Tenho várias amigas,
mas duas em especial, que adoram dar satisfações a seus respectivos pares.
Adoram a cobrança sobre onde estão, com quem estão, o que fizeram, etc., e se
comprazem nisso sem a menor vergonha. Assumem adorar o grude – gostam de grudar
nos outros e que grudem nelas.
O que me parece um
sufoco, para elas, significa um fetiche, atenção, prazer...
Não tenho essa
natureza. Por sinal, qualquer coisa me sufoca, me afugenta.
Tem uns malucos,
onde se incluem muitas mulheres, que defendem a submissão da mulher.
Não pensem que é a
submissão política (e o que não é político nas atitudes humanas, né?), é a
submissão padrão mesmo, da ‘mulher sábia que edifica o seu lar’, é
subserviente, está a serviço do homem, defende o casamento com unhas e dentes
mesmo que ele não valha nem o esmalte com que pintam as unhas...Elas acham que
a mulher atual “perdeu a essência” e isso não lhes cheira bem.
Quando traídas,
culpam ‘a outra’, como se o homem, pobrezinho, não tivesse escolha, não tivesse
saída, fosse indefeso nas garras das sedutoras oferecidas, uns coitados que não
podem dizer ‘não’.
Elas se ajoelham
para o sexo oral, em sinal de submissão, mas não têm reciprocidade. Casam com
esse grande homem que sexualmente não faz nada pela mulher e guarda o melhor do
sexo para as amantes.
Mulher sábia engole
sapo. Engole outras coisas. Adoece sexualmente e não sabe como isso aconteceu.
Que fique claro que
não é por ser mulher que a pessoa defende as mulheres, nem deseja igualdade
entre as partes.
Acham que é assim,
que na natureza é assim também, que está escrito que é assim que deve ser.
Não é preciso ser
feminista, nem ser afetada ou amarga para notar que esse modelo de comportamento
machista e patriarcal escraviza as mulheres.
Aquele filme
velhíssimo, chamado “Mulheres perfeitas” mostra bem isso: o modelo de mulher
perfeita. Perfeita demais para ser normal. O final do filme dá as resposta: o
modelo é feito por homens.
Os amigos machistas
eu não saberia contar quantos são. O poeta também é e tem ficado pior.
Hão de me perguntar:
“mas você está há três anos com um sujeito machista?”. Eu vos direi: ele
encobria. Mais ainda: vivo há décadas com os sujeitos machistas de minha
família – de minha rua, da escola, da universidade, do planeta. Tenho uma tia
especialmente machista e espetacularmente hipócrita, que conta um história
ridícula de que saiu virgem do primeiro casamento, porque o marido era doente e
mal respirava. Desta tia, lembro que levantei desesperada numa noite, quando eu
tinha 11 anos, porque ela gemia e chamava o nome do então namorado e eu,
criança, achei que ele estava batendo nela...Até chegar à porta do quarto e
perceber que aqueles gritos não eram de dor...
Uma santa que
gritava alto, hein?
Esta tia se
vangloria da pureza delongada. Machista, defende um modelo de mulher afinado
com a vontade dos homens.
Então, meu poeta
veio com umas revoltas chatas, a reclamar de minha independência, do meu jeito,
de minhas respostas, de minhas atitudes e ainda teve o desplante de sugerir que
a mulher domina o homem quando, sexualmente, está por cima dele. Não teria
proposição mais ridícula, ainda mais porque eu sou mulher e não tenho como
propósito dominar ninguém – no máximo, busco domar meus instintos e dominar
meus ímpetos.
Não vejo graça em
escravizar, em mandar em alguém.
Outra coisa que me
deixou estarrecida foi quando, por duas vezes, O poeta me induziu, pedindo e
sugerindo com gestos e posturas, a colocar comida na boca dele – sim, eram
sobremesas e era eu quem estava comendo...Mas não sei dizer como isso me
espanta.
Duas interpretações
possíveis: alimentar alguém é coloca-lo na condição de criança, de filho, a
quem se dá a papinha na boca;
Outra interpretação
é a de que ele se porta como dependente, como se estivesse inválido, fosse
incapaz de se alimentar sozinho. Freud diria do mais óbvio, da fixação na fase
oral e seus desdobramentos. Todavia, só em citar isso, me apavoro.
Não gosto de gente
que não manda em si mesma. Algo que deveria ser prioridade em nossa cabeça é
isso: a vida da gente é nossa.
Você pode ter filho,
mãe doente, parentes dependentes, todo tipo de contexto que funcione como meio
coercitivo do exercício de sua liberdade e de sua vontade, mas a vida é sua.
Não é por egoísmo
mas, por mais que a gente ame alguém, antes de todos, de todo mundo, a gente
deve amar à gente. Se declinarmos disso, iremos, depois, culpar os outros por
nossos destinos.
Não serei eu a ditar
como as pessoas devem ser, mas sei muito bem que modelos eu não vou reproduzir
e a que forças não irei ceder.