Louquética

Incontinência verbal

domingo, 7 de abril de 2013

Outras faces da festa


Se há uma coisa que, mesmo passados tantos anos, ainda me deixa consternada e estarrecida, é a postura de múmia das minhas amigas de Feira de Santana. Nenhuma delas nunca sai. Ontem, então, foi Raquelle que me deixou surpresa porque após me perturbar com telefonemas, torpedos SMS, recados no Facebook e etc., no maior fogo para ir ao Antiquário comigo, ver o show da 80 na pista, articulando, negociando e afirmando a ida, esperou que lá eu chegasse para me mandar um torpedo, dizendo: ‘Poxa, amiga, amoleci’.
Fiquei sozinha na festa, mas não fiquei sozinha na pista porque a gente acaba formando um bando que vai aos mesmos shows, é o mesmo público ou que é fã da banda ou que é frequentador do lugar. Assim é que sem um falar com outro, a gente se conhece. Para minha pouca sorte, mais uma vez acabei conhecendo foi mulheres.
Ela, Suzanne, estava na mesa ao lado da minha, foi solidária e ainda falou: “Isso! Você é igual a mim: se quer sair, sai – com ou sem amigas!”. E daí que eu já havia reparado que no show lá do Botekim o rapaz que ela namorava, estava com outra. Neste show, a história se repetiu e ela me falou da dor-de-cotovelo, que ele era cheio de mulheres e que ela resolveu dar basta.
Disse também que não tinha nada para provar para ele, por isso ia ficar exatamente onde estava, que era até bom vê-lo com outra, porque assim espantava os últimos laivos do afeto do amor contrariado.
Na aula de sábado minhas alunas queixavam-se aos montes da cafajestagem dos homens. Dizem preferir o rótulo de encalhadas ao de cornudas, traídas – ao que eu complementei com meu relato próprio: “Não há solidão pior que a companhia de um homem escroto”. E é o que eu continuo achando.
Parece que há uma massa de mulheres assumindo o peso de estar só. Preferem isso às noites mal dormidas à espera de quem não vem, pois foi dormir com outra; preferem os custos da solidão a ter que viver relações insuficientes. E disso concluo que é parecido com o magistério: em gente que alcança a nota mínima, apenas para constar, para passar de ano... Porém, não reteve conteúdo, não gerou conhecimento e não alcançou proveito real de aprendizagem. Há relacionamentos assim, mantidos para constar, para evitar o momento de encarar a solidão.
Se uma mulher heterossexual chega até outra, por solidariedade frente à solidão aparente e coisas afins, por que os homens já não têm iniciativa alguma? Eu já disse que se você não é loira e linda, dificilmente vai encontrar um marido na balada. Porém, nem companhia se acha mais, os homens não convidam para dançar, não flertam, não arriscam, não investem. E eu, que não quero namorar maconheiros sem futuro e sem bom gosto; eu, que não quero garotos-problemas em minha vida; eu, que não quero homem inseguro psicologicamente dependente da mamãe e nem estou disposta a negociar o resto dos meus dias ao lado de quem não tem competência sexual, vou ficar sozinha até o dia do Juízo Final. Não adianta pegar o quebra-galho.
Porém, aqueles sujeitos para os quais as mulheres voltam olhares sexualizados, os que são desejados para sexo e nada mais, estão desenvolvendo a percepção de que é possível constituir um respeitável pacto de ‘sexo e amizade’. E disso todas elas falam (e eu endosso): companhia sexual é necessária e faz falta.

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