria o programa enviado convites em meu nome a gente já excluída de minha vida?
Juro: nunca abri uma página de Facebook de inimigos meus ou de gente já eliminada de minha vida. Não tenho o menor interesse, se casou, se separou, se morreu, se se deprimiu, se ganhou na loto ou se foi homenageado pelo governo norte-americano. Para mim, morreu e nunca mandarei flores.
Queria que a recíproca fosse verdadeira. Mas o que poderia ser verdadeiro num inimigo meu, se todos que assim eu classifiquei foi por motivo de flagrante delito de falsidade contra mim?
Namorei homens diferentes de mim. Já são diferentes de mim por serem homens. Mas eram diferenças boas, não eram distâncias insuportáveis, distância ideológicas como as que haviam entre mim e Lee, por exemplo; coisas inegociáveis como as que cercaram minha vida com C.
Preciso tomar mais café...

Nenhum comentário:

Postar um comentário