Louquética

Incontinência verbal

domingo, 30 de maio de 2010

Uma Noite Com Camisa de Vênus


Nunca vi tanta gente de minha geração como no show do Camisa de Vênus: a UEFS toda parece que estava lá, isto é, nós, os que entramos na Universidade no meio dos anos 90.
Cheguei só e em pouco tempo estava ali atualizando conversas com gente que eu não via há muito tempo. E como o tempo não é sempre generoso, vi gente que eu já quis dar uns amassos se transfigurar em tristes caricaturas da velhice.
Vi meus amigos saudosistas, percebendo o peso da idade e relembrando as transgressões: Duda, nos tempos de Belzeblues, afrontando o reitor e os diretores de departamento que reclamavam do barulho da banda lá no módulo V, impedindo as aulas do noturno; nossas viagens para Canudos, para Rio de Contas, sempre com um doido - quase sempre Duda, que era de Economia mas vivia com os sequelados de História - a tirar as calças no meio do ônibus, a perturbar o povo, para ninguém dormir, a rir quando a polícia parava o ônibus devido à balbúrdia ou a visíveis fumaças de cigarros de cannabis sativa que o povo queimava até à última ponta...
Ele me disse que a filha dele tem 15 anos, agora: ele tem medo do tempo, fala dos cabelos brancos e se apega a um tempo anterior. Brinco com ele, digo que agora temos 15 anos duas vezes! ele prefere os 20.
Acho que foi uma sorte não ter feito graduação em Letras antes: se eu já era careta, comparecia às viagens e às doideiras sempre sob a vigilância do primo ou de alguém de História que gritava: "Mara, namoro só dentro do clã!" (a saber, os colegas de História não gostavam que a gente pegasse os caras de Geografia), imagine se eu cursasse uma graduação careta e heterofóbica como Letras?
Pelo menos em História tinha homem. Tinha maconheiro que não acabava mais, um bando de sequelados, mas tinha a Quinta Dionisíaca, tinha jogos no D.A., tinha umas pegações, tinha festa, sarau e outras coisas do gênero em que se pode dar fluência aos hormônios. Em Letras tem o que?
Como aluna e como professora do curso de Letras, devo dizer que o público deste curso é quieto, nunca promove uma Choppada (deve até ter medo do nome), não tem time de esporte algum (eu, pelo menos, torcia pelos Gregos - do meu curso; via o É bola e os times de Engenharia com seus nomes engraçados...e ainda nadei e joguei vôlei um pouquinho.
Ainda bem que inventaram umas festinhas específicas, tudo certinho e arrumadinho, com data certinha e bonitinha, que é o Forró e outras pequenas ocasiões de que me esqueço agora. Aliás, temos uma Faculdade de Letras que se intitula Universidade - e isso faz diferença, porque não há outro curso por lá...os que têm são apêndices do Governo, para outros públicos que não se relacionam com estes.
Vi que meus ídolos envelheceram: mais parecem os Stones. Ah, meus velhinhos roucos e tatuados...também deve sentir saudades da glória da juventude, das doideiras, do sucesso...felizes por terem público cativo e por saber que influenciaram nossa infância e nossa adolescência.
Só hoje em dia eu me dou conta da inocência com que eu cantava: "...que ficava excitada quando pegava na lança" - ah, Joana D'Arc!
Voltei de pés doendo de dançar, passei o sábado toda lerda, porque dormi pouco por conta de um carro de som que me acordou às 09h da manhã...pelo menos acabei de acabar meu trabalho da disciplina-mala do doutorado e acabei de cumprir uma das mil obrigações morais que tenho que dar conta com minha orientadora...ah, vida difícil!

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